
Um possível empreendimento imobiliário, planejado para ocupar uma extensa área verde conectada a uma praça tradicionalmente voltada para o entretenimento e a política assim como a luta social no Centro do Rio, anda gerando indignação entre especialistas, arquitetos, e urbanistas. No lugar conhecido como o “Buraco do Lume” – um terreno retangular de quase 3.000m² hoje gramado e arborizado – o projeto promete transformar a paisagem da região, trazendo novos moradores para o Centro, mas também levanta questões sobre o uso de espaços públicos e o impacto urbano do local: uma simulação mostra o enorme paredão que vai surgir mudando a ambiência de toda a região (foto principal).
Este terreno é basicamente o que resta desocupado do antológico Morro do Castelo, onde nasceu a cidade. Nunca teve uso privado de ninguém, e se tornou privado por linhas transversas. Era uma área pública que foi desmembrada e vendida pelo extingo Banco do Estado da Guanabara (BEG) e acabou jamais sendo efetivamente paga, pois quem prometeu comprar e pagar – o extinto Grupo Lume – faliu antes de quitar o pagamento originalmente combinado. Depois disso, o Estado e a Prefeitura sempre bloquearam a edificação no local, que acabou sendo adquirido num leilão por um investidor imobiliário.
Em dezembro do ano passado, o DIÁRIO DO RIO revelou a existência de um mega projeto, que estava em fase de liberação, a ocupar finalmente o jardim em frente ao Terminal Garagem Menezes Côrtes, onde antes existia uma construção inacabada, tombado e posteriormente convertido em parte da praça pública. O projeto seria de um edifício residencial, com quitinetes — seguindo a nova tendência imobiliária do Centro — e lojas na fachada, algo exigido em novos empreendimentos por lá, as chamadas “fachadas vivas”. A proposta – controversa – de erguer um paredão no local é vista por alguns como parte das iniciativas de revitalização do Centro, uma área que a prefeitura tem se esforçado para reabilitar nos últimos anos, promovendo o uso misto de espaços com lojas no térreo para dinamizar a região. Mas a que custo?

O X da questão vem agora. O terreno arborizado e seu entorno têm um significado histórico e político profundo, e a possibilidade de um edifício privado se erguer ali gerou uma onda de resistência. O projeto está em fase de análise, o que foi confirmado pelo DIÁRIO DO RIO. Em nota enviada à redação, o gabinete do prefeito Eduardo Paes (que inclusive já se pronunciou claramente no passado contra a construção de um prédio na praça), informou que “se aprovado, deverá seguir a legislação em vigor […] Além disso, os órgãos responsáveis pelo entorno de bens tombados serão consultados durante o processo.” Ou seja, parece que o alcaide mudou de idéia, não sem antes aprovar – o fez no Reviver Centro 2 – um projeto que transformou o terreno em Área de Gabarito Ilimitado: numa faixa imaginária que contém o Lume, o construtor pode sonhar e submeter projetos de qualquer altura. Mas que pensam os urbanistas sobre isso? Consultamos o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade – IRPH, responsável pelo patrimônio cultural da cidade, que preferiu não comentar o polêmico assunto.


Buraco do Lume
Uma área que foi um “buraco” durante várias décadas devido a um projeto falido da empresa LUME, passou a ser um jardim, parte da Praça Mário Lago (antiga Melvin Jones), das áreas mais simbólicas da luta política e social no Centro do Rio. No final de 2022, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj) liderada pelo deputado Rodrigo Amorim, aprovou o destombamento do terreno, permitindo que ele fosse transformado em um espaço para construção de um grande edifício residencial, o que foi visto por ele como uma tentativa de aproveitar melhor a área sob a ótica do planejamento urbano. Mas ainda havia entraves na prefeitura, e uma postura dela contrária ao projeto. Para uns, reviver o Centro justifica qualquer coisa. Para outros, é um sacrilégio.

No entanto, a decisão da ALERJ na época não agradou a muitos especialistas e defensores do patrimônio histórico. Em janeiro de 2023, o arquiteto Manoel Vieira (hoje Secretário Municipal de Emprego e Renda) e o historiador Paulo Knauss, membros do Conselho Estadual de Tombamento, solicitaram um tombamento emergencial do Buraco do Lume, argumentando que a área possui um valor histórico ligado ao Plano Agache – plano urbanístico da década de 1930 que moldou a cidade do Rio – e ao conjunto de edificações da época do desmonte do Morro do Castelo. Para eles, o projeto de destombamento representou uma ameaça ao patrimônio cultural e ao legado da cidade. Mas, por enquanto, a questão estadual ficou por isso mesmo. Mas ainda há a necessidade de a prefeitura aceitar a destruição definitiva do jardim.
