Chico Alencar: Salve o Almirante Negro

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Foto: Divulgação

A inscrição do nome de João Cândido Felisberto, líder da Revolta contra a Chibata, em 1910, no Livro de Heróis da Pátria, já aprovada no Senado, encontra resistências na Câmara dos Deputados, onde tramita (PL 4046/21).

O comandante da Marinha, almirante Marcos Olsen, entrou no debate, ao enviar uma carta ao presidente da Comissão de Cultura, deputado Aliel Machado (PSB/PR). Ela está no site da instituição, como posicionamento da Força.

Ainda que assinalando “não ser competência da Marinha do Brasil julgar argumentações de membros da Casa Legislativa” – e não é mesmo! – o comandante julga e condena a proposta.

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Diz que a Revolta que acabou com os castigos corporais na Armada “é fato opróbio da História (…) que se deu pela atuação de abjetos marinheiros (…) para chantagear a Nação”.

Afirma também o comandante que os rebelados, “além do justo pleito pela revogação de prática repulsiva do açoite, buscavam vantagens corporativas e ilegítimas” – assim considerando as demandas por melhoria do soldo, punição a oficiais torturadores e jornadas de trabalho menos extenuantes.

Por fim, Olsen condena a “inclusão de João Cândido e qualquer outro participante daquela deplorável página da história nacional no Livro de Heróis da Pátria”.

Na linguagem da ditadura, que inclusive censurou vários trechos do antológico samba “O Mestre-Sala dos Mares” (de Aldir Blanc e João Bosco), o almirante conclui que a proposta “enaltece passagens afamadas pela subversão”.

Discordo totalmente da visão do comandante da Marinha. E, como parlamentar e professor de História, escreverei CARTA ABERTA à Sua Excelência, refutando cada afirmação sua sobre aquele acontecimento histórico marcante, que possibilitou novo patamar civilizatório à Marinha do Brasil (novamente ofendido pelas abomináveis torturas praticadas no Cenimar durante a ditadura militar empresarial iniciada pelo golpe de 1964).

Revisitar a História é também enxergá-la pela ótica dos vencidos, que corajosamente lutaram contra todas as opressões.

“Seu” Candinho, 85 anos, filho de João Cândido, diz: “meu pai sempre foi perseguido; de 1910, até hoje, a Marinha mantém um rancor, um ranço danado contra meu pai”. Conclui: “deveriam agradecer aos marinheiros pela Marinha que existe hoje” (O Globo, 27/4/24).

“Glória a todas as lutas inglórias/ que através da nossa História/ não esquecemos jamais!”.

Viva João Cândido, o Almirante Negro, e todos os marujos que disseram NÃO à tortura e à humilhação!

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