Coisas da Ilha do Governador

Wagner Victer faz sua declaração de amor à Ilha do Governador e lembra de histórias e personagens do passado recente do bairro

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Com a pandemia tenho ficado muito em minha Ilha do Governador, quando tenho podido caminhar com minha bermuda desbotada e sandália havaiana, sem estar virada como era moda no passado, pelas ruas e reencontrar pessoas que não via há muitos anos e que me sensibilizou fazer esse texto para o DIÁRIO DO RIO.

O interessante que a cada encontro nesta pequena caminhada iniciada no meu Moneró querido, desde a antiga padaria do “Seu Reis”, em frente a banca de jornal do eterno jornaleiro Totó, ao saudoso Bar das Canoas, passando pelo antigo botequim do Seu Manel e o açougue do Seu Francisco, em cada encontro de morador antigo, ou em paralelepípedo se abria uma pequena caixa escondida em minha mente e que me navegava para fatos do passado da minha querida Ilha e que certamente levará aqueles que já passaram dos 50, como eu, e quando os bares, padarias comércios na Ilha ainda ostentavam como referência o nome dos seus donos ou nas referências as gravuras, pinturas e azulejos nas paredes.

Lembrei das festas, entrando como penetra, ou dos hi-fis (raifáis) que regados com Q-suco de uva e com as músicas tocadas no tape deck de fitas e que eram amplificadas no receiver, dançando juntinho, ainda no início da carreira do Michael Jackson, dos Jackson Five ou dos Carpenters e até do Morris Albert. Muitas vezes os bailes vinham de maneira mais organizada nas tardes de domingo no escurinho da quadra do clube Jequiá, ao som do saudoso Big Boy.

Os cinemas da Ilha do Governador

Falando dos domingos do passado, muitos ainda tem no coração as sessões no Cinema Mississipi no Cacuia, onde está atualmente o Bradesco, comendo depois um mixto quente com Milk Shake na lanchonete Missouri que ficava ao lado, o que nos permitia, de forma moleque, até dar calote pela confusão que se formava principalmente quando os grandes filmes eram lançados como: Ben Hur, Romeu e Julieta, Love Story e até o Tubarão.

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Aos não cinéfilos iniciantes não tão românticos, sobrava uma sessão dupla de filme de Caratê e Pornochanchada no Cine Guarabú, o mais freqüentado “poeirinha” do Bairro ou uma sessão de filme brasileiro em o extinto Cine Itamar, estilo Art Decô, na Freguesia. Mais tarde, após o fechamento de todas nossas salas de cinema na Ilha, o que nos salvava era a sessão domingueira de cinema no Iate Clube Jardim Guanabara, após a missa das sete da noite que aconteceria na igreja São José Operário e de tomar sorvete de “Sambayon ao Porto” que era deliciado na sorveteria Hébom da Estrada do Galeão que depois virou “Sem Nome” e já até não existe mais.

Os que já tinham carro ou de carona se deliciavam na “Sessão Coca-Cola”, com refrigerante de graça e alto falante pendurado internamente através do vidro no Drive-in do Ilha Auto Cine, onde alguns entravam na mala do carro, que resistiu até recentemente como sendo o último dos moicanos em nossa cidade. Os hálitos da garotada eram sempre perfumados com as balas tipo Halls, Juquinha ou com doces Frumelo e Pirulito Zorro ou com o legendário Drops Dulcora, que aliás nos dava um “efeito fake colateral” positivo e um volume fake quando colocávamos no bolso da frente da calça.

As noitadas na Ilha do Governador

Para os moderninhos cariocas e não somente os insulanos, as boates freqüentadas eram na Ilha e foram moda no Rio de Janeiro, recebendo visitantes da Zona Sul, que eram agitados pelos “embalos de sábado a noite” ao som do Bee Gees eram as boates “Night Fever”, “Abloom” e Scorpions, que podiam, pelos mais abastados, riquinhos da ocasião, ser precedidos de um vinho branco Alemão de garrafa azul, no “Ilha Point Piano Bar” da Cambaúba ou de um jantar na vista deslumbrante da Praia da Bica que vinha da varanda do restaurante Geranius, que avançava, como um convés de um navio sobre a Estrada da Bica.

