André Luiz Pereira Nunes – Vitória do Íbis: será o fim da sina de pior time do mundo?

Time estreou vencendo na Série A2 do Campeonato Pernambucano

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Um fato deveras inusitado chamou a atenção da imprensa e das redes sociais no domingo, 18 de outubro. Na estréia do Íbis, pela Série A2 do Campeonato Pernambucano, ocorreu uma grande surpresa. A equipe rubro-negra, notabilizada por ser a pior do mundo, goleou a Cabense, de Cabo de Santo Agostinho, pelo placar de 4 a 0. Romarinho, duas vezes, e Diego assinalaram. Para fechar a goleada, com chave de ouro, o outro tento foi contra. Porém, o que deveria ser um motivo de júbilo para qualquer time, diretoria e torcida, na verdade provocou uma verdadeira ira muito bem-humorada, se é que assim podemos dizer, nas redes sociais. 

 “Fim de jogo. Cabense 0 a 4 Íbis. Péssima estreia!”, publicou a conta oficial do clube pernambucano no Twitter.

Contudo, Diego e Romarinho, astros da partida, prometeram contrariar as esperadas tradição e expectativas nessa temporada.

– A torcida vai ter raiva da gente esse ano porque vamos rumo ao título”, declarou um exultante Diego ao portal de notícias UOL. Já o companheiro Romarinho não deixa por menos.

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– A galera tem que deixar de ver esse time como o pior do mundo, pois quem faz o Íbis somos nós e estamos em busca da primeira divisão”, afirmou em entrevista ao mesmo veículo.

Fundada a 15 de novembro de 1938, a agremiação rubro-negra chegou a entrar para o Guinness, o Livro dos Recordes, por ter registrado a incrível marca de três anos e onze meses sem uma única vitória. Foram nove derrotas seguidas e um desempenho pífio de 23 partidas sem triunfos. Ao bater o Ferroviário por 1 a 0, em 20 de julho de 1980, o Pássaro Preto só voltaria a ganhar novamente em 17 de junho de 1984, quando bateu o Santo Amaro por 3 a 1. Vale ressaltar que superara assim o próprio recorde, ocorrido entre 1978 e 1979, quando permaneceria 19 jogos sem vencer. Ou seja, não há o que contestar. O time é muito ruim mesmo!

Na época, os jornalistas passaram a fazer inúmeras brincadeiras a partir da fama do Íbis, definindo-o então como o “Pior de todos os tempos”. Não tardaria para a onda se espalhar. Mas a alcunha, que para muitos seria depreciativa, foi na verdade utilizada como uma espécie de trunfo de marketing. A equipe acabaria se tornando mundialmente conhecida devido à irreverência contida na sua história.

Em 2017, o Íbis fôra mais longe do que o previsto na disputa da Série A2 do Campeonato Pernambucano. Na primeira fase do estadual, conquistou o feito histórico de permanecer seis jogos sem derrotas, com o retrospecto de quatro vitórias e dois empates, só caindo no mata-mata. Em tom jocoso, seus torcedores iniciaram protestos por conta da sequência invicta e, de forma bem descontraída, alegaram que só voltariam a apoiar o clube quando fossem feitas as “pazes com a derrota”, o que duraria 390 dias.

Na mesma ocasião, na tentativa de angariar recursos, os dirigentes lançaram uma campanha completamente inusitada tendo como garoto-propaganda o ex-ídolo Mauro Shampoo. Provavelmente se tratava da mensalidade mais barata da história do futebol brasileiro, pois bastavam apenas R$ 2 por mês para se tornar um sócio-torcedor da agremiação.

“Ajude com apenas 2 reais o nosso time a perder” era o mote da iniciativa. Os novos sócios ainda concorriam a kits contendo camisa, calção e meião, além de desconto na compra dos ingressos dos jogos.

O advento e a popularização das redes sociais amplificariam ainda mais a fama do Íbis, que passaria então a “cornetar” e até desafiar equipes internacionais. Algumas mensagens no Twitter exploram esses cômicos momentos:

“O treino de hoje foi tenso. Nossos atletas estão na expectativa de uma possível convocação para a Copa do Mundo. Teve até jogador fazendo corpo mole, tirando o pé em certas jogadas. A maioria com medo de uma possível lesão. Seja justo, Tite!”

— Íbis Sport Club (@ibismania), em 14 de maio de 2018.

“O PSG foi campeão vencendo por 7 a 1 o segundo colocado do francesão. Competição de altíssimo nível. Lembra muito o campeonato que jogamos, a 2ª divisão do Pernambucano. Parabéns!” — Íbis Sport Club (@ibismania), em 15 de abril de 2018.

“Muita gente perguntando se vamos fazer um amistoso contra o @sportrecife hoje. Entendemos que o time está sem jogar e se preparando para o Brasileirão. Mas não vamos jogar. Preferimos enfrentar um time mais forte. Parem de espalhar boatos. Obrigado!”— Íbis Sport Club (@ibismania), em 11 de abril de 2018.

O time foi concebido como um meio de entretenimento para os trabalhadores da Tecelagem de Seda e Algodão de Pernambuco (TSAP). A princípio, apenas funcionários da empresa jogavam e, mesmo assim, em partidas amistosas. Posteriormente, com o crescimento, a equipe se profissionalizou, tornando-se inclusive uma das fundadoras da Federação Pernambucana de Futebol. Com o passar do tempo, as dificuldades foram surgindo, culminando no abandono por parte da companhia. Daí, a Família Ramos abraçou a iniciativa e a mantém até hoje. O símbolo é um pássaro mitológico: a íbis sagrada do Egito antigo. Já a cor rubro-negra é uma referência ao escudo da TSAP.

Resta saber se o “Pior time do mundo” engrenará uma sequência histórica de vitórias, contrariando, desse modo, a sua peculiar e irreverente trajetória de insucessos nas quatro linhas. Não seria a primeira vez. Em 1999, a escrita foi quebrada. O Íbis se sagrou vice-campeão estadual da segunda divisão. 

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André Luiz Pereira Nunes é professor e jornalista. Na década de 90 já escrevia no Jornal do Futebol e colaborava com Almir Leite no Jornal dos Sports. Atuou como colunista, repórter e fotógrafo nos portais Papo Esportivo e Supergol. Foi diretor de comunicação do America.
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