Funções e usos morfossintáticos do Quê

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Lingua Portuguesa

Em continuação à coluna anterior, vamos agora nos aprofundar sobre outro instrumento gramatical rico da língua portuguesa: a palavra QUÊ.

Volto a oferecer ao usuário com dúvidas que escreva ao serviço de consultoria linguístico-gramatical, de que sou coordenador, do Centro Filológico Clóvis Monteiro, da UERJ.

Dispomos de uma abalizada equipe. Responderemos a sua dúvida com prazer.
Nosso e-mail é cefiluerj@gmail.com
Bons estudos!
Abraços,
Marcelo Moraes Caetano

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  • PRONOME RELATIVO:

 Ocorre quando inicia oração subordinada adjetiva (podendo ser restritiva ou explicativa). É equivalente aos pronomes relativos O QUAL, A QUAL, OS QUAIS, AS QUAIS.
EXEMPLO: A menina que eu vi se chama Marta.

OBSERVAÇÃO: A função sintática do pronome relativo QUE será achada se o substituirmos pelo termo antecedente e virmos qual a função sintática que tal termo exerceria na oração adjetiva (iniciada pelo pronome relativo em questão):
EXEMPLO: Este é o menino que encontrei. (Oração adjetiva)

[O MENINO]
Encontrei [O MENINO]- Objeto direto.

 

  • PRONOME INTERROGATIVO:

Usado em interrogações diretas (com ponto de interrogação) ou indiretas. Poderá, facultativamente, ser precedido de artigo definido ou de preposições, caso a regência do verbo da oração interrogativa em questão assim exija:

EXEMPLOS: Que será feito dessa moça? – Sujeito
Que roupa é aquela? – Adjunto adnominal
(O) que você quer comer agora? – Objeto direto
De (do) que você precisa?  – objeto indireto (de que)
A que veio? – Adjunto adverbial de finalidade (a que)

  • PRONOME INDEFINIDO:

Estará sempre unido a um substantivo, que será o termo modificado, desempenhando o QUE, portanto, função equivalente à dos adjetivos. Equivale, no conjunto com o sintagma nominal em que estiver inserido, a uma verdadeira interjeição (palavra-frase):

EXEMPLOS:
Que espetáculo!
Que coisa!

  • ADVÉRBIO DE INTENSIDADE:

Estará sempre modificando um adjetivo. Pode ser substituído por QUÃO:

EXEMPLO: Que lindo dia está fazendo hoje!

  • CONJUNÇÃO SUBORDINATIVA CONSECUTIVA:

Inicia as orações subordinadas adverbiais consecutivas (que exprimem consequência em relação à oração principal). Geralmente a oração principal desse tipo de período tem palavras de intensidade como TÃO, TAMANHO, TAL, TANTO etc.:

EXEMPLO:  Ele estudou tanto, que tirou uma nota excelente (A vírgula é facultativa)

  • CONJUNÇÃO SUBORDINATIVA INTEGRANTE:

Usado no início das orações subordinadas substantivas. Pode ser precedido de preposição, caso exija a regência do verbo da oração principal (a preposição nestes casos é facultativa, não incorrendo em erro de regência a sua ausência):

EXEMPLOS:
Não quero que ela venha.
É necessário que eu estude mais ainda.
Preciso (de) que ele venha aqui.
Confio (em) que ele fará sua tarefa.

  • CONJUNÇÃO SUBORDINATIVA CAUSAL:

Inicia oração subordinada adverbial causal. Equivale a PORQUE.

EXEMPLO: Ficou em casa, que tinha de estudar.
Ficou em casa, porque tinha de estudar.

  • CONJUNÇÃO SUBORDINATIVA COMPARATIVA:

Inicia orações subordinadas adverbiais comparativas (de superioridade ou de inferioridade). Terá, em sua oração, os advérbios MAIS ou MENOS. Pode ser precedia pela preposição DE, estando a preposição, neste caso, junto ao artigo definido O:

EXEMPLOS: Ela é mais confiável (do) que a mãe.
Ele é muito mais alto (do) que o pai.

