Todo o governante quando assume o mandato ganha umas férias da imprensa e da oposição. Ele chega com o poder dado pelo povo a muito pouco tempo, popularidade alta e aí qualquer absurdo que falar passa em branco. Mas aos poucos a tolerância vai diminuindo, diminuindo, até ir para o estado normal da relação imprensa x governante.
O governador Sergio Cabral Filho, teve um período de férias bem maior, seu pai é o sambista Sergio Cabral, envolvido com toda a intelectualidade carioca. Cabral Pai tem toda a liberdade para chegar para um, por exemplo, Jaguar se falar mal de seu filho e falar: "Pô cara, ele é meu filho, você pegou ele no colo", e aí fica mais difícil falar contra o filho do parceirão.
Só que Cabral tem dado algumas declarações que ficam no nível do absurdo, primeiro foi aquela de que ia renunciar para se candidatar a prefeitura do Rio, já que não queria que as boas relações com Lula se estremecessem. Até onde sei, os dois principais candidatos de Lula perderam no estado (Vladimir Palmeira e Crivella) e Cabral só passou a apoiá-lo no 2o turno, antes ficou em cima do muro.
Entretanto, como já disse semana passada aqui no Diário do Rio, ao defender o aborto como forma de diminuir criminaldiade, levou a imprensa a ficar diretamente contra Cabral. Afinal, você pode até ser favorável ao aborto, mas nunca a uma declaração desta: "Tem tudo a ver com violência. Você pega o número de filhos por mãe na Lagoa Rodrigo de Freitas, Tijuca, Méier e Copacabana, é padrão sueco. Agora, pega na Rocinha. É padrão Zâmbia, Gabão. Isso é uma fábrica de produzir marginal". Essa é uma declaração que não cabe a um filho de sambista.
Primeiro foi um editorial no Estado de São Paulo, ontem houve um belíssimo artigo do Elio Gaspari, onde cito aqui o trecho inicial:
QUANDO O GOVERNADOR Sérgio Cabral usou o trabalho do economista Steven Levitt ("Freakonomics") para defender o aborto como política de segurança pública, dizendo que a favela da Rocinha "é uma fábrica de produzir marginal", juntou, num só "bonde", oportunismo, impostura e ignorância.
Cabral é oportunista porque, em setembro de 1996, quando era candidato a prefeito do Rio, descascou seu adversário, Luiz Paulo Conde, por defender o aborto. Nas suas palavras: "Conde foi leviano. O que o Rio precisa é melhorar o atendimento na saúde". Continua oportunista ao tentar reescrever o que disse ao repórter Aluizio Freire, do portal G1, onde sua entrevista está conservada na íntegra.
Agora veremos menos elogios a Cabral e menos tolerância, as férias acabaram. Inclusive, já vi um blog falando mal de Cabral, mas pessoalmente não gosto deste tipo de blog ou site, mal humorados demais…
P.S.: vou evitar tocar neste assunto de novo, mas foi que a declaração me irritou bastante.