As batidas mais avançadas e após este período romântico eram no “Olho do Cuco” na Estrada do Dendê, na “Boite Buda”, no Jardim, na Magic ou no Nautilus na Freguesia, ou na “caça” às meninas da Vila da Penha no lendário Farol da Ilha ou na Boite da Ribeira em frente a ACM, ou no berço do Elimar Santos que era a Tasca, Taberna e o Tabuão. No samba, quando a União da Ilha ainda era “Nos Confins de Vila Montes” os ensaios eram mais animados, e na quadra do Esporte Clube Cocotá e a União fazia sua evolução com os artistas da época desde o inesquecível Haroldo Melodia, pai do nosso ainda ativo Ito Melodia.

Nem sempre tais investidas românticas davam resultados. A sociedade e as meninas eram muito mais conservadoras do que são hoje, mas mesmo assim assistir as “corridas de submarino” na Praia de Moneró (Praia do Dendê), onde hoje está o Corredor Esportivo era programa obrigatório daqueles que não conseguiam performar suas conquistas no Ilha Motel, com direito a entrada e saída por duas ruas, ou no Sunshine no Jardim.

Para os mais duros era o Hotel Flexeiro, Hotel Oxum Ogum Beira Mar, Hotel Plage ou até no ainda existente Hotel Joalo’s no Jardim Guanabara onde um bar ao térreo dava um álibi perfeito para uma escapulida para quartinhos onde o único asseio era uma pia.

Nesta cruzada qualquer passo indevido resultava na maligna gonô, rapidamente e de forma eficaz tratada com Binotal 500, em dose única, vendido na Farmácia Capanema do Tauá, do saudoso Seu Zé Luis e do imortal Seu Sylvio, muito uteis também nas estrepolias no eterno e sobrevivente “Peixão” um belo bar temático e fervilhante ainda existente na Praia da Guanabara.

Ilha do Governador, o bairro perfeito

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Foto: Francisco Victer

Tudo se tinha na Ilha: O bairro perfeito! Das praias onde os transviados da ocasião podiam tranquilamente “fumar um beise com a rapeise” e se tostar direto na areia ou sobre uma esteira sem qualquer problema dermatológico causado pelos raios ultravioletas, que eram até potencializados com óleo de avião os mais esportivos jogavam frescobol em nossas diversas praias.

Para as dondocas o must da ocasião, além do perfume Lancaster, que tinha um pauzinho dentro, era o Bronzeador Rayto Del Sol, contrabandeado da Argentina. Nas belas Praias da Bica, Engenhoca, Freguesia até a barra pesada na Praia do Chiclete, no Moneró, a Ilha fervia nas límpidas águas da Baía de Guanabara onde muitos aprenderam a nadar e pescar seus siris com puçá ou suas “marias da toca” ou cocorocas com anzol, vendidos em armarinhos e potencializada em “linha de fundo” e “caniços” por chumbada e linha de nylon ou até pegar mariscos ou caçar unhas de velha com a maré baixa utilizando enxadas e escavadeiras.

Para os mais dedicados a pesca essa se fazia com o arrastão, em especial, aquele com fundo amarrado que era um show e que pegava muito camarão principalmente quando a maré estava baixa ou quando trovejava. Os que buscavam se arriscar iam ao fundo da Baía pescar, nos até hoje inexplicáveis e perigosos currais eram policiados por “milicianos do mar” e próximos a Magé se pescavam os siris em uma ilha artificial formada pela dragagem do canal de acesso ao Estaleiro EMAQ (atual EISA), que nos enchia de orgulho e de ondas quando seus navios lateralmente se lançavam ao mar, e que aguardávamos, com pranchinhas de isopor em frente ao eterno e assoreado por lama, Governador Iate Clube. Aliás o hábito de pegar siris resiste até hoje na pesca com puçá, naqueles que ficam junto ao paredão do Corredor Esportivo e podem ser pegos de cima em um exercício de boa visão.

Na área Gourmet as opções eram fantásticas não só pela comida da mamãe, pois pouco se comia na rua, já que delivery era palavra inexistente. A comida era preparada com carinho, com gás de botijão e adquirida na grande rede de Supermercados Leão, existente com três filiais no bairro, que disputava passo a passo com a rede Merci, que teve seu ápice com a inauguração da sua loja na Cambaúba, ao Galeão, hoje uma igreja evangélica da Universal, com um show do Rei Roberto Carlos, que aliás, na hora foi substituído, sem muitas lamúrias, por Wanderley Cardoso.

