Bia Willcox: A vida em quarentena como ela é – Capitulo 4

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É comum associarmos o período da quarentena a um período de estresse, cansaço, desgaste emocional e matrimonial.

Mas não é bem assim. Pelo menos não o tempo todo.

Do lado de cá da balança, eu vejo um ninho sendo construído por todos os bicos e asas da família. Vejo proximidade, intimidade, companheirismo e, sobretudo, vejo descobertas  de todas as partes. E  muitas agradáveis!

Joana e Fábio ou Fábio e Joana (leia na ordem que preferir) viviam momentos únicos de intimidade e afeto em família. E o mais inusitado: sem nenhuma interferência externa, seja de sogra, babá ou amigos.

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Foi o que vi acontecer num sábado desses de quarentena: os quatro agarradinhos na cama de casal vendo Alladin pela segunda vez. Enquanto Fábio pedia silêncio, Olga repetia incessantemente que queria uma fantasia de Jasmine. Antônio brigava com a irmã. Joana enchia ambos de beijo. Era o ninho em atividade.

Isso sim é felicidade. Um tipo de felicidade profunda, mas com aparência de coisa banal. Quem entende da vida sabe o que estou falando.

Nos últimos dias a relação entre os Fábio e Joana estremeceu por conta ocorrências tão humanas quanto se apaixonar, querer casar e procriar: ele tem interagido virtualmente com uma outra mulher e Joana descobriu. Joana se sente humilhada, com sua autoestima despencada, fica muito magoada e com raiva de Fábio. A chapa esquenta, a confiança se abala e a jornada de descobertas e de autoconhecimento acelera.

Há alguns dias atrás, por vingança inicialmente, Joana entrou num desses aplicativos de paquera – um desses pagos e para usuários classe A, e encontrou com um colega de escola que nem se lembrava.

Entre culpas e arrependimentos, acabou no whatsapp com ele, se justificando de estar ali no aplicativo, mesmo sendo casada.

– Oi, Marco. Então, obrigada pela disposição em ouvir meu drama rsrs.

– Imagina! Todos nós em algum momento da vida passamos por questões complexas no casamento. Às vezes mais de uma vez na vida , né? Kkk

– Sim. Mas pra mim é a primeira vez que vivo um problema maior. E tá sendo difícil… Eu sei que estou errada em ter entrado naquele aplicativo e até de ter te respondido, mas quando vi que éramos da mesma escola…entendi que é um papo de amigos.

– Joana, se eu puder te dar um conselho, esqueça essas culpas e abandone os rótulos. De nada servem. Só vai fazer você se sentir pior. E são rótulos enganosos em geral. Hipócritas e enganosos. Mas o que houve afinal? Você e seu marido estão em crise?

– Aparentemente não havia crise. Havia uma família tentando sobreviver à quarentena. Sempre nos demos bem.

– Mas…

– Então, eu descobri que ele tem alguém, mas não sei que tipo de relação é. Vi ele recebendo fotos dela pelo whatsapp. Depois descobri quem ela é mas não tenho como saber a verdade, ou seja, o que eles realmente têm.

– Putz. Que chato. Isso aconteceu nesse período de quarentena? Como você conseguiu ver?

– Eu quis fazer uma surpresa pra ele. Me vesti de mulher sensual e entre de surpresa no escritório. Fui abraçá-lo por trás da cadeira e vi tudo.

– Devia estar linda…

Joana não soube o que dizer mas sentiu sua pele mais sensível, quase ardendo, e lembrou dos seus tempos de adolescente, descobrindo o amor e o sexo. Como era bom sentir a pele arder, pensava Joana.

– Eu agora me sinto paralisada. Sem coragem pra qualquer decisão mais radical, sem coragem de ir a fundo pra saber o que eles tem, sem coragem pra nada…

Já passava de meia-noite e Joana começou a chorar de frente pro whatsapp, já deitada na cama.

