Depois do lugar de fala, a liberdade de fala

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O convite veio assim:
Você quer escrever um texto sobre isso para o Diário? Pra ser publicado no dia 20?

Super querido, sincero e cheio de boas intenções (REAL OFICIAL)! Mas, perto do dia 20 de novembro. Para ser publicado no dia 20 de novembro. Por conta do dia 20 de novembro. O DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA. FERIADO NO RIO DE JANEIRO. Agora chama no SWAG! Pega a lente, toca o rap, segura o turbante, abusa da estampa afro, finge que é legal ser preto no Brasil para exercitar a empatia e vem comigo se debater um pouco…

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Importante dizer que: Djamila Ribeiro (MA-RA-VI-LHO-SA!) tá aí lançando livro sobre LUGAR DE FALA, trazendo luz para um conceito que se deturpou nas redes sociais. Mas, o que não se deturpa em terreno onde todo mundo sabe tudo e não vai pra lugar nenhum? Nada novo. Aí só porque “ quem falava pelos pretos hoje sabe que a gente tem voz” ficamos aprisionados no nosso único assunto possível. O racismo. COISA DE PRETO. O nosso lugar de fala. Tá na Fátima Bernardes dia sim, dia não.

Acho que tá na hora de valorizar a nossa LIBERDADE DE FALA. Porque parece que mais uma vez o branco está nos acorrentando. E será que algum dia a corrente foi mesmo quebrada? Branco também precisa entender que preto pode e deve falar sobre tudo, a partir de vários lugares. É necessário ROMPER DE VEZ COM O ÚNICO ASSUNTO. Vamos falar de racismo sim, enquanto raça vier primeiro, mas queremos multiplicidade de possibilidades e narrativas diversas também. Que os pioneiros, inventores e heróis, pretos e pretas que foram historicamente silenciados possam aparecer cada vez mais e assim legitimar a nossa ação e influência em todos os espaços.

Existe um discurso autorizado DO QUE, COMO E QUANDO PODEMOS FALAR. Até que ponto estão mesmo querendo nos ouvir? Preto não pode falar de riqueza porque nunca teve. Preto não pode falar de saúde porque não é doutor. Preto não pode falar de educação porque não estudou. Preto não pode falar de tecnologia e empreendedorismo porque não sabe nem onde fica o Vale do Silício.

A gente precisa quebrar esse monopólio da liberdade de fala. Queremos poder falar sobre todas as desigualdades sociais que nos afetam e do que mais a gente quiser! Tá na hora de branco aprender com pessoas pretas sobre assuntos diversos e não sobre regras de etiqueta humanitária.

Falta mais uma vez, o branco entender que ocupa um lugar de privilégio, e que muitas vezes ele quer nos colocar para falar, nos fazer um favor ou resolver o nosso problema. E isso acontece muito! Mais de uma vez por dia, durante o ano inteiro. Quem sempre pôde falar sobre tudo, muitas vezes não quer se colocar no lugar de quem sempre teve que ouvir sem ter sua opinião levada em conta sobre assuntos que lhe dizem respeito. Todos os dias.

Somos maioria da população, o Brasil é negro de todos os tons. Temos uma diversidade de vivências e narrativas pretas, gente muito boa produzindo todo o tipo de conteúdo durante os 365 dias do ano. Mas, aproveita que esse mês tem promoção e no dia de hoje rola liquidação! Estamos podendo falar sobre tudo que diz respeito ao povo preto e como sempre, de graça.

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Thais Ferreira, é mulher preta, mãe e cria do subúrbio. Especialista em políticas públicas para maternidades e infâncias, é filiada ao Movimento Negro Unificado (MNU) e atualmente é vereadora pelo PSOL e presidente da Comissão dos Direitos da Criança e do Adolescente na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
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