Hamilton Vasconcellos é carioca e apaixonado pela cidade do Rio de Janeiro. Casado e pai de 2 filhos, ele acredita no fortalecimento do turismo para criar oportunidades de negócios, empregos e renda para a população. Professor universitário e advogado, Hamilton Vasconcellos atualmente ocupa a Presidência da Comissão de Turismo da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ)
Diário do Rio – A pandemia de Covid-19 instaurou um verdadeiro caos internacional. A economia global sofreu um grande baque. É inegável que o Turismo, com todas as suas áreas e serviços afins foi muito prejudicado. Qual é a análise que o senhor faz desse cenário?
Hamilton Vasconcellos – O ano de 2020 foi o mais desafiador da história do Turismo, com perdas em todos os segmentos do setor. Toda a cadeia produtiva foi afetada. A United Nations World Tourism Organization (UNWTO) estima um prejuízo de aproximadamente US$ 935 bilhões de dólares no comparativo com 2019, com a queda na circulação de 900 milhões de turistas pelo mundo, entre janeiro e outubro em relação ao ano anterior. Isso coloca o setor nos patamares de 1990. As restrições de viagens nacionais e internacionais continuam sendo o grande problema, mas as vacinas contra a Covid-19 devolvem ao setor a segurança que ele necessita. As agências internacionais especializadas no seguimento projetam um movimento de recuperação para o início do segundo semestre de 2021. Mas para atingir o desempenho de 2019, o setor levará de 2,5 a 4 anos.
D.R. – No que diz respeito ao Brasil é possível quantificar o prejuízo sofrido durante esses meses de pandemia?
H.V. – Segundo a Confederação Nacional do Comercio (CNC), as atividades turísticas registraram um prejuízo de R$ 261,3 bilhões desde o surgimento da pandemia. Até novembro, 437,9 mil postos formais de trabalho foram eliminados.
D.R. – Um dos grandes problemas do Estado do Rio de Janeiro, especialmente da cidade do Rio, é a violência urbana que acaba limitando o convívio social do carioca. Como essa realidade afeta o turismo, especialmente a capital?
H.V. -Temos um cenário de violência que gera grandes impactos na vida da população, além de afetar a imagem da cidade. Isso é real. Não é apenas uma questão de repercussão na mídia. O turismo é muito sensível ao contexto local, por isso ter uma imagem ruim influencia na escolha dos destinos, nas vendas de pacotes, pois amedronta as pessoas. Mas verificamos também que, quando o turista gosta do destino, a violência não se torna o dado mais relevante.
D.R. – A cidade do Rio é emblemática sob os mais variados aspectos: é bonita, há pontos turísticos importantes, a população é receptiva, entre outras coisas. Mas temos também problemas a serem resolvidos, como a desordem urbana. Como o senhor vê essa questão?
H.V. – A desordem urbana deve ser uma das primeiras metas perseguidas pela prefeito Eduardo Paes. Precisamos de um choque de ordem urgente. Em pesquisas de opinião aplicadas aos turistas internacionais questões como, limpeza urbana, desorganização do comércio popular, além da presença ostensiva da população de rua são descritos como pontos negativos. São questões que devem ser abordadas com muito cuidado pelo poder público.
D.R. – Qual será o papel do turismo na retomada da economia? No Brasil, a cidade do Rio poderia ser uma protagonista no soerguimento da economia e da própria atividade turística nacional?
H.V. – A cidade do Rio possui todos os atributos da nova ordem do turismo e uma rede de hospedagem ampla, variada e extremamente capacitada. O município possui muitos atrativos naturais, de acesso fácil e que permitem o distanciamento social necessário. Temos trilhas, parques, passeios de barco e muito mais. O Estado do Rio conta ainda com municípios cujos passeios são complementares às atividades da capital. O Rio é o estado que possui o maior número de cidades classificadas como destinos A pelo Ministério do Turismo.
D.R. – Um dos bairros mais emblemáticos do Rio de Janeiro é Copacabana, onde acontece a maior festa de Revéillon do mundo. O bairro espelha a cidade em qualidades e, também em problemas. O que pode ser feito por Copacabana para que ela volte a atrair mais turistas?
H.V. Copacabana, assim como a cidade do Rio, precisa de um choque de ordem. Ela é o espelho da cidade. Mas o bairro, como outros destinos turísticos, sofre críticas na hora de receber melhoramentos. Copacabana é um cartão postal da cidade. Sua imagem é vendida. As pessoas que trabalham no bairro não moram necessariamente no bairro. Quando algo positivo é feito por Copacabana, outros benefícios são gerados, como o aumento do número de empregos, por exemplo. Temos que mudar a mentalidade de criticar os incentivos que são dados a bairros turísticos por serem bairros da Zona Sul. Quando há investimentos nesses locais muita gente sai ganhando, especialmente em Copacabana que é um bairro de serviços.