-Fica assim, não. Por pior que esteja parecendo pra você a tempestade, pode ser só uma chuvinha passageira que te faça repensar muita coisa e enxergar a vida diferente. Especialmente o que você quer pra você mesma. Digo, como mulher.

– Eu não quero nada. Só não queria passar pelo que estou passando… Desculpa te alugar Assim… você lá no aplicativo querendo relacionamentos leves, novidades… e eu aqui te trazendo meu drama.

– Jô, eu tenho as melhores recordações do tempo de escola e do quanto eu te azarava, do quanto te desejava como adolescente intenso que eu era. Só que pra você, eu era invisivel. Haha. Independente de qualquer coisa, tô adorando ter te encontrado.

– Que legal! A gente não olhava pros meninos das séries abaixo das nossas… É verdade!  Burras, né? Eu fiquei falando dos meus problemas e não perguntei de você. Você se separou há pouco tempo, né?

– Sim, fui pra São Paulo em 2008 pra trabalhar no mercado financeiro. Fiz carreira por lá. Fui VP de uma corretora grande durante bastante tempo. Casei por lá e tive uma linda menina, Felipa, há 5 anos. O grande amor da minha vida. Há dois anos tive uma proposta de voltar pro Rio e tocar a operação da corretora aqui. A ideia era vir com a família, mas a minha ex tinha o trabalho dela em São Paulo e a gente já não estava bem – desgaste, indiferença, certa raiva. Decidimos que eu viria e nos finais de semana iria pra lá ou ela viria com a Filipa pra cá. Em pouco tempo vimos que não estava funcionando. Resolvemos abrir. Continuo indo muito à São Paulo por conta do trabalho e pra ver a minha princesa.  Minha ex tem falado em se mudar pra cá. Se isso acontecer, vai ser lindo. Faremos guarda compartilhada e eu teria a Felipe comigo metade do tempo.

– Nossa, você deve morrer de saudade dela…

– Sim! Chega a doer.

– Mas você tá bem com a separação?

Sim, já tem 2 anos. Não tava bom pra nenhum dos dois. Nosso único objetivo deve ser querer estar bem, se sentir bem. De preferência em estado de encantamento e paixão. Mesmo que não o tempo todo.

– Gostei disso… Encantamento e paixão… Marco, vou tentar dormir aqui se não amanhã o bicho pega.

– Tá tarde, né? Então, eu moro no Jardim Botânico e adoraria te comvidar pra um café da manhã no Parque Lage. Mas…como bom papo e café não combinam com máscara full time, melhor esperar essa fase passar. Quando puder fazer um vídeo, vou adorar te rever.

– Combinado. Aqui é muito difícil –  marido, crianças… mas prometo tentar. Avisando logo que tô muito diferente dos tempos de escola.

– Tenho certeza de que está ainda melhor… Beijo em você! Boa noite.

Marco é tudo o que Joana precisa nesse momento. Mas ela não consegue em nenhuma hipótese esquecer a traição do marido. Ela está com a ideia fixa de que ele faltou com respeito não só a ela mas a família toda. Ela tem seu ponto.

Amanheceu.

Joana pulou da cama no susto com a Olga pedindo sua vitamina. Ela não ouviu o despertador e isso nunca acontece.

Correu pra cozinha, Fábio lá estava, preparando tudo:

– Disse a Olga  para deixar você dormir que eu ja estava fazendo a vitamina dela, mas parece que só a que você faz é que é boa, né, Olguinha?

– Joana nada disse. Pegou Olga no colo e a abraçou com a força do aperto que sentia no peito.

– Mãe, tá me apertando!, reclamou Olga.

– É amor, filha. Amor!

Quando Joana foi se arrumar, pegou seu celular pra checar as mensagens:

– Bom dia, amiga. Consegui fazer uma busca boa ontem sobre a tal Luiza. Quando tiver um tempinho, me chama aqui.

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