OBSERVAÇÃO: A oração adverbial comparativa tem verbo em elipse (zeugma), isto é, ocorre o verbo repetido da oração principal, com seus complementos, se houver:

Ela é mais bonita (do) que a irmã [é bonita].
Ele é muito mais fiel (do) que o primo [é fiel].
Ele fala mais bobagens (do) que o irmão [fala bobagens].

  • CONJUNÇÃO SUBORDINATIVA CONCESSIVA:

Introduz oração subordinada adverbial concessiva. Equivale a EMBORA:

EXEMPLO: Amigo que fosse, não deixou de ter raiva do companheiro. (EMBORA fosse amigo…)

  • CONJUNÇÃO SUBORDINATIVA FINAL:

Inicia oração subordinada adverbial final. Equivale a PARA QUE:

EXEMPLO: Faço votos que possamos passar em todas as provas da vida.

  • CONJUNÇÃO COORDENATIVA EXPLICATIVA:

Inicia oração coordenada sindética explicativa. Equivale a POIS:

EXEMPLO: Deve estar chovendo, que ouço um barulho muito forte na janela.
Pare de correr, que assim não terá fôlego para chegar ao fim.

  • CONJUNÇÃO COORDENATIVA ADVERSATIVA:

Inicia oração coordenada sindética adversativa. Equivale a MAS:

EXEMPLO: Pegue outros como exemplo, que não eu.

  • INTERJEIÇÃO:

Usado com acento circunflexo e ponto de exclamação e/ou de interrogação:

EXEMPLO: Quê?! Vocês tentaram aquilo?

  • PREPOSIÇÃO ACIDENTAL:

Quando é usado como substituto da preposição DE na expressão TER DE:

EXEMPLO: Tenho que prosseguir isto agora mesmo!

  • PARTÍCULA EXPLETIVA OU DE REALCE:

Quando puder ser retirado da frase sem prejuízo do entendimento desta. Alguns gramáticos chamam-no, neste caso, de QUE EXCESSIVO.

EXEMPLOS: O que que você quer?
Quando que eles vieram aqui?

OBSERVAÇÃO: Segundo nosso entendimento, não devemos confundir este QUE com a expressão denotadora de realce É QUE (com possibilidades de flexão verbal nas categorias de número, pessoa, tempo e modo):

EXEMPLOS: Eu É QUE falei com ele.
FUI eu QUE falei com ele. (Oração clivada)
SEJAMOS nós QUE façamos este serviço. (Oração clivada)

  • SUBSTANTIVO:

Deverá ser acentuado graficamente. Equivale a “algo especial”:

EXEMPLOS:

“Meu bem-querer, tem um quê de pecado…” (Djavan)
“A peregrina carnação das formas,
— o sensual e límpido contorno,
Tinham esse quê de avérnico e de morno,
Davam a Zola as mais corretas normas!…” (Cruz e Souza)

OBSERVAÇÃO 1: Quando alvo de discussão gramatical, pode vir sem acento gráfico, sendo preferentemente grifado, a exemplo do que ocorreu com o SE na mesma condição morfossintática deste QUE:

EXEMPLO: É preciso discutirmos mais o QUÊ como conjunção adverbial causal.

OBSERVAÇÃO 2: Quando se refere à letra o alfabeto, receberá acento circunflexo:

EXEMPLO: O quê é uma letra sempre presente em dígrafo.

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PhD em Língua Portuguesa pela UERJ. É professor adjunto de língua portuguesa e filologia românica da UERJ e author and content developer da California State University. Tradutor de inglês, francês, alemão, espanhol, italiano, latim e grego, pesquisador das filologias russa e mandarim. Escritor com mais de 40 livros publicados e premiados no Brasil e no mundo. Membro efetivo da Academia Brasileira de Filologia, do PEN Club Rio-Londres, da Académie des Arts, Sciences et Lettres de Paris e da Academía de Letras y Artes de Chile. Em 2011, recebeu a Comenda e a Médaille de Vermeil do Governo francês.
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