A rotina de um médico em um Hospital de Campanha

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Foto: Cesar Andrés no Hospital de Campanha Lagoa-Barra

As grandes estruturas brancas com boa quantidade de leitos são a esperança de muita gente para que passemos pela pandemia reduzindo as mortes e os danos causados pela Covid-19. Os Hospitais de Campanha estão começando a funcionar no Estado do Rio de Janeiro e o DIÁRIO DO RIO, através dos passos do médico Cesar Andrés Bastos Plaza, de 31 anos, conta um pouco de como está sendo essa rotina de trabalho.  

Cesar está trabalhando no Hospital de Campanha da Lagoa Barra, que abriu com 20 leitos de terapia intensiva e hoje já tem quase 200. “Isso em menos de duas  semanas”, conta o médico.

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Hospital de Campanha Lagoa-Barra

Além do Lagoa Barra, Cesar, que é cirurgião plástico de formação, também está trabalhando em Maricá. No Hospital Dr. Ernesto Che Guevara – centro de referência de Covid-19  – e no hospital municipal da cidade.

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Hospital Che Guevara, em Maricá

Como um cirurgião plástico pode ajudar em um hospital que está tratando pacientes que estão sofrendo de uma doença respiratória? Cesar responde: “Estou me saindo um bom médico intensivista [sorri]. A minha especialidade serve para melhorar a vida das pessoas. Aqui, no Hospital de Campanha, estamos salvando a vida das pessoas. A Cirurgia Geral lhe prepara para realização de alguns procedimentos como punção venosa profunda, para que o paciente grave possa receber fluidos e medicamentos por longos períodos. Estou na linha de frente. Avaliando pacientes com suspeita, tratando aqueles com quadros graves e moderados. Falo com as famílias”.

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Falando em família, um médico que trabalha na luta contra o Coronavírus precisa se afastar da sua.

“Tive que mudar toda minha rotina. Interrompi contato com meus pais desde então. A minha namorada também é da área da saúde. Inicialmente, estávamos cogitando o isolamento. Mas a saudade bateu mais forte. Graças a Deus estamos bem. Saudáveis, por enquanto. Ela tem me ajudado muito. Para ter ideia, ela criou um protocolo dentro de casa, de como tirar a roupa após um plantão e quais passos seguir até deitar na cama. Pelo visto tem funcionado! Isso que inicialmente era novidade, com algumas semanas, se tornou rotina”.

O contato com a família dos pacientes nem sempre é bom. Muitas vezes, a pior notícia possível precisa ser dada pelos médicos. Contudo, na rotina em um Hospital de Campanha, as histórias são muitas.

“Nesse momento, é importantíssimo que o paciente sinta-se seguro. A atuação de uma equipe multidisciplinar é imprescindível para esse sentimento. Médicos plantonistas e rotinas, enfermeiros e técnicos, fisioterapeutas, nutricionistas, assistente social, todos juntos, como deve ser! E todos pela mesma causa. Nunca presenciei tanta união. É bonito de se ver. Recebi um paciente de 38 anos, sem comorbidades, que estava muito aflito. Extremamente ansioso e com muito medo. Normal. Em outro plantão, fiquei sabendo que ele foi intubado, e infelizmente após alguns dias foi a óbito. No mesmo dia, em que um senhor de 92 anos, com múltiplas comorbidades estava recebendo alta. Isso me chocou bastante”, conta o médico que disse que teve um dia que precisou assinar 3 atestados de óbito.

O trabalho duro dos profissionais da área de saúde durante a pandemia tem emocionado e provocado homenagens em todo o país. No mundo. Os médicos afirmam que as atividades dentro dos hospitais só tem sido possíveis por conta da união da classe.

“Vejo um movimento, do qual me orgulho muito em estar envolvido. Profissionais de demais áreas da saúde, gestores e órgãos locais, unidos e se empenhando, para fornecer um bom e amplo atendimento ao público. Isso me fez ter mais segurança na minha escolha”, diz o médico.

Cesar, que iria inaugurar sua clínica de cirurgia plástica no Leblon, pouco antes da pandemia começar, precisou adiar os planos e, em um dado momento, se viu tomando a decisão de ir trabalhar em um Hospital de Campanha.

“Lembro perfeitamente há cerca de 30 dias, sentado na varanda, com o dedo travado para mandar mensagem para um colega que estava coordenando um dos hospitais de referência contra COVID-19. Não foi fácil, e não foi uma atitude intempestiva. As informações que chegavam pela mídia me assustavam ainda mais. Entretanto, não podia mais ficar parado dentro de casa. Tinha que ajudar. Após a fase de adaptação, que acredito estar vivenciando até hoje, já fui chamado para trabalhar em mais 6 hospitais de campanha. Acabei escolhendo 3 pelo tempo disponível e grau de exposição”.

A falta de material, testes, equipamentos, são problemas públicos. Todo mundo sabe sobre eles. Entretanto, existem mais situações negativas que atrapalham a luta contra o Coronavírus: “Há uma carência de profissionais para atuar. Quando ficam doentes ou desistem, há grande dificuldade para substituí-los. Cerca de 80% dos profissionais médicos que iniciaram junto comigo, descontinuaram e foram sendo substituídos com muito custo”, afirma Cesar.

No geral, os turnos dos profissionais de saúde nos Hospitais de Campanha estão sendo de 12/36h. Ou seja, trabalha 12 horas e descansa 36.

Olhando para o futuro, o médico não consegue dar um prognóstico: “Uma característica muito forte dessa situação que estamos vivendo é a falta de previsibilidade. A normalidade como estávamos acostumados, é uma realidade muito distante ainda. Acredito que teremos que nos acostumar com um ‘novo normal’. Pelo menos, pelo restante de 2020, é o meu singelo palpite”.

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1 COMENTÁRIO

  1. Grande médico, Dr. Cesar Plaza, o conheço pessoalmente e sou testemunha de seu impecável trabalho! Meus parabéns por ser um dos heróis do Brasil, ?? ????????!

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