D.R. – O prefeito Eduardo Paes iniciou o seu terceiro mandato em um ritmo frenético de trabalho. Quais são as suas perspectivas para o setor diante da gestão de Paes?
H.V. – O prefeito Eduardo Paes já foi secretário de Turismo do Estado. Ele conhece os problemas do setor e sabe que eles são antigos. Estrategicamente, a escolha de trazer grandes eventos para o Rio foi correta. Nossos melhores números, segundo dados do Ministério do Turismo são de 2014 e 2016. Em 2014 alcançamos 45% da captação total de turistas estrangeiros que entraram no Brasil na categoria lazer. Entretanto, nos anos seguintes esses números sofreram um decréscimo considerável. Em 2015, caímos para 32,6%. Na Olimpíada, em 2016, mantivemos 32,2% da captação de turistas, e depois caímos novamente. Em 2017 e, em 2018, registramos 27% e 29,7%, respectivamente, quanto à visitação de turistas estrangeiros ao Brasil. Na categoria Negócios, Eventos e Convenções, alcançamos 27,5%, em 2014; e 30,1%, em 2016. Fechamos 2018 com 19,7% de visitantes consumindo esse tipo de turismo. Perdemos boas chances de fidelizar clientes. Só para se ter uma ideia, em números absolutos, foram 1.293.342 turistas estrangeiros, em 2018; e 1.252.267. em 2019. Ainda não tenho os resultados de 2020, porém, com certeza, estão comprometidos. Na contramão, por exemplo, está Florianópolis, que fez um caminho inverso. Em 2014, na categoria lazer registrou 14,2% de turistas visitantes, chegando a 19,6%, em 2017. Depois caiu um pouco. As perspectivas, apesar do cenário atual são boas. Hoje temos novos nomes no turismo, isso pode ser bom, pois representa novos projetos, ideias fora da caixa. Vamos torcer.
D.R. – Tramita no Congresso Nacional o projeto de lei 5638/2020 apresentado pelo Deputado Felipe Carreras (PSB-PE), que propõe a criação do Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos. Como a aprovação desse projeto poderia ajudar o segmento de turismo, especialmente na nossa cidade?
H.V. – O setor de eventos é um dos segmentos mais afetados. Além de ser um dos que mais gera emprego. Os eventos pararam em março e acredito que retornem somente no segundo semestre de 2021. Entretanto, se o auxílio ajudar na captação de recursos para a divulgação e promoção do destino, certamente os benefícios trazidos serão consideráveis.
D.R. – Qual será o papel do turismo interno na sua avaliação para o reaquecimento econômico do País?
H.V. – O turismo interno será fundamental para a retomada da economia. Ele fará o setor “girar”. O turismo alimenta outras atividade da cadeia produtiva, por isso, ele é tão importante. Em cidades pequenas o impacto positivo é gigantesco, pois movimenta hotéis, feiras, restaurantes, comércio, fornecedores e muito mais. O dinheiro volta a circular e gera um ciclo virtuoso. A tendência, nesse momento, é que o brasileiro escolha o turismo interno ao internacional.
D.R. – O senhor tem perspectivas bastante otimistas quanto ao segmento. O Rio de Janeiro, com o seu gigantesco potencial, terá uma grande destaque no turismo internacional nos próximos anos?
H.V – É difícil prever como será o turismo internacional nos próximos 3 anos. Tudo dependerá da vacinação e da retomada da confiança pelos viajantes. Esses são os pontos fundamentais para retomada do turismo. Além disso, temos que entender que o Rio de Janeiro está longe em desempenho dos grandes polos emissivos de turistas. Contudo, se trabalharmos com um bom planejamento é possível que o Rio volte a ser o destino mais visitado da América Latina.
D.R. – Como um bom carioca quais são as suas dicas para quem quer visitar o Rio de Janeiro? O que fazer, para onde ir, onde fazer uma boa refeição? Enfim, o que o Rio tem de bom a oferecer aos seus visitantes?
H.V. – Indico um café da manhã no Parque Lage, com uma caminhada pela natureza. Saindo de lá, bem pertinho, conhecer o Jardim Botânico. Depois, um belo almoço no Restaurante Salete, na Tijuca, um dos bairros mais tradicionais do Rio. Mais tarde seguir para Ipanema, caminhar e assistir o pôr do sol no Arpoador. À noite curtir um pouco da Lapa, ou as tradições nordestinas, na Feira de São Cristóvão. Também são ótimas dicas uma caminhada no Boulevard Olímpico, com um almoço no tradicional Angu do Gomes.