Chico Alencar: Independência e Vida

Chico Alencar fala sobre seu livro “Independência & Vida, para refletir sobre os 200 anos da independência incompleta do Brasil”

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Foto: Divulgação

O 7 de setembro é o dia da Independência do Brasil. Esta é uma das datas mais significativas da história do País. Este ano comemora-se o Bicentenário da Independência. A narrativa oficial nos fala de um D. Pedro I (1798-1834) altivo, que pronuncia a frase “Independência ou Morte! Estamos separados de Portugal”. Ali, naquele gesto altruísta do futuro Imperador, nascia um novo Brasil.

A imagem que carregamos, até hoje, é a de um D. Pedro garboso, empunhando a espada e montado em seu cavalo, cercado pela Guarda Real às “margens plácidas” do córrego do Ipiranga. Um verdadeiro herói nacional.

Reproduzida às centenas de milhares em cadernos escolares e livros didáticos, esta imagem é, na verdade, do quadro “Independência ou Morte”, encomendada ao pintor Pedro Américo (1843-1905) mais de sessenta e cinco anos depois, e exibida no Brasil apenas em 1895, quando da inauguração do Museu Paulista.

Na verdade, o que aconteceu não tem nada de majestoso. Segundo relatos de quem estava acompanhando a comitiva de D. Pedro, ele cavalgava uma mula de carga, montaria muito mais apropriada para vencer as trilhas das íngremes encostas da Serra do Mar, por onde D. Pedro voltava de uma viagem a Santos, no litoral paulista.

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Além disso, para infelicidade do regente português, ele sofria, no momento, de uma forte indisposição estomacal, fruto de algo estragado que comera em Santos – e que o fez parar várias vezes ao caminho.

Foi no instante em que estava “obrando” às margens do riacho Ipiranga que D. Pedro proclamou a Independência do Brasil. Mas só veio a ser aclamado Imperador em 12 de outubro, sendo coroado no dia 1º de dezembro.

Como se vê, uma situação bem diferente da retratada na famosa tela de Pedro Américo. Que, além do mais, é tida como um plágio do quadro que retrata Napoleão na “A Batalha de Friedeland” (1870), do pintor francês Ernest Meissonier (1815-1891).

Essa imagem, tão presente em nosso imaginário, é um entre os vários mitos e distorções acerca da nossa Independência. Ela, afinal de contas, não nos tornou tão independentes assim e nem concedeu ao nosso povo qualquer vestígio de cidadania.

Foi, na verdade, um arranjo das elites, que não mexeu na arcaica estrutura econômica escravista de então.

O 7 de setembro, feriado nacional, tem se transformado em ensaio aberto para um golpe da extrema direita brasileira (a la Trump). Conhecer as razões e limitações de nossa Independência é também meio de resistir a esses rosnados autoritários e neofascistas.

Para falar das nossas contradições como nação, no bicentenário de sua fundação, escrevi um livro intitulado “Independência e vida”. É um chamamento para refletir sobre os 200 anos de independência incompleta do Brasil.

A obra foi editada pela Fundação Lauro Campos Marielle Franco (FLCMF), do PSOL. São 112 páginas e 20 capítulos, com capa e ilustrações do cartunista Claudius. O lançamento será no evento “Santa Teresa de Portas Abertas”, sábado que vem, dia 06, às 14h, no pátio da Igreja Anglicana do bairro. Às 16h, darei uma miniaula pública, intitulada, “Gritos e Sussurros às margens do Ipiranga”.

Apareça por lá. Sua presença muito me alegrará.

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