Clima azeda entre Prefeitura e lideranças portuárias e ‘Parque do Porto’ pode não sair do papel

Lideranças do setor portuário criticam duramente a proposta da Prefeitura, afirmam que o cais “não é passarela para turista” e cobram mais respeito à dinâmica operacional da área

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Um ano depois de anunciar com entusiasmo o ambicioso projeto do Parque do Porto, a Prefeitura do Rio enfrenta resistência pesada das lideranças que comandam as operações no Porto do Rio de Janeiro. A proposta, apresentada por Eduardo Paes em maio de 2024, pretendia transformar a orla dos Armazéns em um novo cartão-postal da cidade, com passarelas flutuantes, áreas verdes e espaços públicos — algo que o prefeito comparou ao “Parque do Flamengo do século XXI”.

Mas, ao que tudo indica, o plano não caiu nas graças dos donos da casa. Durante um encontro realizado nesta quarta-feira (21/05), voltado à discussão de soluções para a Região Portuária, o clima entre representantes da Prefeitura e os gestores do porto foi de leve tensão. Na avaliação das autoridades portuárias, o município tem se movimentado de forma unilateral e descolada da realidade operacional da área.

Logo no primeiro painel do evento, o presidente da PortosRio (antiga Docas), Francisco Martins, deixou claro o descontentamento. Segundo ele, a Prefeitura insiste em vender a ideia de um boulevard à beira-mar sem considerar o impacto nas operações logísticas e turísticas. “O que não é compatível é transformar o cais em passarela pra turista. Cais é pra navio”, disparou. Martins lembrou que o terminal de passageiros já movimenta mais de 400 mil turistas por ano e criticou a tentativa de transformar a área em ciclovia. “O porto tem sua dinâmica e continuará sendo assim.”

Mario Meira, diretor financeiro do Sindicato dos Operadores Portuários (Sindoperj), também foi direto: “O porto é muito mais do que vocês imaginam. Não é assim: ‘como a cidade eu quero o porto’. Isso aqui é federal. Não é a cidade do Rio que está ganhando com o funcionamento do porto, é todo o conjunto que colhe. Minas Gerais hoje exporta pelo Porto do Rio, por exemplo.” Meira ainda rebateu críticas ambientais ao porto: “Durante a pandemia o Rio inteiro parou, mas o porto funcionou todos os dias e aumentou sua produção. A Baía de Guanabara foi a mais limpa de todos os tempos. Esse porto não é poluidor, é agregador.” E completou: “A Gamboa, o Santo Cristo, a Saúde, todos devem muito ao porto do Rio. O porto é um ativo. Vamos cuidar dele. A prefeitura tem uma participação fundamental nisso.”

O presidente da Logística Brasil também fez ressalvas. Ele criticou os planos urbanísticos do projeto Mata Maravilha, concebido para tornar a área do Porto Maravilha um polo de inovação e natureza. “Pra fazer uma praia na Gamboa, como foi anunciado, tem que passar por cinco órgãos públicos. Não vão deixar acabar com o Cais da Gamboa. O cais recebe 13 milhões de toneladas por ano. Um navio diferente chega dia sim, dia não. Fica dois, três dias parado”, afirmou. “É possível ter uma relação harmoniosa com a cidade? É. Desde que a cidade respeite o porto. E, lamentavelmente, não vemos essa prioridade.”

CCPar pede diálogo: ‘Transformações nascem do conflito

Na plateia, acompanhando as críticas, estava o presidente da Companhia Carioca de Parcerias e Investimentos (CCPar), Osmar Lima — Foto: Victor Serra/Diário do Rio

Na plateia, acompanhando as críticas, estava o presidente da Companhia Carioca de Parcerias e Investimentos (CCPar), Osmar Lima. Ele assumiu o cargo em janeiro e pediu a palavra: “Tô naquela cadeira há cinco meses, mas minha relação com o Centro não é de agora. O porto nunca vai deixar de ser um ativo. Não deveríamos ver uma cidade que espreme o porto.”

Segundo Lima, é natural que haja embates quando se fala de transformação urbana. “A população busca o contato com a água. Isso vai acontecer, porque vamos colocar 30 mil pessoas morando aqui no porto. Essas pessoas querem chegar na água”, afirmou. “A transformação do espaço urbano parte de conflitos. Esses conflitos são resolvidos e tornam a cidade que a gente vive. A derrubada da Perimetral foi assim. Todos eram contra. Hoje, ninguém lembra.”

Paes afirmou, no ano passado, que o presidente Lula já havia visto a proposta: “Eu apresentei o projeto ao presidente Lula há dois meses e estava guardando na gaveta. O presidente se apaixonou pela ideia. Ali é uma área federal.”

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5 COMENTÁRIOS

  1. Eu também adoraria ver o Parque do Porto a Mata Maravilha, mas entendo que tudo é puro marketing….Não é possível um Prefeito que eu considero o melhor de todos na história do Rio ser tão ignorante, achando que o atual Porto do Rio, mesmo sendo velho e sujo, tem operacionalidade e renda para o Estado…o problema é como substituir a área portuária e o elevado custo….por isso que acredito que é tudo Estratégia de governo para que ele seja o futuro Governador.

  2. A proposta é maravilhosa e necessária, transformar a área dacadente e perigosa do Porto e integrá-la a nova paisagem e urbanidade da cidade.

  3. Cais do Porto é para Navios. Praia é para lazer dos cidadãos.Florestas é para serem preservadas.Jardins e Praças é para serem implementadas.
    Onde esse Prefeito não entendeu ou ouviu que existe um Plano Diretor da Cidade do Rio de Janeiro.

  4. Acho a transformação da cidade necessária. O Rio precisa expandir no potencial turístico. Dito isso, o porto readaptado em parte. Sequer é possível atracar os enormes navios de carga, geralmente vindos do Pacífico e Indico, que logo passarão a preferir dar a volta em todo Pacífico até o porto do Peru… esse Porto do Rio está destinado a ficar atrás na questão de transporte de cargas.

  5. Acredito que EDUARDO PAES dará a volta por cima e dentro uma lógica voltada para o bem de todos.
    Eu gostaria muito de ver esse projeto MATA MARAVILHA ir a frente sem prejudicar os Srs. Gestores do Cais do Porto que é um CAOS de horrível aqueles Armazéns, etc.

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