Vergonhas em linha: andamos no novo prolongamento do metrô

Advertisement
Receba notícias no WhatsApp

Nessa segunda feira, dia 19 de setembro, foi o primeiro dia de funcionamento da chamada Linha 4 do metrô do Rio, aberta a todo o público e não mais restrita apenas a portadores de ingressos, como ocorreu nas Olimpíadas e Paraolimpíadas. Foi nesse momento que todos os avisos feitos por alguns técnicos e membros do movimento Metrô que o Rio Precisa, se mostraram verdadeiros. Por volta das 17h a estação General Osório, abarrotada de gente, parecia a estação Estácio nos tempos da baldeação entre as Linhas 1 e 2.

Irônico é que essa mesma administração estadual condenava a baldeação no Estácio, entre as linhas 1 e 2, mas fizeram uma outra estação General Osório paralela a inaugurada em 2009 e colocaram uma estranhíssima baldeação para continuar na mesma linha, veja o diagrama abaixo.

O passageiro que vem do Centro ou Zona Norte precisa desembarcar na estação General Osório 1, saltar do trem, subir escadas andar, descer escadas e embarcar num trem na General Osório 2, que continua no mesmo sentido.
O passageiro que vem do Centro ou Zona Norte precisa desembarcar na estação General Osório 1, saltar do trem, subir escadas andar, descer escadas e embarcar num trem na General Osório 2, que continua no mesmo sentido.

Para amenizar essa transferência para continuar no mesmo sentido (algo para lá de inusitado) o governo afirma que a partir do ano que vem os trens que hoje fazem o serviço Uruguai- General Osório 1, após Cantagalo, irão adentrar pela General Osório 2 e seguir até o Jardim Oceânico, porém não foi divulgado uma data precisa de quando essa mudança irá acontecer.

O que preocupa e preocupou alguns especialistas e moradores da região, desde que o traçado da Linha 4 foi alterado e se transformou num puxadinho da Linha 1, em 2010, se refere ao agravamento da superlotação dos trens, visto que esticar uma linha de metrô é um aumento de demanda, mas não significa um aumento de capacidade, ou seja, você coloca mais gente em um lugar que já não consegue acomodar a demanda atual. Veja abaixo nas fotos que logo no primeiro dia o fluxo de passageiros vindo da Barra encheu a estação General Osório, prejudicando assim a qualidade do transporte de quem necessitava pegar o metrô nas estações seguintes sentido Centro.

Advertisement
Trem do metrô já sai lotado da General Osório com o fluxo de passageiros provenientes do Leblon e Barra.
Trem do metrô já sai lotado da General Osório com o fluxo de passageiros provenientes do Leblon e Barra.

O tempo de viagem entre General Osório e Jardim Oceânico é de aproximadamente 16 minutos. Nas viagens que fiz ontem e anteontem, levei 40 minutos entre Jardim Oceânico e Carioca e não os 34 minutos prometidos. Se perde algo entre 3 e 6 minutos na baldeação, se você perder o trem, a baldeação pode demorar quase 10 minutos. Infelizmente os intervalos entre trens do novo trecho ainda estão muito altos e não temos perspectiva de melhora. A “Linha 4”, embora tenha dobrado de preço desde o início das obras (prevista para custar 5 bilhões de reais, a obra custou aproximadamente R$10 bi) e tenha custado mais caro que o traçado original, foi inaugurada sem o sistema de piloto automático, fundamental para a segurança operacional e consequente redução dos intervalos.

