Searon Cabral, Pedagogo e educador popular
Na última terça-feira (29), o governador Cláudio Castro sancionou a Lei 10.548/24, de autoria do deputado Vinicius Cozzolino (União), criando o programa “Educando com Saúde”. A proposta busca integrar as escolas estaduais do Rio com as redes de saúde municipais e estaduais, transformando o ambiente escolar em um espaço de assistência e promoção do bem-estar.
Minha experiência trabalhando com alunos de uma escola pública da Zona Norte do Rio, durante a realização do meu Trabalho de Conclusão de Curso, pela Faculdade Cesgranrio, ilustra o impacto positivo de parcerias assim. Em um projeto sobre problemas comunitários, os próprios alunos sugeriram a colaboração com a Comlurb para resolver a questão do lixo, promovendo tanto a conscientização ambiental quanto ações práticas. Esse exemplo reforça que, com apoio de outras instituições, as escolas conseguem enfrentar desafios que sozinhas seriam difíceis de solucionar.
As escolas, inclusive, são pontos de apoio essenciais durante crises. Além de serem estruturas facilmente reconhecíveis pelo tamanho e pelas cores padrão, escolhidas pela gestão vigente, escolas têm características práticas como grandes espaços cobertos, banheiros amplos e boa iluminação. Assim, em tragédias onde moradores ficam desabrigados, escolas e igrejas são frequentemente requisitadas como abrigos temporários.
Ao refletir sobre as experiências que tive no ensino fundamental, recordo-me de campanhas de saúde realizadas no ambiente escolar sobre piolho, com enfermeiros verificando nossa cabeça e fazendo relatórios para os nossos pais, e a higiene bucal, onde até recebíamos kits de higiene do posto de saúde local. Com o “Educando com Saúde”, essas parcerias poderiam se estender ainda mais: clínicas da família, por exemplo, poderiam disponibilizar psicólogos, dentistas e nutricionistas para apoiar alunos regularmente.
Em 2017, a Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro (SEEDUC) adotou uma estratégia similar ao reformular o cardápio escolar durante uma crise social. Sob a liderança do então secretário Wagner Victer, o objetivo foi oferecer refeições variadas e nutritivas para combater a evasão escolar e apoiar a segurança alimentar dos alunos. Essa iniciativa foi bem-sucedida e deu ao Rio de Janeiro o título de “melhor merenda do Brasil” segundo a Controladoria Geral da União, mostrando que a escola pode ser uma resposta direta às necessidades sociais da comunidade.
Se pudesse dar um conselho às novas gestões municipais e aos futuros secretários de educação, eu sugeriria que incentivassem ainda mais essa integração das escolas com as instituições locais. Que se valham de teatros municipais, clínicas, centros culturais e demais espaços disponíveis, promovendo uma formação completa que vá além dos muros escolares. Esse ecossistema de apoio integrado cria um impacto duradouro para a comunidade, proporcionando um ambiente escolar que não apenas educa, mas também acolhe e fortalece a sociedade.
O programa “Educando com Saúde” sendo regulamentado e posto em prática, pode potencializar essa visão, tornando uma geração mais saudável e engajada com o próprio território, fazendo da educação um verdadeiro agente de transformação social.