“O Amor”, escrito pelo filósofo francês André Comte-Sponville, é a transcrição de uma palestra que o autor gravou em 2008 para disponibilizar em CD. No Brasil, o livro foi publicado em 2011 pela editora WMF Martins Fontes, com tradução de Eduardo Brandão. Dividido em três partes, a obra trata de três diferentes formas de amor, denominadas pelas palavras gregas Eros, Philia e Ágape.
Para falar de Eros, o amor-paixão, o autor parte do diálogo “O Banquete”, de Platão, que mostra diversas visões sobre o amor, sendo as mais conhecidas as proferidas por Aristófanes e Sócrates. O primeiro fala de um amor idealizado: absoluto, exclusivo e definitivo. É o amor por muitos sonhado, no entanto, quase impossível de se tornar realidade. Segundo Comte-Sponville, “Aristófanes nos engana, ou se engana” ao discursar sobre um amor irreal.
Platão, discípulo e admirador de Sócrates, põe nas palavras de seu mestre a “verdade” sobre o amor. Em seu discurso, Sócrates afirma que foi com Diotima, uma sacerdotisa, que aprendeu o que é o amor. Segundo ele, amor é desejo e desejo é falta. Amamos o que não temos, o que nos falta. A partir desta definição, André Comte-Sponville inicia uma longa reflexão sobre a impossibilidade de um relacionamento feliz, uma vez que já não existe a falta da pessoa desejada. Se já não me falta, eu já não amo, então não sou feliz. Aqui o autor faz também uma alusão a outro filósofo, Schopenhauer, para quem a vida é um pêndulo que oscila eternamente entre o sofrimento (falta) e o tédio (quando o desejo é satisfeito).
Porém, segundo o autor de “O Amor”, faltou a Platão explicar o amor feliz – afinal, sim, ele existe. O amor que sobrevive a um relacionamento é o que os gregos chamavam de philia. É o amor-amizade, aquele que se alegra com a presença do outro, e não com a falta. É a Aristóteles que o autor recorre para falar de philia. E também a Espinosa, para quem “o amor é desejo, mas não é falta”, pelo contrário, é potência e alegria. “Trata-se de amar um pouco menos o que falta (que, a rigor, é mais objeto de esperança que de amor), um pouco mais o que existe.”
A terceira e última parte do livro traz uma reflexão sobre o ágape, palavra surgida séculos depois da antiguidade clássica, para designar o amor de Deus, ou amor de caridade. É o amor que acontece quando Deus renuncia de sua divindade para que o mundo e nós possamos também existir. “(…) trata-se de consentir em existir um pouco menos, para que o outro possa existir um pouco mais.” Ou ainda: “(…) quando se ama verdadeiramente o outro para o bem dele e não mais para o nosso bem.” Enfim, um amor livre do ego. Um ideal.
Quem estaria certo, Platão e Schopenhauer ou Aristóteles e Espinosa? E o amor de caridade, seria possível no nosso mundo? O autor reflete sobre os três tipos de amor baseando-se não apenas nas obras destes filósofos, mas também em exemplos do cotidiano, de sua vida ou de pessoas próximas. Com linguagem acessível e de leitura rápida, “O Amor” nos faz atentar para este sentimento que às vezes parece estar em falta nos tempos atuais. Tempos em que o verbo “amar” é muito utilizado, porém, esvaziado de sentido e banalizado.
Livro: O Amor
Autor: André Comte-Sponville
Editora: WMF Martins Fontes
Tradução: Eduardo Brandão
Páginas: 120
Nota: 4 (de 5)