Câmara de Vereadores vai comprar nova sede, usando as economias da nova gestão

Além de deixar de pagar mais de 6 milhões por ano em alugueis, a Câmara de Vereadores do Rio se livrará de instalações caóticas e que não atendem satisfatoriamente aos servidores e vereadores. O destino deve ser o famoso edifício Serrador, na Cinelândia.

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Fachada do edifício Francisco Serrador | Foto: Rafa Pereira - Diário do Rio

O famoso edifício Serrador na Cinelândia viu o anoitecer de dois grandes impérios: o de Francisco Serrador, o empreendedor que dominou o mercado de cinemas na cidade e que trouxe o cachorro-quente pela primeira vez a terras brasileiras, e o de Eike Batista, o ex-bilionário das empresas X, seu último ocupante. Segundo jornalista Lauro Jardim, Batista ofereceu 400 milhões de reais à vista pelo edifício de 24.000m2, 23 andares, heliponto, ar condicionado inteligente e partes comuns em mármores ornamentais construído em 1944; na época, seu dono não quis vender o prédio, que é conhecido por ter a mais linda vista da cidade e da baía. Segundo fontes do mercado da época, José Oreiro o considerava um de seus mais preciosos bens e só o venderia em caso de necessidade, o que parecia impossível naquele momento. Com o advento da crise econômica e da crise hoteleira – principal negócio do então proprietário, o edifício acabou ficando vazio.

Logo antes de estourar a pandemia, o prédioacabou sendo vendido por Oreiro ao grupo imobiliário argentino Sued, conforme furo dado aqui no DIÁRIO. Com a COVID-19 e o inicial advento do home office, o prédio acabou ficando vazio. Em março, o DIÁRIO publicou novamente sobre o mais emblemático prédio de escritórios da região, com exclusividade, anunciando que seus proprietários haviam decidido comercializá-lo. Desde então, o imóvel vem sendo anunciado para venda por R$ 165.000.000,00 pela Sergio Castro Imóveis, uma das mais tradicionais empresas imobiliárias cariocas.

Pouca gente sabe mas a Câmara de Vereadores ocupa muitos outros imóveis além do tradicional Palácio Pedro Ernesto, que completa 100 anos no ano que vem. Os 51 vereadores ocupam o espaço construído originalmente para abrigar 11 edis. Ao contrário dos outros parlamentos que tem parlamentares eleitos pelo carioca, sequer há espaços para que todas as comissões parlamentares se reúnam. Mesmo assim, a Câmara paga mais de 6 milhões de reais por ano em alugueis que enchem os bolsos de tubarões do mercado imobilário, donos de prédios que ficam próximos ao palácio. Além disso, ocupa um prédio público anexo em péssimo estado de conservação, que sequer teria licença do corpo de bombeiros. Segundo informações da Câmara, só para colocar estes imóveis em estado de uso, gastar-se-ia mais de 33 milhões de reais em obras.

O assunto se prolonga há anos; todo mundo sabe que a Câmara não cabe onde está, mas a gastança tradicional do legislativo carioca sempre serviu para evitar que a óbvia decisão de partir para ocupar um imóvel próprio além de restaurar o lindo Palácio Pedro Ernesto à sua antiga glória fosse tomada pela mesa diretora. Com a eleição do novo presidente Carlo Caiado, que substituiu o veterano Jorge Felippe – presidente do parlamento municipal por nada menos que seis mandatos – e a posse da nova mesa diretora, os novos comandantes do legislativo pegaram suas tesouras e cortaram milhões de reais em despesas com coisas tão diversas quanto centrais telefônicas e despesas administrativas, chegando a um superávit inédito nas contas da Casa.

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Com toda a economia conseguida, a Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro vai não só repassar cerca de 70 milhões de reais não utilizados em seu orçamento deste ano à saúde da cidade, como também irá adquirir o imóvel dos sonhos dos investidores imobiliários cariocas por uma fração dos 400 milhões de reais que José Oreiro recusou pelo prédio anos atrás. E ainda vai pagar parcelado em mais de um ano. O prédio estaria em processo de venda à Câmara por 150 milhões de reais, 15 milhões abaixo do preço que vinha sendo anunciado nos jornais de grande circulação pela imobiliária. Uma avaliação especializada contratada pela Câmara avaliou o prédio em pouco menos de 147 milhões de reais.

O negócio já andou um pouco, mas ainda há alguns passos a serem tomados para que a mudança da câmara se concretize. Uma comissão de parlamentares  foi criada para avaliar as necessidades de adaptações da nova sede do legislativo municipal, que finalmente teria uma sede salubre; também serão avaliadas as eventuais intervenções necessárias pra adaptar o prédio – que está em perfeito estado – estimadas inicialmente em cerca de R$ 20 milhões. A ALERJ também passou por este processo, e gastou em torno de 160 milhões de reais em obras que adaptaram o antigo Banerjão, no Centro, para ser o novo parlamento do Estado numa obra que ficou reconhecidamente espetacular e mudou nosso legislativo estadual de patamar.

Para sacramentar a compra, serão necessários os votos de 34 dos 51 vereadores, dois terços da Casa. Numa pesquisa informal feita pelo DIÁRIO em off, diversos vereadores citaram os problemas dos antigos edifícios. Em uma fala no TCM, o ex-presidente da casa, Ivan Moreira, se declarou a favor da compra e citou as dificuldades e problemas dos edifícios antigos já na sua época de parlamento; ele saiu da casa em 2007. O ex-vereador Thiago Ribeiro endossou o coro pela aposentadoria das instalações obsoletas. Além das limitações de espaço dos prédios, entre outros argumentos usados pelos vereadores está que em apenas uma década a nova sede estaria paga, levando-se em conta o custo com aluguéis e as despesas com manutenção, arcadas hoje pelo Legislativo.    

