Bia Willcox: A vida em quarentena como ela é – Episódio 6

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Imagem: iStock

Hoje é sábado.

Sábado sem aulas online das crianças, sem reuniões marcadas, sem a pressa da semana.

Mas nem por isso a família Weiss acordou mais leve ou feliz.

O pai do Fábio, Jaime Weiss, estava internado e entubado. Além disso, o casal estava sendo obrigado a conviver com um enorme elefante branco no meio da casa. Elefante este, que tinha nome: Luiza Carvalho Albertoni.

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Joana estava armazenando forças para tocar no assunto com Fábio. Ele dormiu na cama do casal, afinal. Ele havia pedido quando soube do estado do pai e ela cedeu.

Mas foi uma noite péssima para Joana. Passou todo o tempo tentando esquivar-se dele, com nojo de sequer tocá-lo. Não houve pena do sogro Jaime que tivesse conseguido amenizar esse seu sentimento visceral que parecia dizer-lhe que não havia mais volta. 

Joana foi pra varanda assim que clareou o dia – não queria estar na cama quando Fábio acordasse. Chegou a pensar em entrar nas redes sociais do Fábio, já que ele mesmo havia disponibilizado as senhas. Mas Joana não era tão boba assim: para ele ter feito isso de oferecer suas senhas, já não deveria haver nada suspeito ou comprometedor que não tivesse sido apagado antes.

Besteira.

Perda de tempo.

Ela tentou fuxicar a moça pelas suas próprias redes.

Primeiro Joana resolveu procurar a tal Luiza no Instagram – perfil fechado. Depois foi pro Facebook – perfil desatualizado. Nada demais por lá, a não ser fotos com amigas em bar e com a filha pequena.

 Em seu Linkedin não havia nada demais. Se realmente a história do Fábio é verdadeira, eles se conheceram profissionalmente e partiram logo pro whatsapp. E para entrar lá, a Joana jamais teria a senha.

“Essa história de oferecer senhas de suas redes sociais é papo furado. Ele sabe que pra eu abrir nos perfis dele do meu celular ou notebook, precisaria da autenticação dele. E o celular dele mesmo tá todo trancado… ele nem cogita em me passar a senha!”

Eram pensamentos recorrentes, do tipo espiral, que não davam sossego à Joana.

A verdade é que encarar de frente a natureza cruel de nossas humanidades e consequentes fraquezas não é corriqueiro ou simples.

Em primeiro lugar, é um desafio entendermos  que o amor estremece, muda, se reinventa e, muitas vezes, acaba também. O amor também sexual pode perder força, mas ganhar a envergadura um amor quase fraternal, o que tem a chance de durar a vida inteira. 

O problema é que, numa relação amorosa, ego, orgulho, raiva e ressentimento  em geral não permitem aceitarmos mudanças assim. A não ser que os dois vivam a mesma situação e num mesmo grau de maturidade, o que não é comum.

Ou seja, não está sendo e não será fácil para Joana lidar com o que viu naquela noite no celular do Fábio.

Fábio chegou na varanda de mansinho:

– Acordou cedo… 

– Sim…não há tranquilidade  para dormir. Notícias do seu pai?

– Ainda não. Parece estar na mesma. Coquetel de corticoides e antibióticos. Mamãe vai fazer novo teste na segunda e se não tiver mesmo com covid, pensei em ficar uns dias com ela. Marcelo não consegue ficar lá direto. É esse fogo no rabo que ele tem que ferrou meu pai.

– Bom pra ela e bom pra você. Lá você estará à vontade para lives e sexo virtual noturno. Sem perigo de ser pego. Sua mãe dorme cedo.

Joana não queria ter feito piada nem ter deixado sua dor exposta. Mas, quando viu, já tinha falado.

“Por que eu sou tão idiota?” – pensou ela.

– Jô, você tem toda a razão de estar me odiando. Mas eu continuo sendo o mesmo cara. O mesmo caráter que você conheceu. Não pensaria nisso numa hora dessas

– Ah táaa. Um eunuco assexuado. Verdade!! Até o fim da vida, você  vira santo. Ou anjo… vai saber.

– Você quer falar sobre a Luiza? Quer que eu te conte tudo?

– Fábio, um lado meu está realmente curiosa pra entender o que te fez cair nessa assim. O que faltou por aqui? Claro que queria te ouvir… Mas o meu outro lado acha que seria masoquismo e que de nada adiantaria. Não sei se consigo mais me relacionar com você.

– E se eu não contar, passamos por cima disso e retomamos a nossa vida? Eu te amo, porra.

– Não sei se consigo.

– Então não há saída.  Se no seu mundo as pessoas são perfeitas e impassíveis de erros e fraquezas, é o fim mesmo.  Afinal, o mundo da Joana é o das pessoas perfeitinhas e ela é a presidente do clube dos infalíveis.

– Fábio, eu humildemente disse que não sei se consigo. Não esquece que a pisada de bola foi sua, e não minha. Eu só faço viver no automático e tentar nos proteger de um futuro que não conseguimos enxergar nesse momento. 

– Então, podemos conversar? Posso te explicar como tudo começou?

– Vamos pra cozinha. Vou preparar o café. Lá você me conta então. E se prepara pra segunda-feira ir pra casa da sua mãe por uma longa temporada. 


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