Até mesmo os maiores entusiastas da revitalização do Centro têm sentimentos cruzados. “Antes de tudo, o Centro do Rio precisa de pessoas morando. Famílias, crianças, e jovens habitando a região central darão a sustentabilidade necessária para uma regeneração urbana duradoura. Não podem ser apenas moradias de temporada mas lares de fato, também considerando os trabalhadores que já usam a área cotidiamente”, afirma o urbanista Washington Fajardo, aliado de primeira hora do Prefeito Eduardo Paes. Para Fajardo, esta “sempre foi a orientação da administração Eduardo Paes em seus três exitosos mandatos e são o espírito do Porto Maravilha e do Reviver Centro.” Mas para o arquiteto que gestou a legislação do Reviver Centro, “nunca subtraindo as amenidades ambientais da área. Um grande desafio do Centro é a apropriação do espaço público pela população, que precisa ser cada vez mais organizado, seguro e verde.” E é aí que a história vira: “é urgente que o Ministério Público analise as questões fundiárias envolvidas nesta faixa de terra que é um remanescente direto do Morro do Castelo, cujas apropriações do extinto Banco do Estado da Guanabara e posterior venda mal concretizada pela falência do grupo adquirente necessitam de um due diligence, que é a verificação fina documental e registral, em perspectiva histórica”, cita, demonstrando que a necessidade de atrair moradores para a região deve ter certas limitações.
A secretária de Meio Ambiente e Clima do Rio – além de arquiteta e urbanista – Tainá de Paula se manifestou também contra o uso do terreno para a construção do empreendimento. Para ela, a destinação de parte da praça para um edifício privado não é razoável, especialmente em uma área já densamente ocupada. Tainá defende a requalificação de imóveis e terrenos ociosos, e não o uso de espaços públicos para fins privados.
A construtora mineira Patrimar, que estaria envolvida no projeto, confirmou que está avaliando a oportunidade de investir na área, mas se limitou a esta nota bem breve. Como aliás todos ligados à Prefeitura têm feito, aparentemente evitando “colocar a mão na cumbuca”. Uma cumbuca com Gabarito Livre… Há quem estranhe especialmente o silêncio do órgão de patrimônio municipal.
Nocivo ou necessário?
O arquiteto Fernando Costa, da Cité Arquitetura, seria o responsável por desenvolver o novo projeto de um prédio gigante para o terrenaço e afirmou em 2023 — quando começaram a circular as informações preliminares — que a proposta estaria dentro da legislação do Reviver Centro e que seria mais uma construção a trazer movimento para o Centro do Rio, no que disse considerar sua região mais nobre.
O urbanista Fajardo, maior defensor da revitalização, pondera: “Importante também salientar que as decisões públicas nos últimos 40 anos sempre foram pela manutenção desta faixa de terra como espaço livre, algo precioso no Centro do Rio, e sem edificabilidade. Sempre melhor intensificar as checagens para garantir segurança jurídica e defesa do interesse público numa área tão crítica para o presente e futuro do Rio.”
Especialistas como Leila Marques, conselheira do CAU/RJ, questionam a viabilidade social e histórica do projeto. Para Leila, a ocupação do Buraco do Lume por um empreendimento privado não atende aos interesses da população, especialmente quando o terreno foi integrado à praça e passou a servir à coletividade.
“Primeiramente, é bom que se esclareça que de ‘buraco’ o terreno não tem mais nada, só o nome. De lá pra cá, o terreno-buraco foi incorporado à praça adjacente, dando à população um uso muito mais socialmente útil, sustentável e agradável, sendo esse o papel dos territórios de uma cidade justa: servir à sociedade. Obviamente, como o terreno um dia foi particular, e, em 2020 passou por um processo legítimo de tombamento, quero crer que as indenizações e contrapartidas foram tratadas com quem de direito, à época, não cabendo mais o argumento de que o terreno não era parte da praça! Não era? E daí? Estamos falando de algo que foi incorporado à praça há quase 50 anos. E toda praça é, e deverá continuar a ser sempre, do povo” afirmou Leila.
