André Luiz Pereira Nunes – Gersinho: o habilidoso meia que barrou Geovani

A história de quando um craque tirou o outro do time

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Em julho de 1985 o Vasco da Gama vivenciava a expectativa de disputar a Taça Libertadores da América. Os bastidores estavam movimentados. O período em São Januário era de intensa turbulência devido às costumeiras guerras políticas que antecedem as eleições. Em meio a essa e outras dificuldades, a diretoria capitaneada pelo saudoso Antônio Soares Calçada se aplicava para montar um elenco em condições de fazer uma boa performance no torneio sul americano. Contudo, seria em vão, pois o time foi eliminado na primeira fase.

Após frustradas as tentativas de contratação dos zagueiros De León e Delgado, respectivamente da seleção uruguaia e paraguaia, o Gigante da Colina apresentou como principal reforço para a campanha o meia Gersinho, do União Barbarense, o qual se encontrava emprestado à Ponte Preta e era um de seus principais destaques. Na ocasião, o apoiador, notabilizado pelo bigode, acabou contratado em meio a uma transação repleta de lances pitorescos e policialescos já que o time campineiro tinha a opção de compra de seu passe, mas se esqueceu do prazo de opção e acabou perdendo o jogador.

– Tive que sair quase fugido de Campinas. Até hoje os dirigentes da Ponte me ligam dizendo que vou retornar para lá porque estão se movimentando para tornar ilegal a minha transferência para do União para o Vasco, declarou na época em entrevista.

O armador estreou justamente na abertura da Libertadores contra o Fluminense, um 3 a 3 no Maracanã, entrando no lugar de Geovani, com quem daí em diante iria sempre disputar posição na meia cancha. Por ter sido escalado de maneira atabalhoadamente irregular, o Vasco perderia o ponto daquela partida.

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Gérson Sebastião Moisés surgiria como uma jóia no Guarani. Profissionalizado aos 16 anos, fez parte, como reserva de luxo, do elenco campeão brasileiro em 1978.

– Depois dos 11 titulares daquela equipe, fui o que mais joguei naquele campeonato, relembra.

Suas ótimas atuações o levaram a vestir a camisa da Seleção Brasileira sub-20, em 1979, comandada por Mário Travaglini. Também defendeu a Seleção Paulista de profissionais dirigida por Dudu.

Após algum tempo atuando no alviverde de Campinas se tornaria ídolo da torcida. Acabou então despertando, em 1983, o interesse do Barcelona. Parecia ser a grande oportunidade de sua carreira, mas a sua estada só duraria 3 meses. O clube catalão possuía naquele tempo dois times. O principal jogava a primeira divisão espanhola e já contava com dois estrangeiros: Diego Maradona e Bernd Schuster. O outro, intitulado Atlético Barça, atuava na divisão de acesso. O meia brasileiro integrava justamente a equipe aspirante e já havia marcado 11 gols em 7 partidas. Porém, um dia o treinador César Menotti entrou na sala da presidência e disse que não desejava mais contar com o seu futebol, preferindo um jogador argentino. Mesmo aborrecido, mas de cabeça erguida, o atleta teve seu passe comprado pela União Barbarense, cujo presidente, Manuel Soares, era muito poderoso financeiramente. Dali foi emprestado à Ponte Preta.

Pelo Vasco, em 1985, atuaria em 28 jogos, fazendo 2 gols. No ano seguinte, em 32 jogos, assinalou 5 gols. O seu primeiro foi marcado em um amistoso em São Januário contra a Seleção de Camarões. Os cruzmaltinos venceram por 5 a 0.

Coincidência ou não, o treinador Cláudio Garcia cruzaria desastrosamente o seu caminho em duas oportunidades e em ambas o afastou do time. Primeiro, em 1979, no Guarani. “Ele não serve. Dribla muito, mas prende exageradamente a bola”, teria dito. Em 1986, o mesmo comandante o deixou no banco. Aliás, Garcia detém um dos piores retrospectos como treinador do Vasco. Sob seu comando a nau vascaína ficou 13 jogos sem vitórias, um verdadeiro fiasco. Uma de suas piores medidas foi barrar o astro ascendente Romário e colocar em seu lugar o obscuro Tuíco. O Baixinho em várias entrevistas manifestou que foi o seu pior treinador em toda a sua carreira.

A partir da chegada de Joel Santana, Gersinho acabaria voltando ao time titular aclamado pela torcida, assinalando 3 gols em 4 partidas e ajudando o Vasco a se classificar à segunda fase do Campeonato Brasileiro. Chegou até a arrancar elogios de Roberto Dinamite.

– Ele é um exímio lançador e dá velocidade ao time, recordava na ocasião, em declaração à Placar.

Por diversas vezes barrou Geovani, que não vinha mesmo atravessando boa fase. A torcida vascaína relembra com carinho o pôster do time campeão da Taça Guanabara de 1986. Na foto vemos Gersinho, e não Geovani, posado com a equipe vencedora.

Ainda em 1986 fôra emprestado ao Sporting de Braga com o preço do passe fixado, permanecendo nessa equipe até 1988, quando foi adquirido pelo Aves, time o qual encerraria sua carreira, devido a problemas familiares, em 1991.

Já fora das quatro linhas, passou a buscar talentos pelo interior do Brasil, sendo o responsável por levar Elano, Léo e Renato para o Santos. Também foi auxiliar-técnico do falecido Oswaldo Alvarez, o Vadão.

Apesar da ausência de títulos relevantes em São Januário, Gersinho é lembrado com afeto pela torcida cruzmaltina. O Vasco passava por uma difícil fase de transição. Mas os triunfos não tardariam a vir nos anos que se seguiriam.

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André Luiz Pereira Nunes é professor e jornalista. Na década de 90 já escrevia no Jornal do Futebol e colaborava com Almir Leite no Jornal dos Sports. Atuou como colunista, repórter e fotógrafo nos portais Papo Esportivo e Supergol. Foi diretor de comunicação do America.
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