A briga dos supermercados

A disputa dos supermercados porém foi abalada depois com a chegada do Supermercado Disco e do “Mar e Terra”, que nos seduzia com sua baleia em forma de escorregador, que depois virou o Bon Marchê e, em especial, com a chegada das Casas Sendas (já que o saudoso Arthur Sendas também morou na Ilha), que revolucionou a Ilha com seu cafezinho gratuito, com a venda de balas a varejo, que nos permitia “subtrair” algumas, enquanto apreciávamos os indiozinhos que vinham de brinde dentro dos vidros de Toddy ou os soldadinhos Sucrilhos Kellogg’s.

Aliás nas Casas Sendas da Estrada do Galeão onde está a Casa Show, se criou na Ilha, o hábito de lanchonete onde podia se consumir muito barato não só o sundae, ou banana split, mas o “sorvete colegial”, com o então novo sabor de flocos, ornamentado por uma calda branca que se chamava marshmallow e com farta cobertura de castanha e suporte de fundo de taça a base de groselha, que se equilibrava visualmente com a cereja, que brilhantemente adornava o topo. As variações do Milk Shake, eram maravilhosas como a “Vaca Preta”, feita com Coca-Cola e sorvete ou Frapê, que até hoje não sei do que é feito, mas era muito gostoso principalmente a espuminha que ficava ao final, sugada de forma ruidosa por um canudinho de papel que amolecia ao final.

Os antigos restaurantes

Como disse comer fora era difícil. Não havia os grandes trailers existentes hoje nas praias, porém podíamos, porém degustar o cachorro-quente do Benigno, vendido em um Romizeta cinza que precisava ser empurrada para pegar, acompanhado com um mate bebido em copo de papel em forma de cone, que era equilibrado por um suporte de alumínio em forma de ampulheta e que foi depois pioneiro nos trailers da Ilha, que hoje são os chamados quiosques.

No churrasco tínhamos a opção da churrascaria pioneira no sistema de rodízio do Rio, quer era na churrascaria São Borja, na Estrada do Dendê onde hoje se localiza uma vidraçaria, ou um galeto torradinho no Chuá, resistente sobrevivente até hoje. Para os que queriam petiscar a boa opção era a Taberna, onde na ocasião, emergia um jovem cantor de nome Elymar Santos, ou os testículos de galo e a sopa de siri na Toca da Raposa, na Estrada do Galeão, os tremoços com cerveja gelada no Bar do Seu Armando (Pai do Duda), na Estrada do Dendê, ou mais tarde na Ribeira no “Feijão Maravilha”. Ou comer na pizzaria Brotinho na Freguesia do “Seu Sobral”, no Bikukas os sucos com sanduíches com nome de carros, na lanchonete “Ping Pong”, na Estrada do Galeão, o “Caranguejo Lelé” ou na pizza fina da Pizzaria Japon servido pelo garçom Sérvulo com a opção de entrega do Dom Franguito.

Os restaurantes regionais saudosos como o “Garota do Pará” na Freguesia, Pai Dégua no Guarabu. Alguns restaurantes sobreviventes ainda adornam nossa Ilha, como o Rei do Bolinho de Bacalhau no Tauá, o único feito na colher e o lamento do recente fechamento do Chinês Misterioso Oriento Palace, e até a Gruta da Ilha que atualmente renasce como a Lanchonete do Grego.

As celebridades passageiras na Ilha

A Ilha sempre foi o local das celebridades algumas passageiras, outras eternas. Não por ser a terra que o Papa João Paulo II beijou ao vir ao Brasil, ou onde Frank Sinatra deu seus primeiros acordes ao chegar ao Brasil, mas por ter sido moradia de grandes poetas como Lima Barreto, Vinicius de Moraes, Raquel de Queiroz, Chiquinha Gonzaga e o próprio Rei do Baião, Gonzagão e outros artistas contemporâneos como Miguel Falabella, com seus irmãos que estudavam no lendário Colégio Mendes de Moraes (onde também estudou a atriz Suzana Vieira), Fernanda Montenegro, Renato Russo e outros, até considerados bregas mas que tiveram grandes momentos como Michael Sullivan, Waldick Soriano e Wanderley Cardoso.

No esporte a Ilha foi berço e casa de craques como Sabará, Quarentinha, Doutor Rúbis, Brito, Roberto Dinamite, Didi, Nilton Santos e até o Gênio Garrincha esses três últimos que moraram no Moneró, aliás a foto de Garrincha fazendo embaixadas no Corredor Esportivo, sob o olhar da saudosa Elza Soares correu o Brasil, aliás muitos jogaram peladas em Itacolomi e no Centenário Flexeiras em Tubiacanga. Ao lado das figuras ilustre emergiram muitos que surgiam e sumiram como a mendiga Xuxa, o mendigo Bá, que morava no matagal onde hoje é o Village, o Badi do Moneró, o Jacaré Lixeiro (este encontrei recentemente e ainda está garoto), o PM, do sinal do Galeão, quer era um simpático negão que ficava no sinal de trânsito próximo ao Lemos Cunha até o temido policial Porsche, outro negão gigante de dois metros de altura que aliás por seu porte físico assustava todos quando saía do camburão.