Paulo Vidal, arquiteto, urbanista, professor e uma referência em patrimônio histórico no Rio considera o projeto um equívoco, e cita as várias demolições e mutilações que a cidade sofreu, criando sempre uma “nova cidade incompleta”. Para ele, o Buraco do Lume “é o ponto onde se encontram estas diversas “cidades”, pois a Rua São José é uma das mais antigas da cidade, o vértice da praça encontra antiga Av. Central de 1905 e aponta para o Largo e Rua da Carioca, a praça propriamente é oriunda do desmonte do Morro do Castelo, em 1922, a Av. Nilo Peçanha é originada no Plano Agache de 1930. sendo a praça rodeada de sobrados do século XIX e início do XX, prédios da década de 40, 50, 60 e 70”. Hoje o terreno está arborizado, e, segundo ele “colabora positivamente para melhorar o ambiente de um trecho muito pouco arborizado do Centro”. E o ex-superintendente do Iphan Rio na gestão Lula faz uma provocação: “é de se admirar que tendo toda a área do Porto Maravilha para edificar, a Av. Presente Vargas e a Cidade Nova, ainda incompletas, São Cristóvão e a Av. Francisco Bicalho com áreas enormes para renovação, seja necessário adensar mais este trecho do Centro da Cidade.”
Em um tom semelhante, Olav Schrader, outro ex-superintendente do IPHAN – na gestão de Bolsonaro – argumenta que o projeto pode ser visto como uma tentativa de recuperação de um espaço degradado, mas que o impacto de tal intervenção precisa ser cuidadosamente analisado. “O Centro do Rio sofreu dois duros golpes que o deixaram em boa medida como um corpo dilacerado e cheio de cicatrizes. A devastação de parte significativa de seu conjunto ancestral, incluindo aí exemplos como o Morro do Castelo ou a Igreja dos Clérigos, foi o primeiro duro golpe. O segundo golpe foi a aplicação da ideologia de segregação, de fonte corbusiana ou modernista, que proibiu paulatinamente a moradia das pessoas na região. Sem dúvida o projeto proposto para o Buraco do Lume é polêmico. Mas, ao mesmo tempo, nos convida a refletir sobre a questão legítima de como melhor reverter o deserto residencial criado por utopias falidas.” comentou Schrader.
Defensores do patrimônio também estão preocupados. O restaurador, protetor e ativista Marconi Andrade não consegue entender como é possível transformar o espaço verde existente há décadas num paredão de concreto. Gestor do grupo SOS Patrimônio, ele se indigna: ”estive observando o local a alguns dias atrás, e existe uma micro fauna naquele espaço: seria interessante o plantio de mais árvores, para dar um aspecto de uma micro floresta que com certeza atrairia novas espécies de pássaros e quem sabe de mamíferos. O Centro está repleto de prédios vazios, porque não se revitaliza os existentes? Temos um prefeito que acabou se ser eleito com o apoio da maioria da população da cidade, ele tem apoio para fazer o que quiser, tem maioria na Câmara, ou seja não vejo nenhuma necessidade de mais um prédio naquela região, Precisamos sim é de mais verde”.
O prefeito Eduardo Paes disse à Veja ano passado que não autorizaria projeto algum de espigão no ex-buraco. Mas, desde então, a prefeitura toda se calou. Vem mesmo um Paredão do Lume por aí?
Esse Eduardo pães é um otário e bem esperto. Tá Rico e faz o jogo da zona sul. Sempre criando factoides e repleto de falácias.
Moro no Centro do Rio ja ha alguns anos. Com olho de arquiteto e morador, tenho a impressão DE Que o Centro esta abandonado. O que da certa vida ao Centro sao as pessoas que ali trabalham, embora morem em outros bairros. 1. A ultima melhoria do Centro foi a implantação do VLT que infelizmente nao passa pela Praça da Cruz Vermelha. Ali poderia haver uma estação que seguiria aa Carioca via Avn. Henrique Valladares. Isso faz muita falta pois o serviço de ônibus que vêm de muito longe é muito ruim. Alias, a regiao toda da Riachuelo é uma terra esquecida. 2. Nao sou a favor de um predio enorme na Praça Mario Lago. Pouco me importa se ele era comunista ou nao. Sou sim a favor de um novo desenho , de um paisagismo cem porcento renovado da area. Conheço o lugar ha 50 anos e NUNCA vi melhorias ali. Portanto, mantenham as arvores, mas revitalizem e nao apenas com mais verde, mas tambem com mais cultura e chances de isso acontecer. 3. Vejo essa prefeitura pouco atuante em varios sentidos. So vejo eles se mexerem quando o assunto é festas, Carnaval, Reveillon e mega.shows mesmo durante os escaldantes veroes e nos bairros mais quentes. 4. O VLT foi construido por imposição da Fifa? ?o COI? Quando o assunto é agradar estrangeiros , a exosfera é o limite,mas se os estrangeiros nao forem publico alvo, entao o resto que se dane. 5. E as nossas necessidades? O Iaserj foi demolido . Sim , de.mo.li.do. e era um hospital de referência no Centro do Rio. O que se ve ali ate hoje, 20 anos depois? NADA. Um estacionamento fechado. Um terreno baldio. 6. Ampliação do Inca? Esse assunto nem entrou na pauta de nenhuma campanha eleitoral. Nem municipal, nem estadual, nem federal. Qual a sensacao do cidadão que paga seus impostos? ABANDONO.
