Ônibus no Rio: raio X de um sistema mega problemático

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Na região metropolitana do Rio de Janeiro, devido à falta de uma rede bem estruturada de metrô e trem, infelizmente os ônibus acabam transportando mais passageiros que o transporte sobre trilhos. Porém, mesmo com uma responsabilidade maior sobre o transporte por ônibus, o serviço é péssimo.

Tivemos em 2010 uma tentativa frustrada de melhorar o sistema, mas infelizmente não passou de uma maquiagem, horrível por sinal, pois apenas retirou as coloridas pinturas dos ônibus, por um layout cinza e sem graça. O sistema continuou igual, com as mesmas empresas, ônibus com chassis de caminhão, barulhentos e sem ar refrigerado e trajetos sem nexo. Foram criados ainda consórcios, que teoricamente teriam áreas de atuação. O Intersul na Tijuca e Z.Sul, Internorte para a Z.Norte e Ilha do Fundão e Governador, TransCarioca operaria na região da Barra e Jacarepagua e Santa Cruz na região de Campo Grande, Bangu, Santa Cruz e Realengo, vide imagem abaixo.

Ônibus no Rio raio X de um sistema mega problemático

Na teoria os ônibus com detalhes amarelo, por exemplo, deveriam operar as linhas que ligam a Z.Sul e/ou Tijuca ao Centro, mas não é isso que acontece. Veja abaixo alguns flagrantes dessa verdadeira bagunça que é o sistema de ônibus no Rio.

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Acima, um ônibus com cores do consórcio Intersul, operando a linha 867 (Barra de Guaratiba- Campo Grande) , que pertence ao consórcio Santa Cruz. Além disso o ônibus está pintado de amarelo, cor do consórcio Intersul, mas a empresa Jabour nem pertence a esse consórcio, conforme consta no site da Rio Ônibus.

Linha Troncal 3

A linha Troncal 3 pertence ao consórcio Intersul, mas volta e meia é operada por ônibus do consórcio TransCarioca (vide foto), aliás, a empresa Real, está em mais de um consórcio, assim como outras empresas (Gire, Transportes Barra,Premium, etc) que parece que sentam em duas cadeiras.

Eu poderia escrever páginas e páginas apenas sobre ônibus de consórcio X, operando em linhas de consórcio Y. A licitação e a padronização de cores foi em 2010, em seis anos não conseguiram ajustar as operações?

Se a prefeitura, Rio Ônibus, Fetranspor, ou seja lá quem é o responsável pelo sistema de ônibus, não conseguiram ajustar sequer as cores dos veículos e os consórcios, que dirá as complicadas e bizarras linhas de ônibus, que desde outubro de 2015 passaram por um processo de “racionalização” e ostentam nomes estranhos do tipo “ troncal” e “integrada”.

Esses nomes não traduzem um conhecimento sobre mobilidade, já que troncal seriam os sistemas de alta capacidade, como o trem e o metrô, mas aqui no Rio temos ônibus nomeados como troncal, no mínimo esquisito. As linhas integradas conseguem ser ainda piores, pois não integram com nada. Geralmente linhas integradas possuem ponto final em estações de metrô, trem, barcas e/ou terminais de ônibus. Aqui no Rio essas linhas que saem da Barra ou Recreio, terminam em uma rua de serviço em frente a casa Daros, nas proximidades do Rio Sul. A única linha que cumpre o seu papel de integrada seria a Integrada 03, que vai até o metrô Botafogo.

Além dessas mudanças e nomes estranhos, a falta de informação é uma das principais dificuldades dos corajosos que usam os ônibus do Rio de Janeiro. Algumas linhas foram modificadas e/ou extintas em outubro de 2015, mas no terminal de ônibus urbanos da rodoviária, ainda constam placas informativas totalmente desatualizadas.

Os pontos de ônibus, ao contrário de outros países, não possuem telas informando em quantos minutos irá chegar o próximo veículo. Os passageiros ficam a mercê da sorte, a espera pelo transporte pode durar 4 ou 40 minutos.

(foto Atilio Flegner)
Foto Atilio Flegner

Outro fator que tira a paciência dos passageiros de ônibus é a irregularidade no intervalo. Cenas como a foto abaixo são corriqueiras. Muitas vezes os passageiros ficam mofando no ponto e chegam dois ou as vezes, até três ônibus da mesma linha e ao mesmo tempo. Ora, se todos os veículos são dotados de GPS, como afirmam os órgãos responsáveis pelo sistema, por que esse monitoramento não é usado em prol de intervalos mais regulares?

Chegamos ao século XXI, mas o sistema de ônibus do Rio ainda está preso no passado. Os veículos são vergonhosos, é um elogio chamá-los de ônibus, pois tirando um ou outro, quase a totalidade da frota é composta de motor dianteiro, típico de caminhões. O barulho e o calor são transmitidos para dentro do salão dos passageiros, que em dias de calor são assados lá dentro, já que a maioria dos ônibus da cidade não possuem ar condicionado.

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Os ônibus, como vimos acima, além de bagunçados, confusos, desconfortáveis e caros, também são lentos. Embora a prefeitura tenha iniciado em 2011 a implantação de faixas de ônibus pela cidade, esse conjunto de pistas não está presente em toda as vias da cidade. Na verdade, o programa de expansão das faixas BRS (bus rapid system), como são chamadas, está abandonado. Mesmo nessas faixas a velocidade média do ônibus não é satisfatória, pois a prefeitura autoriza que taxis também podem usar o BRS, sendo assim a operação dos ônibus fica prejudicada. É comum assistirmos carros e caminhões desembarcando pessoas e mercadorias em cima das faixas BRS.

Fica ainda mais claro o péssimo nível do sistema de ônibus do Rio, quando comparamos com outras cidades, seja do Brasil ou do mundo. Dentre essas cidades, Cidade do México, Santiago do Chile, Curitiba e Bogotá, é no Rio de Janeiro o local da tarifa de ônibus mais cara. São Paulo possui a mesma tarifa que o Rio de Janeiro, mas quase toda a frota é composta de ônibus com piso baixo, motor traseiro e suspensão a ar.

A próxima gestão que assumir a cidade terá o árduo, porém necessário trabalho de reestruturar todo o sistema de ônibus, não só o municipal como o intermunicipal, que afeta e muito o transito do Rio. Mesmo os ônibus intermunicipais sendo responsabilidade do governo do estado, um sistema de transporte eficiente necessita de uma gestão metropolitana integrada.

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