Figuras da Ilha: José Moraes e José Richard

Jose Moraes 1 Coisas da Ilha do Governador

Uma figura lendária da Ilha do Governador que ainda continua garoto, acredito que deve beber formol é o eterno Comodoro do Iate Club, José Moraes, que organizava as tradicionais peladas da Modus, e que as faz até hoje, mesmo com o fim desta loja que ficava onde hoje está o Habib’s e onde ele fazia a exposição de possantes veículos, na ocasião conhecidos como baratinhas por uma escuderia e loja chamada de Speed Motors. Outro ícone vivo da Ilha antiga ainda em grande atividade é o José Richard, que foi o pioneiro na comunicação na Ilha com seu Ilha Notícias, quando ainda não existiam internet e outras redes sociais e os informes só rodavam nas escolas e mesmo assim a base do mimeógrafo, que cheirava a álcool em um barato gostoso.

Afinal o esporte sempre teve a cara da Ilha não por seu clube tradicional a Portuguesa, onde existiam os melhores carnavais do Rio, somente comparados aos da “Noites em Bagdá”, no Monte Líbano. Este estádio dos “ventos uivantes”, de nossa simpática Associação Atlética Portuguesa, abrigava todo tipo de evento desde apresentação do palhaço Carequinha, às partidas de futebol do campeonato carioca, onde muitas vezes vi Rivelino fazer chover e até o goleiro do Flamengo, Ubirajara, fazer um gol chutando de sua própria área. Ir ao Maracanã, era uma trajetória de romaria ou pegando o ônibus 634 ainda com fichas coloridas, que rodava o mundo ou pelo 324, 326, 328, saltando na Leopoldina e fazendo uma caminhada sem os riscos de arrastões de hoje.

Os campos de futebol

Os locais para a prática do futebol, das peladas com “kichute” e “congas”, eram muitos. Não só no imenso campo de terra batida do Colégio Lemos Cunha onde havia uma encosta lateral a ser escalada e monitoradas pelos professores de Educação Física, Ney, Agenor e Osmeny (Siri), mas no Esporte Club Cocotá, ou em campos mais adornados como o do canteiro de obras da Odebrecht para o Aeroporto ou em Campos de Várzea como o “poeirinha”, onde hoje existe o Village e também o “Merdão” onde existe a Estação de Tratamento de Esgotos da Cedae, junto a Praia da Rosa.

Também existia o campo na Praia do Dendê, no fim do Corredor Esportivo, em frente ao condomínio apelidado de Pombal, de funcionários da Petrobras, e de onde surgiu o VERZUL, coordenado pelo seu João da Comlurb e que existe até hoje onde meu pai Francisco (Chico) foi um dos fundadores.

Outro ícone, para a pratica do esporte, além da Praça Papai Noel, era a quadra do “Seu Nelson” na Domingos Segreto no Moneró ou o campo do alto Jardim Guanabara próximo onde está um Reservatório da CEDAE e atualmente a casa de festas Green House. Nos clubes se destacavam as quadras e o campo do Governador Iate Club, que qualquer um entrava, ou para públicos mais seletivos o campo da ACM, além das quadras do Clube Jequiá onde também se tinham excelentes bailes de carnaval, porém pouco menos badalados que os da Portuguesa, por serem mais elitistas pelo preço cobrado.

A Educação insulana

Na esfera da educação não tínhamos somente o tradicional Colégio Capitão Lemos Cunha, com seu eterno Diretor Borges que se portava de forma garbosa  no Hino Nacional, compensando sua sisudez pela figura de um psicólogo (psicolouco) Emanuel, que hoje certamente teria seus atos pelo menos mal interpretados pela forma carinhosa como tratava as meninas por quem ficávamos babando, até a eterna disputa em olimpíadas com os tradicionais Colégios Olavo Bilac, ainda na Cacuia, o Newton Braga, onde junto com a ACM se realizavam as melhores festas juninas da Ilha, Mendes de Moraes, onde aconteciam os festivais de música do GATIG, e até outros colégios que conhecíamos pela cor difusa do seu uniforme como o Filgueiras ou pelo vestuário desengonçado como a Escola Modelar Cambaúba, com o seu enigmático EMC na camisa que se confundia com a Educação Moral e Cívica, disciplina existente na época fruto de intervenção da ditadura na grade escolar.