Caso o negócio saia mesmo e a câmara se livre de fios desencapados, vazamentos e problemas estruturais, a ideia é transferir os debates e projetos para tomarem lugar no Edifício Serrador já no segundo semestre de 2023. O Palácio Pedro Ernesto – a Gaiola de Ouro – seria restaurado, mantendo no espaço a realização de algumas atividades, inclusive sessões solenes. O  velho prédio anexo, onde ficam hoje os gabinetes dos vereadores, seria finalmente devolvido para a prefeitura, que é sua proprietária. A ideia é que esse prédio seja retrofitado para receber apartamentos e moradias dentro do elogiado programa Reviver Centro, que vem popularizando o centro como destino residencial.

É sabido que o Centro vem recebendo atenção de compradores institucionais nos últimos meses; com uma área construída de cerca de 11 mil m² – menos da metade do Serrador – o prédio-sede da resseguradora IRB foi vendido em agosto por R$ 85,3 milhões, que teriam sido quitados integralmente pelo SEBRAE/RJ. O SESCOOP/RJ também adquiriu nova sede na região no início do ano. Diversas empresas têm buscado adquirir imóveis ou espaços na região enquanto ela ainda apresenta preços mais convidativos. “Comprar em baixa, vender em alta. Não é preciso ser genial pra entender este princípio, e ele também se aplica a imóveis“, diz o corretor de imóveis especializado em propriedades comerciais, Nelson Borges, com mais de 25 anos de profissão.

A Mesa Diretora da câmara informou que algumas alternativas foram estudadas; um edital foi aberto para receber ofertas de prédios com a metragem e estrutura necessárias, que se encontrassem desocupados. Mas eram preços de metro quadrado mais caros, ou então era muito distante da atual sede do Legislativo carioca. O Palácio Pedro Ernesto será convertido em Centro Cultural, além de um plenário para ocasiões mais solenes. O Legislativo, mesmo sem necessidade legal, fez uma consulta ao Tribunal de Contas do Município (TCM) sobre a mudança e o assunto ainda está em análise pelo plenário, apesar de 3 Conselheiros já terem adiantado seu voto a favor da idéia, também defendida pelo relator, conselheiro Bruno Maia; um deles chegou a deixar claro que não é necessária a aprovação ou aquiescência do Prefeito Eduardo Paes.

Parece que chegou a hora de contrabalancear a velha história da Gaiola de Ouro; na época de sua construção, o Pedro Ernesto teria custado 23 mil contos de réis, um absurdo para a época, pois o Theatro Municipal, contemporâneo e mais suntuoso, custara apenas 10 mil. Agora, pelas mãos da nova mesa diretora da Câmara, chegou a hora de fazer justiça e comprar um prédio de 400 milhões por 150. Novos tempos.

Nota – Câmara Municipal do Rio

A Câmara do Rio está finalizando estudos para a aquisição de uma nova sede que comporte toda a sua estrutura, que hoje está dividida em cinco imóveis, sendo três deles alugados. A medida vai representar uma economia de gastos com aluguéis e manutenções que, em 10 anos, compensará o investimento feito. A mudança vai aumentar a eficiência e segurança, deixando de utilizar o prédio anexo, que foi projetado para 11 vereadores e hoje abriga 51. A aquisição será realizada com recursos economizados pela gestão atual da Casa, que vai repassar ainda este ano mais R$ 70 milhões para a Saúde do município. Além disso, o atual prédio anexo será doado à Prefeitura para a construção de moradias populares, e o Palácio Pedro Ernesto será transformado em um centro cultural aberto à população.

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8 COMENTÁRIOS

  1. Um dos prédios mais nobres do RJ sendo comprados pelo legislativo municipal? É sério isso? Não podem ficar em algum prédio mais simples, sem a mesma vista, e sem o endereço nobre? Para que precisam da vista para o mar?

  2. Que tal comprar um prédio no Catar? Soube que tem um prédio de 250 andares à venda, mas talvez não caiba todos os 51 vereadores e suas esquipes de 3000 funcionários cada, mas já é um começo. Sou a favor. É do Brasilllllllllllllllllllllllllll Esses parlamentares e alguns jornalistas parece que estão vivendo num universo paralelo, não é possível, que sina desgraçada essa do Brasil!!!!!!

  3. Esse país e qq cidade dele não é sério, não é sério mesmo! Esses caras são caras-de-pau mesmo e a vista sem cerimônia dos pobres eleitores! Quanto dinheiro público desperdiçado e a cidade em frangalhos, q maldição é essa, cruz e crédo!

  4. O mundinho de Alice em que habitam a nata dos “3 podreres” vai muito bem…já o mundo real que habitam os brasileiros restantes vai de mal a muito pior…Como sempre digo: “Çábios” eleitores tupiniquins, não vai ser elegendo SEMPRE os mesmos que vc vai mudar alguma coisa…

  5. Porque os vereadores não vêm pra Zona Norte/Subúrbio ou pra Zona Oeste? Esse prédio é muito sofisticado, fica mais adequado para empresas, não para funções públicas. Pega um prédio mais simples e devolva o dinheiro pra cidade.

    • Perfeito. Vou além, porque os vereadores não enxugam suas equipes, a Camara enxuga seu orçamento e passam a conviver em um prédio só, por ex? Ou ao menos, se esforçarem para reduzir seus plantéis? Porque é normal termos 51 vereadores (muito, não?) que não conseguem caber em uma Gaiola de Ouro?

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