Alessandro Valentim: Força de Exu supera o luto para a construção de um belíssimo Carnaval

Recentemente, a Mocidade Independente de Padre Miguel sofreu com o falecimento de Márcia Lage, uma das carnavalescas mais respeitadas do samba, que ao lado do marido Renato Lage, ajudou a escrever desfileis memoráveis

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O Carnaval de 2025 começou marcado por perdas irreparáveis para agremiações do Rio de Janeiro. Recentemente, a Mocidade Independente de Padre Miguel sofreu com o falecimento de Márcia Lage, uma das carnavalescas mais respeitadas do samba, que ao lado do marido Renato Lage, ajudou a escrever desfileis memoráveis. A dor da Mocidade é a dor de todo sambista, mas a verde e branco de Padre Miguel segue forte, transformando luto em garra.

Do outro lado da cidade, a Imperatriz Leopoldinense passa por um dos momentos mais difíceis de sua história. A escola perdeu personalidades que ajudaram a criar sua identidade e viu partir aqueles que por décadas foram a alma da Rainha de Ramos. Entre eles, nomes como o campeão mestre-sala Chiquinho, o coreógrafo Fábio de Mello, membros da harmonia e compositores. A despedida mais sentida para este jornalista, foi a de Celsinho da velha- guarda, meu tio. Celsinho era a própria essência da Imperatriz. Quem passava pelas ruas de Ramos sabia que ele estava por perto ao ver um homem vestido dos pés à cabeça com as cores verde e branco. Para Cátia Drumond, presidente da escola, a partida dele também foi um golpe duro. Ela o adorava e reconhecia nele a personificação do que a Imperatriz representa, que é paixão, tradição e pertencimento.

Diante de tantas perdas, muitos poderiam esperar uma Imperatriz enfraquecida, abatida, mas Cátia, como Exu, transforma desafios em caminhos. Ela, que já havia assumido a escola logo após a morte de seu pai, Luiz Pacheco Drumond, e mesmo em meio ao luto, levou a escola ao título de 2023 e ao vice-campeonato de 2024, agora se vê diante de uma nova prova. Seu desafio não é apenas manter a escola competitiva, mas levantar o moral da comunidade, garantir que cada integrante entre na Sapucaí com brilho nos olhos e orgulho no peito.

Curiosamente, o enredo da Imperatriz para 2025 traz uma história que representa esse momento da escola. A narrativa gira em torno do itan em que Oxalá, contrariando o aviso do babalawo, decide visitar Xangô e enfrenta uma série de desafios impostos por Exu. Exu, muitas vezes incompreendido, não era um inimigo, mas sim o guardião do caminho, aquele que testa, que exige força e sabedoria. No fim, Oxalá supera as adversidades e é recompensado.

Cátia Drumond tem vivido essa trajetória na pele. Em cada perda, ela tem sido desafiada a manter a Imperatriz de pé. Como Exu, ela se reinventa, abre caminhos. Como Oxalá, ela resiste, supera e segue em frente, sabendo que o destino final é a consagração.

Neste Carnaval de 2025, quando a Imperatriz entrar na Sapucaí, não será apenas um desfile. Será um cortejo de homenagens, uma declaração de amor àqueles que partiram e um grito de resistência. Celsinho, meu tio, com certeza, estará lá, no coração de cada componente, nos tecidos verde, e branco e dourado, vibrando na avenida, na alma da escola.

E quando os tambores ecoarem na Sapucaí, a Rainha de Ramos mostrará que luto não é fraqueza, é força para lutar por mais uma estrela.

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