A complicada baldeação para seguir no mesmo sentido na estação General Osório
A complicada baldeação para seguir no mesmo sentido na estação General Osório

Segundo o governo e a concessionária MetrôRio, a partir de 2017 a Linha 1 seguirá até a Barra, portando não faz sentido algum chamar o novo trecho de Linha 4. Além de não ser uma nova linha, apenas um prolongamento da primeira, o novo trecho, assim como as linhas 1 e 2, opera com capacidade reduzida. O projeto original do metrô era para funcionar com intervalos de 90 segundos entre os trens, o que resultaria uma capacidade de carregamento em torno de 80 mil passageiros/hora/sentido. A “linha 4” opera com intervalos variando de 6 a 8 minutos, o que resulta numa oferta de apenas 15 mil passageiros/hora/sentido. Se gastou muito dinheiro para uma extensão que não transportará o número de passageiros necessários e ainda prejudicará o atual serviço já ruim da linhas 1 e 2.,

Embora tenha reduzido o tempo de viagem entre a Barra e a Z.Sul, o governo do estado e a prefeitura cometeram diversos erros que evidenciam a falta de uma visão integrada dos modais na cidade. Além do traçado ser equivocado, a operação diminuir a capacidade e a obra ter custado o dobro do orçamento inicial (infelizmente com fortes indícios de superfaturamento). Não existe a integração tarifária do metrô com o BRT. Essa semana anunciaram que a tarifa dos dois modais não custará mais R$7,90 e sim 7 reais, um desconto que não chega nem a 1 real. É uma afronta chamar isso de integração.

A título de comparação, em São Paulo o bilhete integrado metrô ou trem + ônibus custa R$ 5,92, além de ser mais barato que no Rio, o usuário pode adquirir o cartão mensal que custa 230 reais por mês e garante ao usuário viagens ilimitadas em metrô, trem ou ônibus. Aqui no Rio se o usuário precisar usar o metrô + BRT todos os dias para ir e voltar do trabalho, por exemplo, gastará algo em torno de 280 a 320 reais por mês, dependendo do número de dias uteis. Se

compararmos o Rio com as tarifas de outras cidade da América  Latina, como Buenos Aires (com 5 linhas de metrô) e Santiago, capital do Chile que conta com quase 100Km de rede de metrô, a discrepância é ainda maior. Na capital chilena o bilhete integrado ônibus + metrô custa algo em torno de 3 reais e 40 centavos, menos da metade do custo da pseudo integração BRT + Metrô Rio. Em Buenos Aires é possível fazer 50 viagens de metrô com o custo de 184 pesos, cada passagem sai ao equivalente a 78 centavos de real.

Outra bola fora do metrô carioca foi o horário de funcionamento do novo trecho metroviário. Durante o período da Rio 2016, o metrô funcionou até 1h da manhã, e agora que está aberto para a população, o serviço apenas funciona até as 21h.

A próxima administração municipal terá que rever não somente o funcionamento dessa integração, como também essas passagens que cada vez oneram mais a população e atingem diretamente a parcela mais necessitada. Em muitos deslocamentos está se tornando cada vez menos vantajoso utilizar o transporte público e alternativas como o automóvel, taxis e aplicativos de motorista particular estão sendo mais atrativas, o que obviamente colocam mais carros nas ruas e pioram os engarrafamentos.

Em relação ao BRT, a prefeitura que vem terá que reestruturar esse modal, para que os corredores sejam mais uteis a população, atualmente a operação é ruim, com altos intervalos e baixa capacidade. Lembrando sempre que ônibus não é transporte de massa, mas  deveria atuar como modal alimentador do trem e do metrô.

Advertisement
Receba notícias no WhatsApp
entrar grupo whatsapp Vergonhas em linha: andamos no novo prolongamento do metrô
Advertisement

1 COMENTÁRIO

  1. É exatamente essa impressão que eu tenho dessa linha, não conheço o Rio de Janeiro mas enxergo as linhas do metrô da cidade como uma apenas, dividida em trechos e essa expansão da linha 1 chamada de linha 4 é exatamente um puxadinho com um marketing imenso em cima dela.
    Como está a demanda nos dias de hoje? A linha transposta os 300 mil passageiros diários para o qual a linha foi projetada?
    Aliás é um imenso absurdo uma linha custar 10 bilhões para transportar apenas 300 mil usuários por dia. Acredito que a linha 3 seria muito mais importante, útil e eficiente.

Comente

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui