Carneiro: Rio de Janeiro – Hub de Inovação

Carlos Augusto Carneiro cita exemplos internacionais e dá dicas de como o Centro do Rio pode se tornar um novo Hub de Inovação

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Foto: Rafa Pereira - Diário do Rio

Carlos Augusto de F Carneiro, Administrador e funcionário do BNDES

Em um artigo anterior, datado de outubro de 2021, pude descrever brevemente sobre o Centro Histórico do Rio de Janeiro e minha relação pessoal e profissional com a área, bem como minha relação profissional com o universo de inovação e empreendedorismo.

Neste artigo pretendo analisar a situação da economia do Rio de Janeiro, nossas características e escolhas, bem como olhar para o futuro e questionar quais as oportunidades que temos dentro do cenário atual e como podemos capturá-las de forma a vislumbramos melhores perspectivas econômicas e sociais para esta e as próximas gerações.

Outro ponto relevante que pretendo abordar é o “modelo de negócios” atual e como transitar deste para um cenário mais favorável com impactos positivos para a Sociedade de forma geral e em especial para o Centro Histórico do Rio de Janeiro.

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Primeiramente vamos a situação atual de nosso Município, Cidade e até mesmo Estado do Rio de Janeiro. O quadro a seguir, tendo como fonte a FIRJAN, demonstra de forma clara que nos últimos quatro anos a economia fluminense vem apresentando um “desempenho decepcionante”, tendo ao longo do período analisado um resultado agregado negativo, na faixa entre 7 a 8%. Ou seja, a economia encolheu, tendo como provável consequência perda de empregos e renda, com queda nos padrões de vida da população.

Podemos observar que, o desempenho do setor de serviços, que representa cerca de 85% da economia fluminense e 70% do Município, é, no agregado do período negativo e que o único segmento da economia que vem desempenhando de forma positiva é o segmento “extrativo mineral”, advindo em grande parte da indústria de Óleo e Gás. Os demais segmentos da economia, podemos observar no quadro, também possuem resultado negativo ao longo dos anos, o que demonstra a fragilidade de nossa economia como um todo.

Dados Carneiro: Rio de Janeiro - Hub de Inovação

Importante ressaltar que, o quadro acima reflete a economia do Estado do Rio de Janeiro, mas reflete também “por proxy” a economia de nosso Município e consequentemente de nossa Cidade. Isto porque, de acordo com o boletim econômico do Municipio, os resultados são observados diante da apuração do dados Estaduais na ausência de dados com mais alta frequência do Municipio.

Em uma visão mais ampla, vamos analisar alguns fatores que dominam o cenário da economia de nosso Municipio e nossa cidade, bem como as consequências sobre a economia atual e futura.

Vale citar que, estudos realizados no ano de 2021 demonstram, por outro lado que, a cidade do Rio de Janeiro possui mais funcionários Públicos Federais do que Brasilia, advindo em sua maioria da herança da capital de República e pela presença de grandes órgãos públicos e empresas públicas com sede na capital fluminense. (Estudo realizado pelo pesquisador Luiz Ramiro Jr)

Em resumo, temos hoje a economia do Município do Rio de Janeiro baseada em três pilares, a saber; Funcionalismo Público (presença de nível federal, estadual e municipal), indústria de Óleo e Gás e Turismo.

Olhando sob outro aspecto, sob uma perspectiva de “visão territorial”, estudo efetuado pelo Clube dos Diretores Lojistas do Rio de Janeiro, realizado no ano de 2020, pode constatar que, no Centro da Cidade do Rio de Janeiro haviam cerca de 3.000 estabelecimentos fechados, uma perda de arrecadação de ICMS aproximada de R$ 900 milhões naquele ano na região, mais de 25.000 empregos diretos perdidos e uma vacância de cerca de 45% dos imóveis da região com desvalorização de aproximadamente 35% nos valores de imóveis e aluguéis.

Esta visão do “pós-guerra” vis-a-vis a análise do quadro onde podemos constatar o pífio desempenho de nossa economia nos últimos anos, mesmo antes dos efeitos da pandemia, nos faz questionar onde vamos parar? quais as perspectivas para nosso futuro próximo e para as próximas gerações? O que nossos governantes eleitos tem a nos apresentar como alternativas? E
mais como a sociedade pode mudar este rumo buscando alternativas a nossa falta de perspectiva.

Em uma perspectiva de futuro, temos que a diretriz atual é por uma redução do número de funcionários público em todos os níveis, a indústria de Óleo e Gás, recurso este finito e que, literalmente vem do Fundo mar em nosso Estado, tem projetado seu ponto máximo de produção projetado para os próximos 2 a 5 anos, segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Petróleo, e o Turismo,
setor de peso na economia para nossa cidade, tem perspectivas de baixa atividade devido a pandemia que enfrentamos de COVID 19 e seus efeitos prolongados além do estado de insegurança que encontramos nossa cidade que em nada soma para fomentar o Turismo.

O segundo ponto a abordar neste artigo é como podemos capturar, diante deste cenário, oportunidades ou melhor, como podemos criá-las para mudar este cenário atual e para futuras gerações. Para citar um ditado popular de nossa cidade, como podemos fazer deste limão uma limonada, ou melhor, uma caipirinha.

Olhando a situação sob o aspecto territorial, mais uma vez, com uma visão estratégica para o futuro, podemos identificar vários “ativos” localizados no Centro Histórico do Rio de Janeiro, que isoladamente não possuem interligação, mas articulados formam o que posso identificar como o maior potencial do Brasil para uma virada neste quadro.

Como os “Ecossitemas de Inovação” estimulam a revitalização do Centro da Cidade

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Foto: Rafa Pereira – Diário do Rio

Recente estudo recente conduzido pelo governo Norte Americano verificou que, dentre um universo de 382 regiões metropolitanas analisadas, 196 regiões vêm reduzindo o número de empregos ofertados desde 2005, processo este que vem se agravando na medida do avanço da pandemia do COVID-19.

Foi constatado que estas regiões estão perdendo não somente potencial de crescimento, mas também produtividade, e vem experimentando uma queda nos padrões de vida de suas regiões de influência, na criação e até mesmo manutenção de empregos relacionados a vários segmentos da economia, na indústria e serviços.

Por outro lado, o mesmo estudo aponta que, apenas cinco centros urbanos que concentram “Ecossistemas de Inovação” a saber; Boston, San Francisco, Seattle e San Diego, foram responsáveis por cerca de 90% do crescimento do produto nacional relacionado à inovação entre os anos de 2005 e 2017.

O mesmo estudo aponta ainda que, analisando sob a ótica de investimento, Pesquisa e Desenvolvimento representa hoje apenas 0,61% do Produto Nacional Bruto (GNP) dos EUA, o nível mais baixo desde 1955. Como resultado, os EUA devem ficar atrás da China em P&D pela primeira vez na história, no ano de 2021.

O estudo conclui que, “um surto de inovação” é necessário para impulsionar a recuperação econômica e construir resiliência (grifo meu). Os economistas que conduziram tal estudo, preveem danos prolongados da recessão atual. “A inovação, que impulsiona a produtividade e o crescimento econômico, deve ser uma prioridade nacional” (grifo meu).

Mas o que podemos aproveitar deste estudo que se aplica a nossa cidade, Município, Estado e quem sabe se aplica ao nosso País?

“Distritos de Inovação”, uma estratégia de transformação urbana e econômica.

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Foto: Rafa Pereira – Diário do Rio

Nos principais centros urbanos dos Estados Unidos, Reino Unido, Austrália e Europa, estamos vivenciando o surgimento de um novo modelo de transformação urbana com o surgimento dos “Distritos de Inovação” – um modelo de revitalização urbana que busca alavancar recursos econômicos e talentos locais para transformar áreas Centrais das Cidades.

Os “Distritos de Inovação” são tendência mundial e vem crescendo em importância e número, pois representam uma resposta estratégica aos desafios do século XXI, e são um instrumento utilizado não só para acelerar a inovação como também possibilitam redesenhar a função das cidades, revitalizando e reconstruindo espaços urbanos de modo que possam ser melhores e mais
atrativos.

Este modelo representa também uma evolução natural dos ambientes de inovação – como parques tecnológicos, incubadoras e aceleradoras – e arranjos geográficos de inovação, a exemplo do Vale do Silício, nos Estados Unidos.

