No dia 17 de fevereiro de 2025, o Brasil se despede de Carlos Miranda, o eterno Vigilante Rodoviário. Para quem, como eu, tem DNA (Data de Nascimento Antiga), essa perda traz um sentimento agridoce, pois tivemos o privilégio de assistir à icônica série brasileira “O Vigilante Rodoviário” na época em que éramos crianças. Não era apenas um programa de TV, mas uma inspiração para muitos meninos e meninas que sonhavam em defender a lei e a justiça.
Mais do que um ator, Carlos Miranda se tornou o próprio personagem. O que começou como um papel na televisão transformou-se em sua vocação de vida. Ele não apenas vestiu o uniforme do inspetor Carlos, mas o assumiu como missão. O ator virou a personagem na vida real, algo raro na história da TV e do cinema.
Exibida originalmente entre 1962 e 1963 pela TV Tupi, “O Vigilante Rodoviário” foi a primeira série brasileira filmada em película, um marco para a televisão nacional. Criada e dirigida por Ary Fernandes, a produção apresentava as aventuras do Inspetor Carlos e seu fiel companheiro, o cão Lobo, que patrulhavam as estradas paulistas a bordo de um Simca Chambord 1959 ou de uma motocicleta Harley-Davidson 1952.
O tema musical da série, que ainda ecoa na memória dos fãs, pode ser ouvido no seguinte sítio:
Os episódios eram repletos de ação, trazendo o inspetor Carlos enfrentando criminosos, ajudando motoristas em perigo e promovendo a segurança nas rodovias. Tudo isso ao lado de seu inseparável parceiro canino, Lobo, que conquistou o coração do público.
Seus personagens principais eram os seguintes:
Inspetor Carlos: Interpretado por Carlos Miranda, era um policial rodoviário exemplar, dedicado à justiça.
Lobo: O fiel cão pastor alemão que acompanhava todas as missões, ajudando a capturar criminosos e protegendo seu dono.
Tuca: Interpretado por Reginaldo Vieira, era um jovem que auxiliava o inspetor em algumas aventuras.
O sucesso foi tão grande que a série se tornou um clássico da TV brasileira, lembrada até hoje por quem viveu aquela época e por gerações que vieram depois.
Dos 38 episódios originais, um deles foi totalmente deteriorado (perdido) e os outros dois tiveram problemas e não puderam ser remasterizados e telecinados.
Alguns deles foram reprisados anos depois em canais televisivos.
O Vigilante Rodoviário foi um grande marco para a cinematografia brasileira, pois foi o primeira série de televisão da América Latina e a quarta em todo mundo filmada em película e com cenas externas.
Ainda na década de 1960, o personagem ganhou uma revista em quadrinhos pela Editora Outubro. A revista, que durou poucos números e teve um almanaque, tinha o roteiro de Gedeone Malagola e os desenhos de Flavio Colin.
Em 1978, o criador de “O Vigilante Rodoviário”, Ary Fernandes, produziu um filme piloto com o objetivo de revitalizar a série de sucesso dos anos 1960. O ator Antônio Fonzar foi escalado para interpretar o Inspetor Carlos, substituindo Carlos Miranda, o protagonista original. No entanto, devido a problemas enfrentados pela Embrafilme na época, o projeto não avançou, e o filme permaneceu inédito por décadas. Apenas em 26 de julho de 2010, o longa-metragem foi exibido pela primeira vez no Canal Brasil, permitindo que o público finalmente conferisse essa produção.
Após o fim da série, Carlos Miranda recebeu um convite inesperado: ingressar na Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP). Impressionado com sua atuação na TV e seu conhecimento sobre segurança viária, o então Comandante Geral da Força Pública, General João Franco Pontes, ofereceu-lhe a chance de se tornar um policial rodoviário de verdade.
E ele aceitou. O que era um papel de ficção virou realidade. Carlos Miranda dedicou 25 anos à Polícia Militar, chegando à patente de Tenente-Coronel e honrando o compromisso com a segurança pública até sua aposentadoria em 1998.
Sobre sua morte, o Policiamento Rodoviário da PMESP divulgou uma nota oficial emocionante, confirmando o falecimento e destacando seu impacto na cultura e na segurança pública do país:
“Com profunda tristeza, recebemos nesta manhã a notícia do falecimento do Ten Cel Carlos Miranda, o eterno Vigilante Rodoviário. Símbolo de uma geração, ele foi o primeiro super-herói brasileiro de uma série de TV, deixando uma marca indelével em todos que o acompanharam. Sua criatividade, competência e dedicação o transformaram em um ícone, que mais tarde se tornou um Policial Rodoviário.”
Seu legado ultrapassou a ficção, tornando-se uma história real de dedicação, compromisso e serviço ao país.
Carlos Miranda não foi apenas um ator; ele foi um herói da TV e da vida real. Seu nome será sempre lembrado por aqueles que cresceram assistindo ao primeiro “herói” brasileiro da televisão e por aqueles que tiveram a honra de conhecê-lo como policial.
Que sua memória continue inspirando novas gerações de policiais, atores e todos aqueles que acreditam na justiça, na dedicação e na coragem.
O Vigilante Rodoviário pode ter partido, mas sua história jamais será esquecida.
“De noite ou de dia,
firme no volante,
vai pela rodovia,
bravo Vigilante!”