Dos cursos preparatórios na ocasião para EPCAR, EPCEX, ETF (atual CEFET), fervilhavam como o Curso Amaro e também o ÓPERON, que eram a solução caseira para os que não pegavam 696 para saltar na pracinha do coreto do Méier, e até tomar um suco no Molinaro e estudar no Curso Martins.

É importante que nossa área educacional na Educação Básica se resolvia na própria Ilha não só na compra do material escolar nas agências do MEC, mas os livros sempre encontrados, na Eletrolândia do Cacuia, onde existia um anão que resolvia tudo, ou na Papelaria Debret um tipo de armarinho onde além dos livros podíamos comprar os botões de futebol de mesa, em galalite, ou os decalques para junto com as folhas de papel almaço, suportar nossas pesquisas feitas na enciclopédia Barsa, ou na Delta Larrouse ou nos fascículos do Conhecer. Também no inglês tínhamos a Cultura Inglesa no Cacuia, nos preparando com a “Miss Campos” ou com o Professor Darcísio ou Darc, um simpático professor que lembrava o Presidente Obama e que depois foi para o CCAA do Guarabú, tendo passado antes pelo Curso Yes que ficava atrás do submundo.

Da Ilha me lembro de figuras como professores que ficaram lendários no bairro não só a Tia Lavor que virou nome de escola, mas o professor galã Sérgio da Geografia e História que provocava suspiro nas meninas até o Professor Davi, ambos do Lemos Cunha que virou escândalo quando os representantes da Ilha conservadora descobriram que o tradicional professor era o lendário transformista “Laura de Vison”.

O maior artilheiro da Ilha do Governador

No esporte, além da tradição do nosso futebol de praia e society, não só pelos grandes times que tivemos no Iate Club Jardim Guanabara como o famoso time da Modus, sempre tivemos como referência nossa simpática Portuguesa, que teve como seu técnico e massagista nas divisões de base o polêmico Baiano e que aproveitava os craques que brotavam nas peladas no Esporte Club Jardim Guanabara, nos campos do Aerobitas, Fuzileiros Navais e outros campos onde tive prazer de jogar como no “Poeirinha” que tinha um buraco no meio e que fica onde hoje fica o Village, e o extinto campo do Moneró, que tinha uma árvore na lateral e onde me consagrei, modéstia a parte, como o maior artilheiro da história da Ilha do Governador, quando fiz os insuperáveis 19 gols, em uma partida de campeonato. Aliás esse campeonato tem uma passagem histórica pois foi interrompida pelo saudoso Seu Lavouras quando ele comprou toda uma carrocinha de sorvete da Kibon e interrompeu uma partida em um campeonato de adolescentes nesse campo extinto no Corredor Esportivo, que tinham times com nomes curiosos como: Penharol, Condenados e Porto.

Nestas atividades os peladeiros também se refrescavam tomando refrigerantes como Mirinda, Crush e Grapete, sempre lembrando que meu time era coordenado pelo técnico rigoroso, Seu Waldir, assessorado pelo saudoso amigo Antônio Maia conhecido na Ilha como Batman.

Os mistérios da Ilha

A Ilha realmente era mística por suas histórias e lendas que vinham dos famosos “Paióis subterrâneos da Aeronáutica” que diziam que poderiam explodir a qualquer instante levando pelos ares nossa Ilha. Ás “placas de caveira” que ostentavam os muros na entrada do Galeão salpicadas por Guaritas com soldados da Aeronáutica sempre atentos até a histórica Fonte de Água Mineral Gasosa Fontana, na Praia da Bandeira.

As lendas da Ilha eram mágicas, desde a derradeira descoberta da cura do vitiligo por uma farmácia, Boriloy, em frente ao cemitério do Cacuia, aos índios da Ribeira a lenda da nossa Onça Maracajá que até hoje se ostenta em forma de estátua na Pedra do Bananal aguardando a volta de Aribóia que se fixou em Niterói. Lembro das caminhadas nas aulas de educação física do Lemos Cunha à um “forte abandonado” onde conta-se a lenda foi flagrada uma “cocota” na ocasião em práticas condenáveis à época e virou o tema na época.

