Felipe Lucena: Alô, alô, Realengo

Crônica responde ao texto do publicitário Washington Olivetto publicado no O Globo esta semana

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Parque de Madureira será um dos locais dos eventos. | Foto: Rafa Pereira - Diário do Rio

Muitas já foram as respostas ao texto do publicitário Washington Olivetto publicado no O Globo esta semana. Ótimas, inclusive. Eu também resolvi publicar uma. Não tão boa, mas sincera. Já que Washington falou que seu filho e a tropa dele fizeram vários rolés caros e inacessíveis para a maioria da população carioca e fluminense, darei dicas de passeios que cabem no bolso dos meros mortais que sobrevivem nesse Rio de Janeiro que continha sendo.

Olivetto contou que seu pupilo e os parças dele já foram recebidos com empadas de camarão, do Caranguejo, de Copacabana. Para combinar com a ideia do texto do publicitário, recomendo o “Ousadia”, um bolinho de abóbora com ora-pro-nóbis e coco, recheado com camarão, do Bar do David, no Morro do Chapéu Mangueira, vencedor do Comida di Buteco deste ano.

A tropa do filho do Olivetto caminhou, encantada, pela orla da Zona Sul, passando por Ipanema, Leblon. É bonito mesmo. Mas outras partes menos ricas da cidade também têm seu valor. Deem um rolé pelo Morro da Conceição, os bairros da Zona Portuária. De lá também dá para ver o mar. E custa menos.

A muqueca di crostacei e pesce do Satyricon custa R$ 398. O prato serve duas pessoas. Para seis (Theo e os amigos) se alimentarem, precisariam pagar R$ 1.194. É quase um salário mínimo. Tem gente que passa um mês com esse dinheiro. Para comer mais barato no Rio, existem opções. Na Toca do Baiacu, na Rua do Ouvidor, no Centro do Rio, tem moqueca também.  A de tamboril custa R$ 25. Toca, inclusive, deu no New York Times. Mais fácil para a tropa do Olivetto conhecer.

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Já que eles foram na feijoada da Portela, poderiam ter esticado até o Império Serrano. Ali pertinho, pô. Dava para pegar um Jongo da Serrinha. Ou o Parque de Madureira, onde acontecem shows de graça e tem bastante coisa para fazer, dar boas caminhadas e ter uma pós-graduação de vida. Tem o viadulto também. Anotem aí.

Em um determinado dia da semana, Theo, o filho do Olivetto, e seus amigos “acordaram culturebas”, segundo o publicitário. Eles passearam por museus da cidade. Seria bem legal se fossem na Pequena África, um verdadeiro museu a céu aberto, muito das nossas história e cultura estão por lá. O Cais do Valongo está meio largado, porém, sempre vale ir lá.

Na segunda-feira, a tropa do Olivetto foi à praia. De Ipanema. Eu recomendaria uma faixa de areia e água que eles não veem da janela. Um carro de aplicativo até o Recreio os deixaria na boa, na Praia da Macumba ou no Grumari, eleita uma das 50 mais lindas do mundo, segundo o site de viagens Big 7 Travel. Eu concordo. Para aquelas bandas ainda tem Abricó. Mas aí é ousadia demais, né? E se curtem natureza mesmo, o Parque da Pedra Branca tem altas trilhas e cachoeiras. É de graça.

Jogaram frescobol, esporte criado no Rio de Janeiro. A altinha, também cria do Rio, nem foi jogada pelos rapazes. Se quiserem jogar uma pelada, eu vou a uma toda segunda-feira, na Taquara. Só aviso logo para tomarem cuidado com Marcelo BRT. É um zagueiro que tem lá e sempre chega atrasado nas divididas. Meu joelho dói só de lembrar da última.

Aqui no Rio, Theo e os amigos assistiram A Lei da Selva, o documentário dirigido por Pedro Asbeg, que fala sobre o Jogo do Bicho. Não sei se chegaram a fazer uma fezinha, mas vale a pena. Como diz a música Engenho de Dentro, de Jorge Ben, que eles encontram aqui na cidade, prudência e dinheiro no bolso não fazem mal a ninguém. Nessa mesma canção, Ben cita o pai do Theo: “A cabeça do Olivetto/É igual a uma cabeça de negro/Muito QI e TNT do lado esquerdo”.

No Arpoador, os garotos que estavam comemorando a aprovação para a faculdade, ficaram com inveja dos surfistas. Que bobeira, rapeize. Era só entrar na água e pegar uns jacarés. Com os chinelos nas mãos. Curtiram um samba no Beco do Rato. Bom demais. Na próxima, conheçam outras rodas pela cidade. Tem algumas bem famosas, como a da Volta, da Pedra, o Que Elas Querem e outras. Cola no pai. Quer dizer, não cola no pai.

Eu nunca havia visto ninguém chamar o Maracanã de “Museu do Futebol”. Mas o Olivetto chamou e falou que o bonde partiu para lá na sexta-feira à noite. Bom rolé. A boa é, também, vir ao Rio em época de Campeonato Carioca. Partidas em Madureira, no Conselheiro Galvão, ou em Bangu, no estádio Moça Bonita, são inesquecíveis. De verdade. Futebol. Nada de soccer. Bangu fica perto de Realengo, inclusive. Aquele abraço.

Tomaram café da manhã com vista para a Livraria da Travessa. Na Folha Seca também dá para amassar um pingado com boa leitura sobre diversos temas. Do lado da Toca do Baiacu. À noite, eles flertaram na Zona Sul. Talvez ignorando que apesar dos pesares, a Lapa ainda tem o nome da pegação na cidade.

Olivetto disse que o filho e os amigos foram para o céu. Só que nem subiram o morro. A vista lá de cima também é bonita. De lá, mesmo com os momentos de purgatório e inferno, dá para mirar algum paraíso, manter o sonho vivo e notar que o Rio de Janeiro continua sendo. 

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4 COMENTÁRIOS

  1. Poderiam ter ido saborear a batata de Marechal reconhecida como patrimônio cultural do Estado do Rio reconhecido reverenciada ate pelo Snoop Dogg pela porção generosa, os quiosques no Parque Madureira com vasta gastronomia, musica ao vivo, charme, pagode, samba e MPB. A CADEG com polo de gastronomia exuberante, a Pedra de Guaratiba com peixes e frutos do Mar, o Baile Charme embaixo do viaduto de Madureira, enfim uma programação pra lá de carioca que só quem conhece sabe……….. A cidade pulsa no subúrbio……..

  2. Agente precisa entender que eles fazem parte de um grupo que pertencem a outra realidade. Eles nunca vão ter o nosso olhar!
    Não que eles não querem, mas não alcançam…

  3. Vejo o texto como interessante. Cada um dá aos filhos o que têm. Alguns dão o que não tem, isso sim é preocupante. A recepção que ele proporcionou aos amigos do filho, foi maravilhosa, pudera eu ser ciceroneada assim. Não sei por que tanto mi-mi-mi. Quando o homem tem dinheiro pra gastar e o fez com bom gosto. Parabéns W.O. E porque não? Parabéns ao Felipe Lucena pelo contraponto, muito bem apresentado nessa crônica,mesmo que denotando um certo incômodo.

    • Mi-mi-mi? Tem gente passando fome, muita gente, e este bobalhão publica uma coluna ostentação? Preocupante são as mães que dão para os filhos a comida que não tem pra ela?
      Poderia ter proporcionado tudo isto ao filhinho do papai e seus amigos, mas pra que publicar?????????????????????

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