Chico Alencar: A morte como política de estado

'A morte foi institucionalizada como política de Estado no Rio de Janeiro. Isso é o oposto de Segurança Pública', diz o vereador

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Foto: Reginaldo Pimenta/Agência O Dia/Estadão Conteúdo

O Rio viveu na quinta-feira (06/05) mais um triste capítulo na longa série de massacres perpetrados contra a população pobre da cidade. O saldo da incursão ao Jacarezinho é macabro: na ação mais letal da polícia no estado, 28 pessoas foram mortas. Operação policial com tantas mortes – inclusive a de um agente de segurança – jamais pode ser considerada “bem-sucedida”. A morte foi institucionalizada como política de Estado no Rio de Janeiro. Isso é o oposto de Segurança Pública.

Que “planejamento” de dez meses é esse que não consegue sequer parar a circulação do metrô na área, e impedir o fornecimento de armas e munições ao “inimigo”?

Quem mais sofre com essa concepção nefasta é a população das favelas, há muito abandonada. Esse é o retrato de uma marginalização histórica, que perpassa todos os setores da máquina governamental. A triste realidade é que, nas favelas, ou se morre pela omissão do Estado, inclusive no combate à pandemia, ou pela ação do Caveirão e dos fuzis.

Witzel saiu do cargo de governador, mas a necropolítica do “tiro na cabecinha” continua na gestão bolsonarista de Cláudio Castro (água baça da mesma pipa).

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Essa ação policial ocorreu após o STF (Supremo Tribunal Federal) restringir operações durante a pandemia, permitindo apenas as de caráter excepcional. As informações, até agora, são nebulosas: afinal, o MP foi notificado, conforme determina a liminar do STF? A operação se enquadra na excepcionalidade da lei?

A comparação é inevitável: se os alvos fossem os chefões do tráfico ou de milícias e suas escoltas, que moram em condomínios de luxo, em bairros de classe média e alta, a operação policial teria esse mesmo nível de brutalidade e violência?

Evidentemente que não. Na cobertura diária de imprensa, o que vemos são criminosos abastados indo para a cadeia “amparados” por policiais, que tocam a campainha de suas portas e permitem que as algemas sejam ocultadas para não “manchar reputações”.

Já os moradores da favela têm a porta arrombada a pontapés e saem da comunidade, como vimos agora no Jacarezinho, com os corpos transportados em carrinho de mão.  

Que política de “segurança” é essa que só sabe matar e que, a longo prazo, não tem eficácia alguma? Quanto mais se mata, mais a criminalidade aumenta, pois em áreas pobres não chegam políticas públicas continuadas de educação e cultura (que poderiam ajudar a resgatar o jovem cooptado pelo crime), saúde, saneamento e formação para o trabalho.  Só polícia, com suas incursões letais. 

Enxugamos gelo – e sangue – há anos e a tão prometida paz nunca chega. Há algo de muito errado nessa “estratégia”. Onde estão os investimentos em inteligência policial e tecnologia; no controle do comércio ilegal de armas e drogas, com o estabelecimento de metas de apreensão de fuzis e munições e controle do desvio de armamento legal para o mercado clandestino? Essas sim seriam iniciativas eficazes. No entanto, raramente são implementadas. O Rio de Janeiro clama por uma política de segurança pública real, pautada na defesa intransigente do direito à  vida.

Chico Alencar é professor, escritor e vereador (PSOL- RJ)

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5 COMENTÁRIOS

  1. Eu não fiquei nem um pouco triste, pois foram facínoras eliminados, e não morador de bem da favela.

    Eu sou a favor do extermínio destes terroristas narcotraficante com armanentos pesados que aterrorizam a cidade com venda de drogas, tráfico de armas, assaltos, roubos de cargas, tribunal do crime, estupro das meninas e mulheres….E ainda vem uma praga dessa defender bandido! Pra mim, quem defende bandido, bandido é.

    Seu imbecil!

    É isso aí, Cláudio Castro!
    Ordena mais ações policiais como esta, mas procure matar mais de ? satãs deste em cada uma delas.

    Tá com peninha, leva pra casa, seus vagabundos!

  2. Concordo inteiramente com o Vereador Chico Alencar, e também lamento que ele esteja tão certo no que diz. O “status quo” que vigora há décadas no Brasil é de assumir políticas públicas de simulação, ou seja, ações ineficazes para deixar tudo como está. Assim, os pobres não têm serviços públicos de saúde, educação, ou segurança de qualidade e eficazes e a rede de circulação de armas, drogas e corrupção segue bastante eficiente, pelo visto! A meu ver, trata-se de um projeto de extermínio de pessoas, de oportunidades e de chances para um ‘encontro’ de boas intenções e ao inverso, manter a divisão social, a opressão da grande massa de brasileiros para assegurar a riqueza e o conforto dos detentores do poder e seus agregados! Para mim, a continuar assim o Brasil tende a se inviabilizar cada vez mais como uma sociedade de trabalho, progresso e união.

  3. Sim, vereador, o MP já confirmou que recebeu as informações e, inclusive, documento detalhando a ação com o timbre do MP, segundo a polícia, foi encontrado com os criminosos. Desonestidade intelectual da sua parte.
    Ao falar que nas favelas se morre pela omissão do estado ou pela ação do caveirão, está afirmando que traficantes e milicianos não matam?
    Desonestidade intelectual da sua parte outra vez.
    Tratar mortes em combate armado entre policiais e terroristas (sim, terroristas) como chacina é mais que desonestidade intelectual.
    Sugestão: ofereça-se ao cargo de secretário de segurança (recriando a pasta) e resolva o problema dos terroristas sem confronto, sem tiros, com diálogo, pedindo que abandonem o crime e entreguem as armas, passem um tempo na cadeia e retornem ao seio da sociedade. Ganhará o Nobel da Paz.

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