Este novo arranjo tem por objetivo o uso multifuncional dos espaços urbanos, onde possam conviver de forma integrada empresas, comercio e serviços e moradia. Desta forma transformam-se ambientes que outrora já foram utilizados para outras finalidades, a exemplo dos “Central Business Districts”, em um espaço atrativo para pessoas talentosas e novas empresas emergentes
e/ou intensivas em tecnologia.

São, portanto, ambientes mais urbanos e vibrantes, conectados, movidos a cafeína, possuem grande interação entre os atores, ampla mobilidade e que permitam as pessoas desenvolver suas redes pessoais e profissionais naquele espaço, além de serem locais atrativos para se viver, trabalhar, empreender e experimentar.

Como utilizar como um instrumento de transformação urbana e econômica em nossas cidades?

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Foto Cleomir Tavares / Diario do Rio

Conforme já mencionei anteriormente, em diversos países desenvolvidos, notadamente no mundo anglo-saxão, o mesmo que nos apresentou uma série de eventos “inovadores” iniciados pela revolução industrial que moldaram nossa vida desde o séc. XVIII e consequentemente nossas cidades, este modelo de transição econômica, de migração para a economia do séc. XXI baseado no conhecimento, na inovação vem ganhando escala.

Cidades conhecidas como Barcelona, Berlim, Londres, Montreal, Sidney, Melbourne e Toronto dentre outras estão ganhando prestígio e reconhecimento por seus Distritos de Inovação em evolução.

Nos Estados Unidos, os Distritos de Inovação estão surgindo nos “Central Business Districts” outrora movimentados e na realidade pós-Covid 19 locais esvaziados economicamente, em cidades como Atlanta, Baltimore, Buffalo, Cambridge, Cleveland, Detroit, Houston, Filadélfia, Pittsburgh, St. Louis e San Diego.

Em cidades como Boston, Brooklyn, Chicago, Portland, Providence, San Francisco e Seattle, Distritos de Inovação estão se desenvolvendo onde áreas subutilizadas estão sendo reativadas.

Na América Latina, cidades como Buenos Aires, Medellín, Bogotá, Guadalajara, Cidade do México e San José já estão implementando esta estratégia de transformação urbana e econômica atraindo setores compatíveis com a vida urbana e transformando áreas hoje em declínio, em novas fontes de renovação urbana, crescimento econômico e inclusão social.

Um exemplo próximo é a cidade de Buenos Aires que implementou o estabelecimento de Distritos para uma série de indústrias estratégicas que tem um alto potencial de desenvolvimento econômico e criação de emprego na cidade, a saber: Distrito das Artes, Distrito Audiovisual, Distrito de Diseño e Distrito Tecnológico. Vale aqui destacar o distrito voltado para Tecnologias da
Informação e Comunicação (TIC), o “Distrito Tecnológico” no bairro de Parque Patricios.

Além de criar uma política de benefícios e incentivos financeiros, a cidade promoveu uma remodelação e consequente revitalização desta zona da cidade, atraindo investimentos público e privados. Destaca-se aqui que foram realizadas obras para a recuperação e melhorias dos espaços públicos onde buscou-se criar espaços inteligentes para experimentação e interação dos diversos agentes da região, além de ampliar a conectividade desta zona com o resto da cidade.

Outro exemplo relevante é o “Ruta N” localizado na cidade de Medellin, outrora uma cidade com problemas de natureza de segurança e com baixa atividade econômica. Uma ação da Sociedade Civil junto a Municipalidade fez com que o projeto de criação de “Políticas Públicas” de revitalização de toda uma área Central da cidade juntamente com o Desenvolvimento Econômico pudesse
levar a cidade ações para desenvolvimento de atividades voltadas a inovação e empreendedorismo.

Vale destacar o compromisso financeiro da Municipalidade em ações de intervenção dos espaços públicos e apoio financeiro à iniciativa. Tal iniciativa visa desenvolver uma região central da cidade com influência em pelo menos cinco outros bairros adjacentes, criando novas oportunidades de emprego bem como trazendo inclusão social, aspecto relevante principalmente na América Latina.

Por fim, vale citar o exemplo de San José na Costa Rica, um país de apenas cinco milhões de habitantes que está fazendo seu dever de casa e se estabelecendo como um possível grande player neste cenário de inovação e empreendedorismo na América Latina.

