Após a leitura do artigo “A dura realidade da mortalidade: reflexões inspiradas em Mortais, de Atul Gawande” (disponível em: https://diariodorio.com/a-dura-realidade-da-mortalidade-reflexoes-inspiradas-em-mortais-de-atul-gawande/), alguns colegas pediram-me recomendações de outras obras que abordam a temática da vida e da morte.
Por isso, trago hoje informações sobre o excelente livro As Intermitências da Morte, de José Saramago, publicado pela Companhia das Letras em 2020. Esta obra oferece uma reflexão provocativa e única sobre a mortalidade.
Neste romance, Saramago nos transporta a um cenário fictício em que, de repente, a morte decide parar de cumprir sua função. O que a princípio parece um milagre logo se transforma em caos. Em um país onde as pessoas simplesmente deixam de morrer, as consequências são devastadoras: idosos e doentes permanecem em sofrimento sem poder falecer, as funerárias entram em falência, os hospitais ficam superlotados, e a Igreja, sem mortes para possibilitar a ressurreição, enfrenta um dilema espiritual profundo.
Saramago, com seu estilo característico e cheio de ironia, expõe as complexas relações entre a vida, a morte, e as instituições que moldam a sociedade. O autor revela, com precisão e profundidade, como a ausência da morte impacta não apenas a vida cotidiana, mas também as estruturas políticas e religiosas. O primeiro-ministro não sabe como lidar com a crise, enquanto o cardeal se vê desolado, reconhecendo que “sem morte não há ressurreição, e sem ressurreição não há igreja”.
Ao longo do romance, Saramago transforma a morte em uma personagem central, dando-lhe vida própria, até que ela decide voltar à sua tarefa, embora de forma intermitente. Essa oscilação entre vida e morte leva os personagens — e o leitor — a refletirem sobre a impermanência da existência e o valor da mortalidade.
Nascido em 16 de novembro de 1922, na aldeia de Azinhaga, Portugal, José Saramago é um dos maiores nomes da literatura em língua portuguesa. Em 1998, ele se tornou o primeiro autor lusófono a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, um reconhecimento internacional por sua vasta e crítica obra literária. Além disso, recebeu o Prêmio Camões em 1995, o maior prêmio literário da língua portuguesa. Saramago faleceu em 18 de junho de 2010, em Tías, Espanha, mas seu legado permanece vivo, e sua prosa é um ponto de referência mundial.
Com As Intermitências da Morte, Saramago oferece mais do que uma simples história: ele convida o leitor a questionar as relações entre vida, morte e as forças que governam nossa sociedade. É um livro essencial para quem busca uma reflexão profunda sobre a condição humana e as complexidades da existência.