Os lugares na Ilha surgiam, bombavam e depois sumiam, porém sempre coroavam nossas mentes. Onde está o Gaiteiro do “Submundo”, soube que virou pastor que era o Shopping recuado na rua Colina onde se tomava de maneira sorrateira uma cerveja gelada, ou se via a venda do “Éter com Clorofórmio e Essência de Perfume” no famoso Loló da Colina. Ou o Parque de diversões do Aterro do Cocotá com seu trem Fantasma, Roda Gigante e carrinho Bate Bate ou o ringue de patinação Roller Pino, na Freguesia. Quem não se lembra das grandes plateias nos famosos Pegas que aconteciam na curva do canhão e mais a frente na curva do aterro do Cocotá?

As belas insulanas

As mulheres, tínhamos as mais belas do mundo. Não só para aqueles abastados que tinham sua moto “Pushi”, Garelli ou Cinquentinha, vestiam a camisa Hang Ten, calça cocóta, Levis ou Lee usando com tênis Flexa ou All Star, mas que tinham, como nós mortais, musas que não sabemos mais aonde estão. Quem não se lembra das irmãs loiras Canadenses, da Taisa, da Cristininha, da Monica Boliviana, que acabou casando com o já citado José Moraes e até meu amor infantil que era Cibelle, que a última vez que a vi ainda era professora da Escola Tia Lavor que me ainda lembro de suas meias soquetes brancas e seu vestido escolar curto. Dezenas de outras povoam eternamente nossas mentes em nomes não muito mais usados atualmente como Anas, Leilas, Vânias, Lauras, Claudias, Cristinas, Reginas Marizas, Moanas, Denises e Cecílias.

Ahh! Ilha do Governador. Te amo muito, quero estar contigo para o resto da minha eternidade. Lembrar do teu passado me faz voltar a ser criança.

Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.

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17 COMENTÁRIOS

  1. Caramba! Quantas lembranças desse tempo. Fiquei emocionada com a citação do meu falecido Pai “Seu Reis” na história do bairro Moneró. Inesquecível, tão presente na memória. Belo texto. Agradecida !

  2. Muitas e boas as lembranças aqui publicadas pelo amigo e insulano, Wagner Victer, sobretudo quanto as casas noturnas, bares e restaurante, que na verdade são as maiores lembranças dos insulanos que tiveram a oportunidade de viver e frequentar a noite insulana, que a época, era absolutamente segura sobre todos os aspectos. No entanto, a nosso amigo, Victer, embora tenha frequentado a época e que certamente deve ter marcado a vida dele, quanto a vida de tantos jovens, homens e mulheres, e que não foi citado nesse artigo, foi o Bar Copo Gelado, na Rua Colina, 60 loja 15. Era uma casa simples, espelhada, que tocava músicas mecânicas e ao vivo pontualmente, mas que reunia centenas de jovens, de segunda a domingo, no calçadão da Colina, ao cair da tarde até altas horas. Queria destacar que a casa fez sucesso absoluto, principalmente porque servia a cerveja mais gelada da Ilha, que era servida em canecas e ou copos gelados. E, aquele tão frequentado Bar, que recebia os jovens insulanos de todas as classes sociais, tinha como proprietários, o Cidinho e Osvaldo Pereira. Cidinho até hoje continua no ramo de restaurante, e Osvaldo Pereira seguiu carreira no jornalismo, é atualmente é jornalista responsável e editor do Jornal RJ Verdade. Grande abraço!

  3. Rapaz! Excelente Crônica . Falando de todos os aspectos e características da.nossa Excelente Ilha do Governador! Não havia e não há, na minha visão, lugar mais completo do que a nossa Ilha! Parabéns Amigo Vagner Victer!

  4. Putz! viajei! tenho 59a, nos mudamos pra Ilha, pras casinhas da Portuguesa em 1971, qnd eu tinha oito anos. em 1979 aos meus 16a nos mudamos para o JD GB, Rua Uçá, em 1980 formávamos o primeiro grupo de motos da Ilha – só faziamos M mas eramos conhecidos e queridos por todos, até pela PM da época que parecia conhecer cada habitante da Ilha… namorei uma das meninas mais cobiçadas do Olavo Bilac e da Ilha, cujo nome não consta no texto.. O ÚNICO ERRO do autor foi o seguinte: o ring de patinação ROLLER PINO, funcionou durante pouco tempo em 1980, quando veio a moda dos patins, no lugar da Night Fever na Av. Paranapuam, que tb frequentavamos as matinês. O Ring de patinação que “bombou” na época foii o Roller Green (tenho meus patins até hoje), na Praia Da Guanabara 303, que depois virou casa de shows de nome “Overdose”, que a PF mandou mudar o nome, ficou só “Over”, onde assisti inclusive show do Lobão, e que depois virou o Studio 303.

