Histórias do Rio: A Revolta da Vacina

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(Post de 2008 mas que vale a pena ser lido nestes dias de 2013)

Por André Duarte

Oswaldo Cruz Imagine que você estivesse chegando ao Rio de Janeiro entre os dias 10 e 18 de novembro de 1904. Se você imaginou as belas e conhecidas paisagens de nossa cidade, ficará surpreso ao descobrir que o que se via era mais parecido com um campo de batalha…

Tiros, bondes virados, comércio fechado, lampiões destruídos, vandalismo contra os edifícios públicos e privados e até árvores derrubadas.

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E tudo começou com a aprovação de uma lei…

Naquela época o Rio de Janeiro ainda era uma cidade com saneamento precário, ruas estreitas e mal planejadas e sujas, que serviam de foco para doenças como febre amarela, peste e varíola. Em 1902, Rodrigues Alves assume a Presidência prometendo um ambicioso projeto sanitário que, entre outras coisas, combateria tais doenças.

O Presidente convidou o médico sanitarista Oswaldo Cruz para tocar o projeto de saneamento. A campanha começou bem, tratando da febre amarela e da peste. Foi criado nesta época o cargo de “comprador de ratos”, que consistia no recolhimento de ratos mortos ao preço de 300 réis cada.

Neste meio tempo, uma gravíssima epidemia de varíola tomou conta da cidade. Apesar das inúmeras campanhas, a população só podia receber a vacina, única forma de prevenir a doença, se quisesse. E cada vez menos pessoas se mostravam dispostas.

rui391 Sendo assim, o Congresso aprovou a Lei da Vacina Obrigatória, de 31 de outubro de 1904, que tornava obrigatória a vacina contra a varíola, abrindo caminho para Oswaldo Cruz utilizar os métodos aprovados.

O problema é que a população não aprovou os métodos.

No amanhecer do dia 09, dia seguinte à regulamentação da Lei, o jornal carioca A Notícia, traz o texto da Lei da Vacina com medidas consideradas extremamente autoritárias, entre elas a necessidade de apresentação do atestado de vacinação para empregos públicos, casamentos, viagens e matrícula em escolas, além de autorizar a entrada na residência daqueles que não queriam tomar a vacina. Foi aí que o caldo entornou. Ou melhor, o bonde.

Bonde Esse conjunto de medidas, apelidado pela imprensa de Código de Torturas, gerou um clima de intensa agitação social na população, que no dia seguinte ao tomar conhecimento das medidas, promove diversas agitações pelo centro da cidade. Os lideres da oposição, principalmente os positivistas, monarquistas, líderes operários e oficiais descontentes do Exército, aproveitam a insatisfação que começa a tomar conta da cidade e incentivam os populares, através dos jornais, a se rebelar. Tudo isso de olho na possível derrubada do governo.

No dia 11, a recém criada Liga Contra a Vacina Obrigatória, convoca os insatisfeitos a se reunirem no Largo de São Francisco, no Centro. Os manifestantes, munidos de paus, pedras e restos de material de construção, enfrentam a polícia. Durante a noite, cerca de 3.000 pessoas marcham contra a sede do governo, no Palácio do Catete.

Praça da Republica Chegamos ao tal cenário do começo deste texto. Durante os três dias seguintes, a cidade é palco de batalhas campais dignas de uma guerra civil, com os meios de transportes inutilizados, trilhos arrancados, prédios destruídos e postes derrubados. Para se ter uma idéia do tamanho do conflito, tropas do Exército aquarteladas em Minas Gerais e São Paulo foram chamadas.

Aproveitando a confusão instalada, líderes da oposição tentam um golpe de estado, conseguindo a adesão da Escola Militar, que envia 300 cadetes armados para o conflito. Eles marcham da Praia Vermelha, na Urca, até a sede do governo no Palácio do Catete. Tropas fiéis ao governo resistem à investida. Os cadetes só se rendem, após o Encouraçado Deodoro abrir fogo contra a Escola Militar durante a madrugada.

Finalmente no dia 16 o governo decide revogar a obrigatoriedade da vacina, fazendo com que a rebelião fosse gradativamente esvaziada. Apesar disso, pequenos grupos ainda entram em conflito em determinados bairros como a Saúde e Catete.

A rebelião é definitivamente contida no dia 20, deixando para trás cerca de 30 mortos, 110 feridos e centenas de pessoas presas e outras tantas deportadas para o Acre.

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