Apartamentos térreos sofrem com abandono na Zona Sul

O mercado imobiliário está em recuperação, mas os apartamentos térreos se tornaram o que os corretores chamam de "caveira de burro". A dificuldade de serem vendidos é enorme, e nem mesmo o raio gourmetizador que os transformou em "gardens" está dando jeito.

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Apartamento térreo do aristocrático Edifício Lellis tem tantas placas que mal cabem na fachada
Imóvel à venda no Rio de Janeiro, com diversos corretores / Foto: Diário do Rio

O mercado imobiliário tem tentado criar eufemismos para tratar de um velho conhecido de todos. O apartamento térreo. Nos novos lançamentos, foi apelidado de “garden“, mas ainda costuma ser o último a ser vendido, segundo especialistas. Uma gourmetização imobiliária, sem sombra de dúvida. A verdade é que, com o crescimento desordenado da cidade, ao menos nos bairros mais movimentados, estes imóveis se tornaram muito indesejáveis e os corretores, mesmo com seus argumentos otimistas, não conseguem mudar o fato de que, ao menos no Rio, se tornaram grandes elefantes brancos. E isto vem continuando apesar do grande aumento das vendas de imóveis ocorrido nos últimos meses.

Na Rua Jardim Botânico, 179, um apartamento térreo está para alugar há nada menos que 8 anos. Telefonamos pra imobiliária responsável, que disse que o imóvel tem incríveis 4 vagas de garagem e que pode ter uso misto. Segundo vizinhos, a última locação foi para a churrascaria Rubayat, que usava para dormitório de seus garçons. O valor do rateio condominial é de apenas 500 reais. Mas parece que ninguém quer morar ou trabalhar com a cara na grade da entrada do edifício, sujeito ao cheiro de urina e fezes de moradores de rua. No telefone, numa segunda tentativa, nos disseram que o imóvel finalmente teria sido alugado. Quem viver verá.

Em Copacabana, bairro que sofre com a proliferação da mendicância e com o verdadeiro “reinado dos pivetes“, nas palavras do síndico de um edifício da Rua Barão de Ipanema que pediu para não ser citado, a situação é pior. Praticamente todos os apartamentos térreos da Avenida Atlântica – e é verdade que só prédios mais antigos costumam ter este tipo de unidade – ostentam placas de vende-se ou aluga-se. A quantidade de mendigos, pedintes e camelôs na avenida que beira a praia mais famosa do Brasil faz inveja a Bombaim ou Nova Delhi.

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A tranquilidade do morador de rua que dorme em frente à fachada do Edifício Lellis, na Avenida Atlântica, é um achado. Na hora da foto, o fotógrafo do DIÁRIO DO RIO foi advertido por outros seis, que consumiam drogas, de que não os fotografassem. A porta do apartamento térreo é uma pequena cracolândia.

Na Avenida Atlântica, 2984 está o famoso edifício Lellis, que até já foi objeto de uma reportagem aqui. Aristocrático, debruçado sobre a praia mais famosa do Brasil, foi construído em 1928 e é famoso por seu elevador histórico com espelhos belgas e jacarandá, sua aconchegante portaria totalmente restaurada e sua fachada em estilo eclético do arquiteto Cristiano Stockler das Neves, um dos maiores nomes da arquitetura brasileira. Seu apartamento térreo chama atenção com a quantidade de placas e faixas de corretores dos mais diversos, tentando vender o imóvel, que já pertenceu a um famoso dentista. As placas estão lá há mais de um ano. Procuramos os porteiros, mas eles informaram que não têm autorização do síndico para comentar. Mas o carioca gosta de bater papo, e um funcionário de uma moradora acabou comentando que o imóvel é alvo de discórdia no prédio, que sofreria com o acúmulo de lixo e muitos mosquitos no jardim, que não receberia qualquer cuidado e serviria de moradia para ratos e baratas. Segundo ele, o dono seria um professor universitário de Brasília, que por mais de 5 anos tentou alugar o apartamento, sem sucesso.

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Heloiza Maldonado, moradora de Copacabana, falou conosco sobre o assunto. “Este apartamento térreo está vazio há pelo menos 15 anos. De vez em quando alguém pinta suas grades, mas é conhecido por todos como um foco de mosquitos, e pelo acúmulo de lixo no seu – abre aspas – jardim, que na verdade é um monte de plantas desordenadas que acumulam folhas e mais mosquitos.” Ela disse que, apesar do óbvio abandono do imóvel, que está com 4 placas de corretores que tentam vendê-lo, a culpa não é só do proprietário. “Todo mundo que passa ali joga no jardim desde camisinhas usadas, até cápsulas de cocaína, colheres queimadas de crack e lixo de todo o tipo, como garrafas de cerveja e latas de refrigerante“, sentencia.

Segundo um dos vários corretores que vem tentando vender o (mesmo) imóvel, o proprietário pede R$ 1.600.000,00 pelo apartamento, que estaria precisando de modernização e reforma totais, além da óbvia necessidade de limpeza e paisagismo no jardim. Segundo o corretor, o apartamento teria uma cozinha grande e antiga, biblioteca, sala e dois quartos, em estado original, e não possui nenhuma vaga de garagem. No mesmo prédio, um apartamento bem maior, de 140m2, também precisando de muitas reformas, está à venda por R$ 1.500.000,00. Será que o térreo vale mais que um apartamento comum?

Claro que não. O térreo é a unidade menos valorizada de qualquer edifício. E se o térreo for de frente pra rua, a situação se agrava. Além de estar sujeito à violência urbana, à sujeira, à ação de moradores de rua e ao mau cheiro, ainda sofre com o lixo que moradores dos andares superiores acabam jogando ou deixando cair. E pra piorar, paga manutenção de elevadores igual todo mundo, mesmo sem usar. É um tipo de imóvel muito especial, e que normalmente só vendemos para idosos ou pessoas que não podem subir escadas ou têm medo de elevador. Ou então, vendemos por ser muito mais barato que as outras unidades do mesmo prédio“, afirmou ao DIÁRIO DO RIO André Toledo, Diretor da Block Imóveis, corretora especializada em imóveis residenciais.

