Centro Dom Vital: O caminho da Igreja em diálogo com a Universidade

O cristianismo pode ser de grande valia ao recordar à academia a necessidade de colaborar na construção e aprimoramento do conjunto da sociedade

Advertisement
Receba notícias no WhatsApp
John Henry Newman, grande pensador católico inglês, pôs-se a refletir sobre a questão do sistema universitário em sua obra A ideia de uma universidade.

O Centro Dom Vital notabilizou-se, ao longa de suas décadas de atividade, na ação em prol do sistema universitário brasileiro, seja pela variedade de seus associados, em grande número de professores universitários, seja na elaboração e colaboração às instituições de ensino superior. Foi das fileiras do Centro Dom Vital, capitaneado pelo seu primeiro direto espiritual, o padre Leonel Franca SJ, que brotou o germe da Universidade Católica do Rio de Janeiro, hoje a PUC-Rio, que é atualmente a principal instituição privada de ensino superior no país.

No entanto, uma das maiores contribuições foi ajudar a pensar o ensino, a pensar a academia na adequada relação com a Igreja, seja na contribuição com o saber, seja nas relações institucionais que devem ser exercidas e equilibradas por ambas as partes.

Em meados do século XIX, 1852, para ser mais exato, John Henry Newman, grande pensador católico inglês, pôs-se a refletir sobre a questão do sistema universitário em sua obra A ideia de uma universidade. Aqui gostaria de expor alguns elementos do capítulo sobre a relação entre a religião e a Universidade, em que Newman salienta o caráter indissociável entre as duas esferas. No contexto do século XIX, onde se encontravam em alta o empirismo e o laicismo, não é tarefa muito difícil estabelecer paralelos com as dificuldades atuais.

O homem contém em si, como dado antropológico fundamental, o senso religioso. Por isso, é absolutamente artificial querer dissociar o homem do fenômeno religioso. A expectativa contemporânea, aliás justa, de que a Universidade seja um espaço plural, onde não haja nenhum tipo de cerceamento à liberdade de consciência, toca certamente no aspecto religioso. No entanto, não é adequado compreender que isto deve resultar na aniquilação da presença da religião nesse espaço.

Newman procurar argumentar que, se é de fato interesse da Universidade buscar a totalidade do conhecimento, não é possível abolir a dimensão espiritual do homem. Aqui não se deve compreender “dimensão espiritual” como um genérico religioso, mas como a dimensão interior do homem, sua disposição, sua alma, que em última análise refere-se a sua própria razão. Assim, busca defender que a presença da religião é importante no contexto da sua presença institucional, mas não só. Newman argumenta sobre a necessidade de contemplar os estudos metafísicos no curriculum acadêmico, uma vez que uma educação baseada na mera empiria e no materialismo puro acaba por esvaziar a educação do seu sentido mais integral, transformando-a em uma espécie de casca, em um corpo sem alma.

A defesa da metafísica, muito desprezada nos tempos de Newman, vai encontrar correspondência ao longo do século XX, mesmo que de forma repaginada. Esse renascimento da metafísica no contexto acadêmico demonstrou sua pertinência e justa conveniência para o conhecimento.

A relação histórica do cristianismo com o saber, mais do que simplesmente não objetar-se a produção de conhecimento de qualquer natureza, foi sempre de cooperação e não raro de mecenato. Isso pode ser verificado na própria gênesis do sistema universitário ocidental que se gestou nos muros e por incentivo da Igreja.

A natureza confessional de um espaço não acarreta necessariamente no fechamento à ideias dissonantes ou mesmo ao cerceamento de outras expressões que não encontram berço no cristianismo e até mesmo, em alguns casos, o contrariem em temas de margem mais ampla para o debate. Com a teologia do Vaticano II, que busca privilegiar uma eclesiologia de comunhão, torna-se ainda mais evidente que a presença da Igreja nos diversos ambientes da sociedade não é um risco à soberania ou à pluralidade, ou uma busca de hegemonia institucional, mas um aceno sincero ao mundo contemporâneo em cooperar e manter-se como uma voz em busca da construção de uma sociedade mais próxima dos valores evangélicos de justiça e fraternidade, valos que representam o anseio do coração de todos os homens.

Se por um lado a Universidade é o local mais excelente para a produção de conhecimento, ela não o pode ser somente. A mentalidade autocentrada do ambiente acadêmico cria o risco de alienar em si aqueles que carregam a missão de perscrutar o mundo e traduzi-lo em conhecimento. Se o universo acadêmico não contemplar a missão de pôr o conhecimento a serviço do conjunto da sociedade, acaba por aliená-lo, viciá-lo, burocratizá-lo.

Neste sentido, o cristianismo pode ser de grande valia ao recordar à academia a necessidade de colaborar na construção e aprimoramento do conjunto da sociedade. Assim também se poderia colaborar para afastar o problema cada vez mais presente, do distanciamento entre a Universidade e sociedade civil.

Advertisement
Receba notícias no WhatsApp
entrar grupo whatsapp Centro Dom Vital: O caminho da Igreja em diálogo com a Universidade

Comente

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui