“Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”. Atribuído a Einstein, o aforismo é bastante aplicável num dos assuntos mais candentes: a falta de avanços na política de coleta seletiva e reciclagem no Rio. Há alguns dias, o tema voltou a agitar redes sociais com uma reportagem de André Trigueiro para a TV Globo. O cenário pouco muda, ano após ano: a capital gera todos os dias mais de 7 mil toneladas de resíduos – das quais 3,5 mil toneladas são “secas”, ou embalagens e afins, em tese, passíveis de recuperação – mas não consegue reciclar mais do que 3% do quantitativo. Por que seguimos patinando com índices pífios?
Em primeiro lugar, há um alto grau de informalidade no mercado da reciclagem em todo o Rio metrópole que desafia as estatísticas. Um exército de pessoas sobrevive da coleta de papel, papelão, metal, vidro, plásticos de toda ordem. Só na cidade do Rio são 29 cooperativas recebendo esses materiais. Existe, pois, um sistema muitas vezes invisível aos olhos do cidadão. Lixo na porta? Se “sumiu” depois de algum tempo, está bom. Se o lixo vai para um aterro sanitário ou para uma indústria transformadora, isso não faz diferença na vida da maioria. Daí que não há mobilização real para a mudança.
Falta, é evidente, uma política macro e responsabilidades compartilhadas para que possamos superar os irrisórios índices de reciclagem no Rio. Faltam diretrizes nacionais – a lei 12.305, de 2010, é boa, mas insuficiente – e principalmente um novo arcabouço para custear sistemas eficientes e perenes de reciclagem. E cobrar apenas da Comlurb é injusto e pouco produtivo. Explico em seguida.
Olhemos para as grandes multinacionais que inundam as gôndolas de supermercados com embalagens. Nestlé, Coca-Cola, AmBev e quetais precisam entrar com firmeza na logística reversa de suas embalagens no pós- consumo. Isso ocorre há quatro décadas em países europeus graças a um princípio que todo mundo respeita por lá: a “responsabilidade estendida do produtor”.
Portugal estruturou um sistema eficiente de recuperação de embalagens com a assunção dessas indústrias – formando entidades gestoras – em sistemas de reciclagem. Muitos catadores de rua foram inseridos na cadeia, com carteira assinada e equipamentos de segurança. Como resultado desse novo paradigma, espera-se que o próprio fabricante influencie o processo de evolução de design de embalagens e produtos, de modo a reduzir o impacto ambiental causado por eles no final do seu ciclo de vida. Afinal, é imperativo que enfrentemos a cultura do descarte e das embalagens de uso único.
Hoje muitos países da União Europeia reciclam mais do que despejam resíduos em aterros sanitários. É preciso falar a verdade para a população: aumentar as taxas de reciclagem demanda pesados investimentos. É uma luta que envolve muitos atores, e vontade política.
Cobremos, sim, da prefeitura, mais ações de conscientização da população. Mais vontade de se avançar, com parcerias com setores da indústria e do varejo. Entretanto, só entraremos numa nova era com novas práticas. Fabricantes e vendedores de embalagens devem liderar esse processo.