Peripécias de um Corretor de Imóveis – “Casa de Madeira“

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Casa de Madeira

Durante muitos anos administramos os imóveis de uma família bastante complicada. Brigavam sempre entre si, como feras; obrigados a conviver por causa de inventários intermináveis (um deles de 1915 !!) que os transformavam em sócios, os primos e tios haviam se tornado uma espécie de “sociedade anônima” informal. E, para variar, todos clientes nossos…

Os casos desta família, são hilariantes. Passaria tardes inteiras escrevendo e me deliciando em reviver os momentos de loucura profunda, que incluem, dentro da mesma empresa familiar, o responsável pelo Departamento de Produção se vangloriar de criar produtos defeituosos, causando assim que o outro herdeiro, do Departamento de Vendas, não conseguisse vende-los… Todavia, hoje vou me ater a um dos casos mais divertidos. O do sobradão do século XIX localizado numa das melhores ruas do Centro do Rio.

O tal sobradão contava com lojão de alto valor e uma imensa sobreloja, num ponto de ouro do Centro. Era de propriedade de vários primos. Estava alugado por um valor completamente fora de parâmetro, digamos, algo como R$ 2.000 reais. Valia quinze vezes mais. A família fez de tudo para aumentar o aluguel mas um dos herdeiros se recusava a assinar um novo contrato, diziam-me, por razões “sem lógica”. Me pediram que interviesse. O fiz. Consegui uma proposta de aluguel bem gorda, e outra de venda, ambas profundamente atraentes; com elas em mãos, fui atrás do tal herdeiro que era o único obstáculo entre o sonho e a realidade.

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Foi assim que começou uma das histórias mais curiosas que já passei. Liguei para o cidadão, que me recebeu já asperamente. Mas tenho um talento conhecido no tratar com os menos sãos. Em alguns minutos, já conversávamos como amigos. Foi então que me contou a comovente história de seu pai, que no leito de morte, lhe disse “Meu Filho, muito cuidado, não se engane, pois este prédio que lhe deixo é muito perigoso, pois não passa de uma CASA DE MADEIRA…” e morreu.

Wood Castle

Foi então que se deu o memorável diálogo:

  • – Então você tem um grande apego ao imóvel, não é mesmo?

  • – De forma alguma – pontuou – eu tenho verdadeiro horror desta propriedade!

  • – Estamos com duas propostas interessantes; uma de venda outra de aluguel – disse eu.

– De Forma Alguma! Este imóvel representa grande perigo a um novo inquilino! É uma CASA DE MADEIRA! Pode pegar fogo, desabar, causar terríveis prejuízos! – revoltou-se.

Expliquei a ele que poderíamos alugar o imóvel no estado que se encontra, com eventuais obras sendo de responsabilidade do inquilino, em troca de um desconto no aluguel.

– Quem vai pagar aluguel alto por uma CASA DE MADEIRA? Você é um louco! – argumentou.

Tomei então o cuidado de deixar claro que o importante era o ponto comercial, que era muito procurado, e poderia gerar grande aluguel. Dei o exemplo da proposta. Ele então deixou claro que não iria em hipótese alguma alugar a “casa de madeira”, pois tinha motivos de sobra para saber, e sabia desde criança, que aquele imóvel era um péssimo imóvel, e propostas vazias de corretores malucos não iriam convencê-lo do contrário. E disse mais, que não queria ter para si o karma de sua “casa de madeira” em chamas “matando centenas de pessoas”.

Casa de Madeira Destruída

Resolvi jogar a toalha, e pensei, negócio fechado! Vou é vender a tal “casa de madeira” e me ver livre deste maluco por hoje. Ledo engano….

Apresentei meu caso. Mostrei, confiante, que o valor que uma cliente propunha pelo prédio, na poupança, geraria CINCO VEZES MAIS, mensalmente, que a “casa de madeira” e que esta era a chance de se livrar deste grande incômodo que estava na família há gerações.

O lunático acompanhou com atenção toda a minha explanação.

– Realmente parece bom. Mas o problema é estarmos falando desta maldita “casa de madeira”. Isso não vale nada.

Expliquei com clareza que o cliente gostara do sobradão, e que era útil para ele, e que a oferta era firme.

– Ninguém compra uma CASA DE MADEIRA, nasci sabendo disso e morrerei. Papai já dizia. Como vou vender isso a uma pessoa, em sã consciência? Deixa isso pra lá.

Sem saída, fiz então uma brincadeira pra terminar a conversa e ir embora….

– É, então o jeito é o senhor comprar dos seus primos!!

E fui levantando e me despedindo…. Ao que ele disse:

– Ah, isso eu faria, e acabava logo com esta dor de cabeça!!!

E ele ficou com a CASA DE MADEIRA todinha pra ele….

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