De parques e praças abandonadas que se tornaram camelódromos, dormitórios da população sem teto e mictórios a céu aberto, o Centro já está cheio. Se a nova construção trouxer para o Castelo o tão escasso comércio de bairro (supermercado, padarias, lavanderias, etc), ótimo, então que venha! Os poucos moradores da região estão fartos de terem que ir ao Catete, Flamengo, Bairro de Fátima ou até mesmo à Tijuca fazer compras por falta de supermercados nesta área do Centro.
O Paes, deixe de ser canalha e agir como um vendilhão do Rio e diga onde enfiou as vigas de aço da Perimetral e deixe de achar, que construindo prédios no centro do Rio, vai revitalizar alguma coisa! Quer vitalizar o centro??? FAÇA LOCAIS DE ESTACIONAMENTO PARA CARROS E MOTOS! Tu é tão babaca, que nós que somos deficientes, não temos como andar com nossas cadeiras de rodas e andador no centro do Rio!
O verde na cidade é essencial. Se forem mexer naquela área, que seja para melhorar esse jardim e transforma-lo em parque. Há quem não goste do uso público que se faz ali e prefira mais concreto para “acabar” com a bagunça. Mas isso é empurrar os eventuais problemas para baixo do tapete.
O centro já tem muito prédio ocioso e não faz sentido colocar uma construção nova ali.
Duduzinho e seu irmão sempre ligado as construtoras, ganhando o seu molha mão para novas edificações. Foi assim que ambos ficaram milionários com a barra da tijuca.
Não temos um prefeito, temos é um sabotador da história e do bom progresso já que também quer acabar com o projeto de trens interurbanos para construção de prédios e mais samba , como se a cidade precisasse de mais samba.
É um vagabundo e demagogo nato
Fantástico o gênio do Fajardo falar que “não pode ser só unidades de temporada”, mas ele mesmo desconversou quando perguntei numa reunião do Conselho Comunitário de Segurança sobre a onda de microapartamentos (de Airbnb) sendo construídos no projeto do Reviver Centro. O projeto que ELE idealizou não tem limite ALGUM pro formato das unidades ou pras famílias que podem ocupar, então tá todo mundo fazendo unidades que não CABEM NENHUMA FAMÍLIA, só turista ou solteiros!
O Reviver é pra inglês ver (e faturar), isso sim. O Fajardo foi um vendido que abriu o mercado imobiliário do centro pra especulação e renda, não pra famílias e pra moradores de fato.
Então você acha melhor construir alguma coisa horrenda estilo cruzada são sebastião para que aquela região do Centro se afunde na completa degradação?
Quanto ao fato de não caber nenhuma família acho seu argumento risível porque boa parte da sociedade brasileira segue fornincando diuturnamente e escrotizando o país espalhando os fracassados do futuro! Muitas mulheres viraram barriga de bolsa-esmola!
Que os solteiros e turistas sejam prioridade em tais projetos, SEMPRE!
Menos praças e mais prédios parece realmente um despropósito mas essa praça não é acessível na minha opinião. Tanto pela localização quanto pela segurança.
Que continuem mudando a destinação dos prédios existentes! Que heresia, que absurdo em 2025 sacrificar verde para colocar concreto no local!
Concordo! Talvez o único fato a ser festejado na construção de mais uma cabeça-de-porco para nordestinos e favelados seria a extinção da homenagem a um certo ator comunista abjeto que dá nome aquele logradouro! Esse mesmo comunista abjeto que “ensinou” aos terroristas da época a sempre dizer que foram torturados mesmo quando ninguém escostava um dedo neles!
“mais uma cabeça-de-porco para nordestinos e favelados”.
Mais um exemplo da diferença entre um pensador e um erudito. Teve acesso, foi adestrado, mas pouco filosofa. Metralhadora de ódio, destila o seu veneno sem pudor.
Olha um fascista fã de torturador e que sonha em campo de extermínio pra pobre. Que gracinha.