O ex-governador Carlos Lacerda é o assunto desta semana, como primeiro exemplo de um governante eleito pelo povo, para uma cidade que foi feita estado também e que, durante todo o tempo dele, quis voltar a ser o que tinha sido até aquele momento, Capital da República.
A cidade do Rio e sua gente estavam, portanto, em uma crise de identidade e o sentimento não foi diferente com o governador eleito, que governou com os olhos e o espírito na cadeira de presidente. A crise de identidade – o desejo de ser presidente – motivou Lacerda, que 30 anos após deixar o governo da Guanabara, ainda era tido como o “Administrador que todos querem imitar” – manchete da revista VEJA de dezembro de 1995.
Antes dele, três prefeitos nomeados pelo Presidente Juscelino governaram o Rio: Negrão de Lima, de março de 1956 a julho de 1958; Sá Freire Alvim, de julho de 1958 a 21 de abril de 1960; e Sette Câmara, de 21 de abril de 1960 até 5 de dezembro. Enquanto os três se viraram para governar, cada um, sucessivamente, por uma média curta de apenas 18 meses, o Presidente da República ampliou as oportunidades de crescimento industrial de São Paulo.
Mas, Carlos Lacerda chegou ao palácio, eleito com um resultado apertado, porque no meio de uma campanha em que ele levava uma enorme vantagem sobre o único adversário que poderia vencê-lo, apareceu Tenório Cavalcanti, com um perfil meio parecido. Ele recebeu 23% dos votos, Sérgio Magalhães, candidato do Presidente da República, 34,59% e Carlos Lacerda, adversário do Presidente, 35%.
O primeiro problema para Carlos Lacerda seria a existência de dois poderes legislativos, para um Poder Executivo. Sendo cidade, Guanabara tinha uma Câmara de Vereadores e, sendo estado, uma Assembleia Legislativa. Imaginem a confusão disso. E barafunda maior, quando os deputados eleitos receberam como primeira incumbência, redigir uma Constituição para o estado.
Lacerda não foi político de dar jeitinhos ou fazer acordos que dificultasse o trabalho. Não fazia concessões aos partidos, como se fez sempre e, logo que tomou posse, extinguiu a Câmara dos Vereadores. Os vereadores correram para o STF, um vício, portanto, que vem de longe. O STF, por um voto, manteve a decisão do governador.
Quando a gente examina com atenção o governo de Carlos Lacerda e o compara com os que vieram depois dele, principalmente, após o golpe de 64, conclui onde estão os problemas que causaram o esvaziamento da importância do Rio de Janeiro como polo econômico e cultural. As concessões que Lacerda não fez definiram o sucesso da administração dele. As que os demais fizeram definiram o desastre.
Semana que vem tem mais.
Se os governadores do Rio de Janeiro fossem 1 décimo do que foi Carlos Lacerda, o Rio de Janeiro já seria por si só um país. De lá pra cá fomos governados mais das vezes por retumbantes nulidades. Falta cérebro e honra aos homens e mulheres de hoje em dia. Para resolver os problemas é preciso conflitar, porque o sistema que o status quo implantou não permite mudanças voluntárias.
Acabar com a desordem urbana implica desagradar muita gente: o mesmo favelado que reclama de sua condição no bairro pode ser o mesmo que vai ficar brabo porque passaria a pagar luz, água, IPTU no seu bairro reformado. O mesmo problema têm as elites: seus privilégios seriam extintos num governo republicano: uma vez extintos essas benesses… o povo continuaria apoiando o político? Provavelmente não! É por isso que o RJ caiu nesta barafunda!
E antes que alguém me diga que conflitar seja conflitar armado… já digo que eu falei em termos de não ceder, de contrapor-se, de discutir e bancar a sua posição.
Sr. Jackson Vasconcelos, acho muito importante falar sobre Carlos Lacerda. Sua administração foi ótima e pra quem não saiba, passando pelo Túnel Rebouças diariamente se pode ter ideia da importância de sua gestão para a Cidade do Rio de Janeiro. Mas, espero que o senhor também possa ou queira falar do Lacerda político e participante ativo do Golpe Militar de 1964, além de outras iniciativas polêmicas do “Corvo”…
Nunca vi tanta besteira num artigo.
A cidade do Rio de Janeiro só teve 2 administradores.
O Lacerda e o Passos.
Os outros eram incopentendes ou ladrões.
As vezes eram junto mesmo ( ladrões e incompetentes)
Lacerda foi único. Nunca mais tivemos outro com a imensa capacidade dele de gerenciar uma cidade com a coragem que ele fazia. César Maia chegou perto no primeiro governo e distanciou-se bastante no segundo e no terceiro. Mas, realizou.
E existe uma clivagem entre o Antigo Estado do RJ e a Guanabara que dura até hoje. A prefeitura do Rio representa o que foi a Guanabara um dia. Aqui prefeito do RJ e o governador do RJ revezam-se nas manchetes e na estrutura de poder rivalizando-se de temos em tempos. Fora Marcello Alencar (eleito por força da onda do plano real em 1994) nenhum prefeito da Capital se emplacou governador do RJ. Casa dividida não subsiste.