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Em Copacabana, a proliferação de mendigos criou verdadeiras cracolândias na porta até mesmo de lojas comerciais. A situação se agrava quando são térreos residenciais, pois os comerciantes costumam ter postura mais pro-ativa e menos medo de enfrentar o problema de frente. Foto da Avenida Prado Junior, em Copacabana (GRUPOS DE FACEBOOK)

Será que com a nova administração da cidade os apartamentos térreos voltarão a ter algum valor? O movimento de vendas de imóveis na cidade do Rio de Janeiro em Novembro de 2020 foi o maior dos últimos 10 anos, segundo estatísticas oficiais da Prefeitura do Rio. Mas a grande maioria dos apartamentos térreos que estavam à venda antes mesmo da pandemia continuam com suas placas de vende-se. A verdade é que, neste momento, tudo que os proprietários de imóveis deste tipo querem…é vendê-los.

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15 COMENTÁRIOS

  1. Depende da localização do apartamento térreo. Caso seja nos fundos do prédio com uma área externa, torna-se um local agradável e bem utilizado ainda mais no verão.
    Digo isso por ser vizinha de dois apartamentos térreos com área externa em Laranjeiras, e posso afirmar que as duas famílias curtem muito a área externa, o que aumenta a possibilidade de lazer dentro de casa.

  2. Quem é da zona oeste e da zona norte e está lendo esse artigo: saiam do RIo de Janeiro, o Brasil é muito maior do que isso e existem excelentes lugares para morar. A vida não é só pegar ônibus e tomar tapa na cara de polícia/traficante. Quem é da zona sul, meus pêsames.

  3. Realmente tá com MT mendigo mesmo. Lá na altura do posto 5 e 6 é onde tem mais, usam crack à luz do dia. Mas os mendigos existem em grupos por toda a parte. Tem uns grupos cativos na faixa de areia com cachorros no posto 3. Na minha região, posto 2, de madrugada, é uma confusão, quebra-quebra, gritaria etc. Como mostra a foto da Prado Júnior. Mas de onde eles vêm? Será que com a crise estão saindo das favelas de em torno? Copacabana tá parecendo o largo da Lapa.

  4. Um dos mais graves problemas do
    Brasil e do mundo, gente sem a mínima condição econômica e emocional, enchendo o mundo de filhos, muitos dos quais vão perturbar a sociedade.

  5. A venda de imóveis esta em alta na zona sul? Fala serio, na crise que vive o pais e o povo por conta dessa pandemia onde ninguem tem dinheiro, só pode ser matéria paga para incentivar os trouxas.

  6. Não me espanta haver comentário hipócrita reclamando (possivelmente de algum proprietário de uma dessas furadas, doido para desová-la para algum desavisado)!

    A verdade é que assim como vista ou proximidade de favela desvalorizam absurdamente qualquer imóvel (só otário paga valor alto nessas roubadas), imóvel térreo sujeito à barulheira dos transeuntes, veículos e botecos, à sujeira do nosso povo sem educação que descarta lixo em qualquer lugar que não seja uma lixeira, às hordas de pivetes, e sobretudo ao cheiro de urina e fezes de mendigos que ocupam as calçadas é missão para masoquista nível top. Quando ainda se trata de imóvel sem garagem, eu não desejaria nem de graça pois teria que arcar com IPTU, condomínio e dependendo do local até laudémio, para um buraco onde passaria muita raiva e stress todos os dias! A vida já não é fácil para ninguém, por que torná-la muuuuito mais difícil?

    P$: Pedir R$ 1.600.000,00 por uma pocilga dessas com apenas 2 quartos e uma cozinha velha (imagino o quanto não seja decrépito tal imóvel, tal qual muitos caindo aos pedaços que vemos na zona sul), ainda por cima sem garagem, é verdadeira insanidade. Deveria comemorar se achasse um trouxa disposto a pagar 400 mil nele, isso pq os preços da zona sul estão mega inflacionados. Enquanto isso é ficar arcando com IPTU, condomínios e demais despesas enquanto ele acaba de ruir e até que moradores de rua ou sem teto o invadam. Total falta de bom senso!

  7. Texto de péssimo gosto, que mostra total desconhecimento do mercado, denigre a imagem dos apartamentos térreos, generaliza situações incompatíveis, desconhece a nova tendência dos apartamentos Gardens que junto com as coberturas sãos os primeiros a serem vendidos em qualquer lançamento. Deveriam excluir esse texto que só desinforma.

    • Deixa de história Terezinha, minha família tem vários imóveis na zona sul, o que mais tem hoje são mendigos, vendemos um dos nossos na barata ribeiro ano passado por 30% a menos do que os apartamentos normais, ninguém quer mendigo e pivete jogando pedra na sua janela. Mas o Dudu está de volta, ele enche ônibus de mendigos e despacha lá pra Magé. O Rio vai voltar a ser o que era, pode guardar minhas palavras.

    • Fogo né? Deve estar super difícil desovar a roubada que vc tem em suas mãos e ainda vem uma matéria dessas alertar os raros trouxas para quem poderia tentar passar a dor de cabeça? Mundo cruel!

  8. A culpa é da prefeitura, ratos administradores são o caos da desordem pública. A cidade está entregue a camelôs, mendigos, viciados e ladrões que fazem plantão a noite. O negócio e dormir com arma de baixo do travesseiro e lascar fogo nesses merdas.

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