  5. O Wagner Victer foi bem fundo no artigo. Que memória prodigiosa. Recordou de forma correta e brilhante quase toda a história da Ilha onde eu moro há mais de 60 anos. Esqueceu de citar o campo de futebol do bairro Bancários onde hoje situa-se um CIEP. Parabéns!

  6. Morei na rua Bocaiúva de 1970 até 1992, eu tinha nove anos quando fui morar na ilha, ao ler a narrativa, um filme passou pela minha cabeça, pensei que só eu amava a ilha, vi que muitos que fazem parte da minha geração, também amam!
    Claro que muito mais se poderia falar, o campeonato de vôlei oatrocinado pelo jornal o globo, lual na praia etc…
    Como diz a letra do 14 Bis “Nossa linda juventude página de um livro bom…..”
    Parabéns pelas belas palavras.
    Eu era conhecido na ilha como Gordo do Mendes.

  7. Lembro ainda do saudoso Maurício Gazelle, pois com um trabalho de adolescência na escola, vimos que foi um grande comerciante da Ilha, fundador da União da Ilha, junto com seus amigos Orphilio e Haroldo. Inclusive, o terreno onde ficava o barracão da escola era dele, onde treinavam futebol (Maurício era técnico do time dos amigos) e jogavam baralho. Maurício carregava o título de sócio número 01 da escola, e também foi o primeiro presidente. O conhecido relógio do cacuia, foi ideia do Sr. Maurício, que com apoio dos comerciantes locais, levantaram o relógio que hoje é um marco na Ilha.

  8. E o VLT na Ilha do Governador, com conexão do o BRT Av. Brasil – sai ou não sai do papel ?

    Indiscutivelmente, a expansão do VLT para a Ilha do Governador, proposta divulgada há tempos atrás pelo Governo passado, é uma decisão arrojada da prefeitura da cidade do Rio de Janeiro.

    O VLT da Ilha do Governador pode beneficiar mais de duzentas mil pessoas, e pode empregar, por ano, mais de duas mil e seiscentas pessoas, promovendo a integração com a Transcarioca, no Galeão, a Transbrasil, e a Estação das Barcas, no Cocotá.

    Com 21 km de extensão, o VLT é propagado pelo governo municipal como a garantia de mais mobilidade, mais conforto e mais empregos. Seriam estas, portanto, as motivações iniciais do projeto para a Ilha do Governador.

    Pode-se usar na Ilha do Governador o trem urbano de levitação magnética desenvolvido pelos engenheiros da Coppe, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e testado pelos maiores especialistas do mundo (o primeiro trem deste tipo do Hemisfério Sul). Claro que em tamanho maior, com capacidade para bem mais do que as atuais trinta pessoas. O protótipo tem motor movido a energia elétrica e pode atingir até 100 km por hora, o que não será realmente necessário para a Ilha.

    É preciso acabar com o monopólio da empresa de ônibus Paranapuan, que atua na Ilha do Governador há muitos anos e não tem sido tão eficaz quanto deveria ser.

    Na entrada da Ilha precisam construir uma conexão com ônibus que levem as pessoas até a estação do BRT Av. Brasil e que possam ir até o Centro da cidade. Esta estação do BRT na Av. Brasil, na entrada a Ilha, serviria aos moradores deste trecho do BRT até o Centro, pois eles não precisariam pegar os ônibus que já vão chegar lotados provenientes de Santa Cruz.

    Será também importante implementar um bilhete único para o VLT da Ilha juntamente com o BRT Transbrasil, prosseguindo com trecho do VLT do Gasômetro até o centro da cidade.

    Nossos administradores podem aproveitar estas rotas e construir ciclovias no seu entorno, perfazendo o mesmo trajeto do VLT.

    Dinheiro realmente não é um problema para nós aqui no Rio de Janeiro !

    Não é possível que este corno do Sérgio Cabral tenha roubado num nível tão absurdo que chegou a ser condenado a quase quatrocentos anos de prisão, e que o povo carioca não veja a cor deste dinheiro de volta.

    A Suíça e demais paraísos fiscais pelo mundo têm que devolver o dinheiro roubado do povo carioca, pois este dinheiro é nosso, devendo ser usado para tirar este projeto do papel e tantos outros projetos parados e inacabados pela cidade, por falta de verba (dinheiro esse todo enfurnado nos bolsos destes gatunos políticos cariocas oportunistas, quadrilheiros, corruptos e embusteiros).

