Chico Alencar: Brasil afunda, sob céu cinzento; Chile emerge, na claridade

'Desde 2019, quando essa tropa de celerados, capitaneados pelo aprendiz de ditador, ocupou os gabinetes do poder, o nosso cotidiano mais se parece com cenas de teatro do absurdo'

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Foto: Martin Bernetti/AFP

O Natal é uma festa de celebração da vida, de renovação da esperança, de encontro com o próximo. Ao olharmos ao redor, porém, é difícil encontrar motivos para comemorar. Desde 2019, quando essa tropa de celerados, capitaneados pelo aprendiz de ditador, ocupou os gabinetes do poder, o nosso cotidiano mais se parece com cenas de teatro do absurdo.

Para nosso infortúnio, a vida real é escancarada diante dos nossos olhos diariamente. As cenas mostradas na TV de gente correndo atrás de restos de comida e ossos é repugnante e nos lembra que milhares de pessoas passarão o Natal com fome.

Ao nos depararmos com os números de mortes na pandemia – mais de 617.000 –, lembramos que outras tantas chorarão os parentes colhidos pela Covid – muitos dos quais poderiam ter um outro destino, não fosse a política genocida do governo federal.

Nem a proximidade da data natalina sensibiliza os negacionistas. Os descalabros não param. O governo federal, por exemplo, boicota deliberadamente o passaporte da vacina e ameaça os técnicos da Anvisa, que defendem a vacinação de crianças.

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De outro lado, um general-ministro golpista, em mais um arroubo autoritário, diz que precisa tomar Lexotan na veia para acalmar seu chefe e não detonar o STF.

Já o capitão que nos (des)governa confessou descaradamente, em cerimônia pública, que favorece seus amigos: anunciou que mandou “ripar” funcionários do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) porque o órgão embargou a obra de um empresário apaniguado.

Enquanto isso, no Congresso, os absurdos e o favorecimento desavergonhado também abundam.  Os parlamentares da voraz base governista aprovaram quase 5 bilhões de reais para o Fundão Eleitoral, e o “rachuncho” corrupto das emendas orçamentárias eleitoreiras mostra que os protegidos do Centrão e do capitão levaram a maioria da verba (o nosso PSOL foi um dos 5 partidos que não receberam um tostão!).

Nem tudo, no entanto, são trevas.  Do outro lado da América do Sul, o Chile nos manda sinais de esperança.  Gabriel Boric, 35 anos, foi eleito o mais jovem presidente da história do Chile. Representante da esquerda democrática (Frente Ampla da coalizão “Aprovo Dignidade”), teve a maior votação da história do país – uma diferença de 12 pontos em relação ao adversário, o extremista de direita José Antonio Kast, candidato da casta reacionária, pinochetista e atrasada, e que ainda contou com o apoio de Trump, Bolsonaro e outros autocratas.

A memória de Salvador Allende e de milhares que morreram durante a ditadura sangrenta de Pinochet e seus comandantes militares não será enxovalhada! O povo chileno repudiou a tentação autoritária, populista, pseudonacionalista e falsamente moralista que Kast representa. Disse um lindo NÃO ao retrocesso e seguirá trilhando “as largas avenidas que conduzem a uma nova sociedade”, livre da opressão, da injustiça e do preconceito.

Quanta inspiração para o ano que chega! “Que nunca mais tenhamos um presidente que declare guerra ao seu próprio povo”, disse Boric, diante de uma multidão que se reuniu para comemorar a vitória.

Que os ventos suaves, “calientes” e esperançosos do Pacífico soprem até o Atlântico em 2022, para que nos livremos de tanto mal. Amém.

Um feliz Natal a todos!

P.S: Tirarei uns dias de descanso.  Voltamos a nos ver em fevereiro.

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