São cerca de 200 metros quadrados bem decorados e preenchidos por som e história. O casarão na Rua Joaquim Silva, 97, na Lapa, já abrigou um espaço dedicado aos “prazeres carnais”, onde viveu Jacob do Bandolim, pois sua mãe, Rachel Pick, era a cafetina do estabelecimento. Hoje o local é onde fica o restaurante vegano e sustentável Bandolim, que também é uma casa de cultura.
Sobre ser o “maior restaurante vegano do Rio de Janeiro”, o responsável pelo Bandolim, Alvaro Tallarico, brinca: “Em tamanho com certeza é”. A grandeza do estabelecimento não é só física. Tudo tem um tom maior, como em uma boa música, um bom choro de Jacob.
Jacob do Bandolim aprendeu a tocar o instrumento que passou a ser seu sobrenome nesta casa. Na época em que era um prostíbulo comandado por sua mãe. O músico viveu lá até os 12 anos de idade. Muita gente passou pelo casarão nesta época. “Tem uma história que contam que a cantora Carmen Miranda quase veio trabalhar aqui, mas os pais dela impediram que ela entrasse para essa vida”, pontua Alvaro Tallarico.
O Restaurante Bandolim abriu para entregas no dia 14 de fevereiro de 2021, aniversário de Jacob. Em 19 de março foi aberto para o público. Logo depois teve que fechar porque veio a pandemia de Covid-19. No entanto, com fé quase tudo se resolve.
“Escolhi essas datas intencionalmente. Aniversário de Jacob do Bandilim e dia de São José. Sou devoto de Nossa Senhora Aparecida, mas como ele é marido dela está valendo também. Vale tudo para ajudar e ajudou. Estamos aqui, firmes na ideia”, detalha Alvaro.
Quando alugou a casa e abriu o restaurante, Álvaro sabia de toda a história e importância não só do local, mas de também da rua, que ele defende que seja mais valorizada pelo Poder Público.
“Quanta gente passou por essa rua, quanta coisa aconteceu aqui. A rua fica entre os Arcos da Lapa e a Escadaria Selarón, tendo o santuário de Seu Zé Pelintra no Arco. Era para essa rua ser um boulevard fechado, sem carros, livre para as pessoas passarem. Seria um polo gastronômico, cultural, ainda maior. A rua tem hotéis, casas de cultura, restaurantes. Precisa de mais atenção para essa parte importante da Lapa”.
O maior restaurante vegano do Rio de Janeiro abre segundas, quintas, sextas, sábados e domingos. Começa a funcionar um pouco antes da hora do almoço e segue até alcançar a agitada noite da Lapa. Todo sábado tem roda de chorinho. Sexta e domingo também tem música.
Sobre a comida, Alvaro conta que recebe certa pressão para mudar o cardápio e deixar de ser um estabelecimento vegano, mas se mantém na ideia. “A nossa proposta sempre foi ser um local ecológico, sustentável, cultural. Vamos continuar assim, mesmo que às vezes tenhamos dificuldades. É algo diferente em toda a região e eu gosto de ser diferente”.
O cardápio é vasto. São muitas opções. A equipe de reportagem do DIÁRIO DO RIO quando esteve no Bandolim experimentou o baião de dois vegano (foto abaixo). Falando por mim, filho de nordestinos, o prato não deve nada a um baião convencional. A falta de carne animal passou longe e não fez falta alguma. “É isso que todo mundo diz”, falou Álvaro quando fiz esse relato para ele.
Muita gente brinca com Alvaro que há uma contradição em existir um restaurante vegano em um local que por anos foi espaço dedicado aos “prazeres carnais”. Assim segue o bandolim, com notas dissonantes, diferentes, históricas e originais, como um bom choro de Jacob.
Enquanto isso, na calada da noite, 1746 retira do “site” da prefeitura opção de abertura de chamados para reclamação por “perturbação do sossego” em bares, casas noturnas e similares. Portanto, quem estiver sofrendo com som alto deste tipo de estabelecimento vai ficar “chupando dedo”.
Vaí morar no mato então seu mala!!!!