A Cidade de San José está sendo o palco de uma transformação na economia do País com iniciativas conjuntas da Municipalidade, a Sociedade Civil, juntamente com a Academia. Aqui vale ressaltar que, a Municipalidade criou incentivos fiscais de fomentando a inovação e empreendedorismo além de criar zonas livres de comercio (Free Trade Zones) em diversas localidades na cidade, que visa integrar as ações e iniciativas à materialização de produtos e serviços que passam a absorver a mão-de-obra local.

Sob o aspecto de revitalização patrimonial, desenvolvimento cultural e econômico tais ações geram externalidades positivas sob diversos aspectos, fomentando sobretudo geração de empregos, renda e competitividade para a indústria e prestação de melhores serviços atendendo não só a população local, mas se tornando um importante polo de atratividade de talentos da nova geração.

Em um próximo artigo pretendo discorrer acerca do como podemos apoiar a criação do primeiro “Distrito de Inovação” do Brasil no centro histórico do Rio de Janeiro, trazendo desenvolvimento econômico, externalidades positivas para o patrimônio público e privado, externalidades na esfera cultural e sobretudo inclusão social.

Farei uma análise de casos demonstrando as estratégias utilizadas, o modelo de negócios, a participação dos atores e sobretudo as externalidades como foram analisadas e quantificadas, ponto importante em políticas públicas de qualquer natureza. Pretendo finalizar demonstrando nosso potencial a ser explorado a partir de um centro de gravidade – O Centro Histórico do Rio de
Janeiro.

Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.

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6 COMENTÁRIOS

  1. Excelente explanação! Quem acompanha o movimento da nova economia entende perfeitamente essas possibilidades e oportunidades! O Rio já possui aceleradoras privadas com alto investimento de grandes companhias. O governo precisa investir na implementação de hubs e ecossistemas completos de inovação para alavancar a economia local. Negócios feitos da forma tradicional perderão cada vez mais espaço. O trabalho híbrido já é realidade, as plataformas digitais já dominaram tudo, só cego não percebe a urgência de fomentar a inovação e a educação digital para empresas.

  2. Sensacional iniciativa, Carlos! O Brasil precisa muito de pessoas como você, com essa mentalidade de mudar a realidade de forma integrada. Não existe inovação sem diversidade. Não existe transformação social sem oportunidades. Não existem cidades seguras com segregação. O bom uso da infraestrutura urbana diminui a necessidade de investimentos e permite um melhor aproveitamento dos espaços, sejam eles públicos ou privados. Espaços mistos e integrados, com residência, comércio e serviços, promovem ambientes diversos e mais seguros, pois os mesmos tendem a ter “vida” 24 horas por dia. O primeiro passo para a transformação é a consciência: precisamos nos entender como protagonistas e responsáveis pelo mundo que estamos criando. Conte comigo nesta luta!

  3. Todas essas idéias de hubs de inovações, parques tecnológicos só terão sentido e produziram resultados quando a mobilidade urbana metropolitana do Rio for transformada com o cumprimento da agenda metroviária atrasada no mínimo uns 40 anos. São linhas q interconectariam aeroportos, rodoviárias, barcas , áreas acadêmicas, áreas de entretenimento e cultura, áreas turísticas, subcentros, áreas industriais tirando o Rio das garras do monopólios rodoviário q dita as regras no estado e na prefeitura a muito tempo com malandros boa pinta no poder. A futuro do Rio depende dos trilhos para transpor nossas morros, serras e monolitos por exemplo, nossa linda geografia pede metrô.

  4. A cada surto psicótico esse cara vem escrever sandices pseudoeconômicas neste jornal. O RJ só é “hub” dos crimes, de todos os tipos, organizados e desorganizados, sendo tudo administrado por políticos corruptos ou incompetentes, quando não os dois, e explorado por empresários encostados nos esquemas políticos aqui vigentes. Só psicóticos, esquizofrênicos, e criminosos veem ambientes de negócios no Errejota.

  5. Artigo cheio de erros de português: “haviaM cerca de 3.000 estabelecimentos fechados”, “o mesmo estudo aponta que, apenas cinco” (mau uso da vírgula).

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