Benicio: Manifesto pela intolerância produtiva

Juliana Benício apresenta gráficos e diz que ambientes dominados pelo crime prosperam no Rio de Janeiro por uma única razão: incapacidade do Estado se fazer minimamente presente

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Juliana Benicio

Vivemos um tempo em que a palavra intolerância é moda, está nas ruas, mídia, escolas e no trabalho. Ninguém quer ser visto como intolerante, mas em uma rápida olhada nas redes sociais, percebemos o tempo e o esforço de muitos para defender políticos de estimação, por exemplo. É uma guerra de intolerantes que passam o dia criticando a intolerância. Tolero tudo dos meus, heróis, mas não dos outros, vilões.

Está na hora de saber o que devemos tolerar e não tolerar. Colocar o debate a serviço do que realmente importa para as pessoas. Um exemplo: os níveis insuportáveis de violência a que estamos submetidos no Brasil e particularmente no Rio de Janeiro.  

O Rio de Janeiro está em guerra e, aparentemente, a sociedade não já não reage.

Recebemos vídeo pelo WhatsApp de uma menina adolescente espancada por traficantes por indisciplina e nos sentimos incapazes de reagir.

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Vemos fotos e vídeos de traficantes desfilando armas de grande porte em plena luz do dia e nos sentimos impotentes diante desse descalabro. Sabemos de chacinas e parece que é assim mesmo, natural.  

Encontramos no Google os nomes e locais de atuação dos chefes do Comando Vermelho, Terceiro Comando e Amigos dos Amigos, e tocamos a vida em frente.

Lemos no jornal que o secretário de penitenciária do Estado do Rio liberou um traficante e fica por isso mesmo.  

Quando fiz campanha nas comunidades era natural ouvir: “Não vamos passar por aquela rua, pois o chefe do tráfico mora ali”. É fácil perceber que nas comunidades, todos sabem onde os criminosos moram, onde transitam e como se comportam. Também passei por 2 barricadas montadas na entrada de favelas em plena luz do dia. Tive por duas vezes arma apontada contra mim – no Morro do céu e na comunidade da Ciclovia. Quando conto sobre essas experiências ouço: “Normal, ne? Rio de Janeiro.”

Não, não é normal. Isso não podemos mais tolerar! Não podemos mais tolerar tantos tiroteios. No gráfico abaixo vemos a evolução de tiroteios no Estado, onde a média diária alcança patamares insustentáveis (destacando que a queda de 2020 e 2021 está relacionado ao período pandêmico

GRÁFICO 1: EVOLUÇÃO DA MÉDIA DE TIROTEIOS DIÁRIOS NO ESTADO RJ

Elaboracao propria a partir de dados do site Fogo Cruzado 2021. Benicio: Manifesto pela intolerância produtiva
Elaboração própria a partir de dados do site Fogo Cruzado, 2021.

Não podemos mais tolerar os desfiles de armas nas comunidades. Abaixo, gráfico com as armas apreendidas em 2019. Fica a pergunta, se 8.423 armas foram apreendidas, quantas ainda restam nas mãos dos criminosos?

GRÁFICO 2: ARMAS DE FOGO APREENDIDAS POR TIPO NO ESTADO RJ, 2019

Elaboracao Instituto de Seguranca Publica 2019 Benicio: Manifesto pela intolerância produtiva
FONTE: Elaboração Instituto de Segurança Pública, 2019.

Não podemos mais tolerar tantas mortes. No gráfico abaixo observa-se o aumento considerável no total de mortes tanto por homicídio quanto por mortes por causa indeterminada.

GRAFICO 3: EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE HOMICÍDIOS E MORTE VIOLENTA POR CAUSA INDETERMINADA (MVCI) NO ESTADO RJ

Os ambientes dominados pelo crime prosperam no Rio de Janeiro por uma única razão: incapacidade do Estado se fazer minimamente presente e fazer valer as regras compactuadas pelo estado de direito. O estado é incompetente e conivente.

Ele tem recursos para garantir uma vida muito mais pacífica para o cidadão, mas não o faz porque os interesses individuais daqueles que governam se sobrepõem ao coletivo.  

Todos os dados apresentados expõem o que todos nós sentimos. Medo, incerteza e impotência.

As consequências desse ambiente também são conhecidas. O desemprego, fome e o aumento da desigualdade e miséria.

A vida em áreas de conflito não é fácil. A vida dominada pelo crime não é uma vida feliz. NÃO PODEMOS MAIS TOLERAR ISSO. Essa é mais que uma guerra contra a violência, é a grande batalha da sociedade, das pessoas de bem, por civilidade e valores humanistas.

Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.

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Mãe de 4 filhos: Neto, Hugo, Ana Júlia e Augusto. Política niteroiense, escritora do livro "Política e a Vida Real". Doutora em Engenharia de Produção, Mestre em Economia, Coordenadora de Propriedade Intelectual e Transferencia de Tecnologia do IFRJ e Avaliadora de Ensino Superior no INEP/MEC
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2 COMENTÁRIOS

  1. Oi Carlos! Tem muito político de direita que se vende a influencia de bandido, aos votos que eles proporcionam. O caráter não tem ideologia.

  2. Querida, o STF e os partidos de esquerda não deixam, simples assim. A impunidade vem de cima, a esquerda só se elege com votos de comunidades , favelas e população carcerária, são esses que acreditam no conto do socialismo. Os políticos de esquerda nunca vão deixar o Rio se reerguer, vc acha que eles vão perder a mamata de ser político? O que tem que mudar é acabar com os salários nababescos deles, acabar com as mordomias, limitar o número de assessores e comissionados, obrigá-los a usar o SUS (eles e suas famílias), bem como obrigá-los a usar a rede pública de ensino para os seus filhos, quando a profissão de político se tornar pouco atraente, a coisa melhora.

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