  9. Me levaste às lágrimas, meu amigo. Lágrimas de saudades do que vivemos. Muito obrigado pela lembrança do meu pai como “técnico”, rs. Belo texto, muito belo!!

  10. Parabéns pela matéria onde pude reviver a minha adolescência justamente nessa época não faltando uma só experiência em que você sabiamente expôs. Gratidão ??????

  11. Parabéns pela matéria onde pude reviver a minha adolescência justamente nessa época não faltando uma só experiência em que você sabiamente expôs. Gratidão ??????

  12. Mandou muito bem Wagner. Morei 10 anos na Ilha, se não me engano de 1969 a 1979 na rua Ituá Jdm Guanabara, e Praça Amazônia, um recanto escondido no alto de um pequeno morro, no final da Praia da Bica. Realmente vc desceu com precisão tudo o que foi a Ilha no passado, i clusive as irmãs canadenses, lindas, e tantos momentos bacanas de recordar. Agora há muito não frequento a Ilha, mas, quando passo por lá não dispenso o delicioso galeto com fritas do Chuá. Pena tudo passado, mas vida que segue. Sem saudosimo apenas lembrar e curtir tudo de bom que muitos vivemos por lá.
    Parabéns

  13. Belas estórias, mas a história é de fato muito deletéria com o nosso Rio de Janeiro. Também tenho mais de 50 anos, na real, 63. Morei uma época, na minha infância, em Ramos, e a Ilha do Governador era de fato um paraíso no subúrbio da Leopoldina. Quantas vezes pulei da ponte velha, sobre o canal, e nadei para a praia de Ramos, aliás de Maria Angú, era uma aventura para a meninada corajosa. Quando não íamos à praia de Ramos era na praia do Galeão, na sombra da ponte, que fazíamos os piqueniques de Domingos. Quanta saudade! Depois mudamos para Jacarepaguá… Outras estórias, as dunas da Barra da Tijuca, Recreio era deserto, Grumari… O Rio de Janeiro, sei lá, começou a degringolar nos anos de 1990, mas pode ter sido bem antes… Meus pais, meu avô-padrinho, sempre diziam que o Rio de Janeiro não era brincadeira… Mas, naquela época, só era um menino… Hoje sei bem do que eles falavam.

  14. A favelização galopante e gigantesca da Ilha do Governador é que deu espaço para o crescimento da bandidagem no bairro. Tráfico e traficantes de drogas sempre vão existir, pois os adictos sempre vão existir: é um ciclo vicioso – um precisa do outro para sobreviver.

    Porém, deveria haver códigos de honra entre os bandidos e a sociedade, onde locais adequados e apropriados seriam usados para este comércio: quem precisar frequentar este local, que tenha o direito de ir e vir e de comprar o que quiser, de quem quiser, quando quiser… O que não dá para entender é esta guerra sem fim, sem vencedores e com muitos vencidos.

    Sei que é muito difícil para a prefeitura dar fim a esta violência interminável, onde alguns bandidos ameaçam moradores de nossa cidade. E as favelas da Ilha contribuem muito para a proliferação dos crimes, até porque todos nós sabemos que becos e vielas são locais ideias para o esconderijo de bandidos…
    Por isso mesmo, onde é que já se viu que tenham permitido a construção de favelas próximas ao Aeroporto Internacional do Rio ? Se algum tiro pegar em algum avião – pois as armas usadas pelos traficantes são de longo alcance, vai haver uma enorme catástrofe, pois morrerão muitas pessoas.

    De acordo com o Instituto Pereira Passos (IPP), com base em números do Censo de 2010, a Região Administrativa da Ilha do Governador tem trinta e duas favelas, com sessenta e sete mil moradores. A população total do bairro é de duzentos e treze mil pessoas, ou seja, 31,5% dela vive em favelas.

    Devido à permissividade por parte de nossos DesGovernos para a construção de barracos, a maioria das áreas outrora verdes de nossa cidade está sendo dizimada, o que está tornando o Rio de Janeiro cada vez mais quente.

    Estas favelas precisam ser reurbanizadas ou removidas, pois seus moradores precisam ter casas normais e decentes em ambientes saudáveis… O que não dá é para ficar do jeito que está – até porque aqui no Rio qualquer um constrói o que quer, onde quer e fica por isso mesmo…

    Só Deus para conter a favelização de nossa cidade, para conter esta fúria assassina contra as áreas verdes no Rio de Janeiro !!!!

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