Concerto de abertura da Igreja Nossa Senhora do Bonsucesso lota no Centro do Rio

Reinauguração contou com a presença de quase 350 pessoas. Público teve que sentar-se no chão das galerias para assistir ao belíssimo concerto sacro regido pela maestra Valéria Matos. Recital foi aplaudido de pé

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Igreja Nossa Senhora do Bonsucesso /Divulgação

A reinauguração da Igreja Nossa Senhora do Bonsucesso foi um grande sucesso de público. A cerimônia, que aconteceu nesta quarta-feira (16), contou com a presença dos irmãos da Irmandade da Misericórdia e Santa Isabel e com grande público, que lotou a Igreja. Muitos devotos assistiram à belíssima apresentação da centenária ORQUESTRA SINFÔNICA da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sob a regência da maestra Valéria Matos, sentados no chão das galerias.

O concerto de Páscoa, que integra a celebração Semana Santa no Brasil Colonial, marca a reabertura do templo mais antigo da cidade, que passará a funcionar todos os dias, a partir da próxima segunda-feira (21), das 9 da manhã às 14h. Na Igreja serão realizadas missas, casamentos e batizados.

Com entrada franca, o encontro religioso teve o patrocínio da Sérgio Castro Imóveis e da Irmandade da Misericórdia e Santa Isabel, dona da capela e controladora da Santa Casa da Misericórdia, localizada no Centro do Rio de Janeiro. A apresentação teve início às 18h e fim às 19h, tendo sido aplaudida de pé por todos os presentes.

Por meio de nota, a Sérgio Castro Imóveis avaliou o evento como muito positivo e frisou a importância da programação cultural, que conta com o seu apoio, como parte dos programas de responsabilidade social da imobiliária, com 75 anos de atuação na capital fluminense.

O momento é muito importante para a Santa Casa do Rio que, após enfrentar inúmeras adversidades envolvendo o seu patrimônio, teve importantes conquistas e grandes vitórias judiciais, com a recuperação de ativos e imóveis, após uma grande auditoria interna capitaneada pelo provedor Francisco Horta.

A Igreja Nossa Senhora do Bonsucesso completou 443 anos em 24 de março deste ano e é a única do Centro com estacionamento para 200 carros, gerenciado pela ESTAPAR, podendo receber grandes eventos, como cerimônias matrimoniais.

Liderados pela maestra Valéria Matos, o Coro Sacra Vox e a Orquestra Sinfônica da UFRJ executaram as obras dos maiores compositores do período colonial brasileiro, em sua centésima primeira temporada.

As obras sacras foram, em sua maioria, criadas sob encomenda da Igreja ou irmandades para as cerimônias litúrgicas católicas. O público, através dos Senados da Câmara, também fez as suas encomendas.

A Igreja Católica, por meio das suas demandas, foi um grande centro de formação de instrumentistas, cantores e compositores, sob a orientação do mestre de capela, que concentrava as obrigações de contratar e ensaiar os músicos, além de compor obras novas.

Entre os profissionais mais destacados no seu tempo estava José Maurício Nunes Garcia, artista carioca nascido em 1767. Nunes Garcia foi aluno de Salvador José de Almeida e Faria, músico mineiro residente na cidade, com quem teve aulas de gramática latina, filosofia e retórica, entre outras disciplinas.

José Maurício Nunes Garcia compôs a sua primeira obra, a antífona Tota pulchra es Maria, de 1783, com apenas 16 anos. A obra foi dedicada à Catedral e Sé do Rio de Janeiro. Em 1792, Nunes Garcia foi ordenado padre e seis anos depois nomeado Mestre de Capela da Sé da cidade, localizada na Igreja de Nossa Senhora do Rosário, na atual Rua Uruguaiana.

Em 1808, com a chegada da família real portuguesa, a Sé foi transferida para a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, na atual Praça XV, e transformada em Capela Real, da qual José Maurício foi nomeado mestre pelo Príncipe Regente D. João.

José Maurício foi o responsável por inúmeras composições para a Capela Real, diversas irmandades e igrejas da cidade. As obras abrangiam música instrumental para orquestra e teclados, música cênica e modinhas. Ao todo, ele compôs mais de 200 obras, que foram arquivadas em acervos em diferentes cidades brasileiras e portuguesas.

Entre as obras de José Maurício apresentadas durante a Semana Santa 2025 estão a antífona Domine, Tu mihi lavas pedes?, de 1799, para a cerimônia do Lava Pés; o Moteto para a Quinta-feira Santa, Judas, mercator pessimus, de 1809; o Gradual Christus Factus Est, texto baseado em Filipenses 2,8-9 (Cristo se fez por nós); e as Matinas da Ressurreição, como o próprio título indica, foi composta para o Domingo de Páscoa do ano de 1809.

José Maurício Nunes Garcia faleceu na capital fluminense em 1830. O sacerdote, desde então, tem sido reconhecido como o mais importante compositor não europeu de seu tempo.

Com base na data da sua morte, historiadores acreditam que ele deve ter conhecido o compositor mineiro José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita, organista da Igreja da Venerável Ordem Terceira do Carmo, que faleceu no Rio de Janeiro em 1805. O mineiro atuou no Arraial do Tejuco, atual Diamantina, e em Vila Rica, atual Ouro Preto, partindo para o Rio de Janeiro em 1800.

Sequentia Stabat Mater, texto do século XIII que retrata as dores de Nossa Senhora diante da crucificação de Cristo, foi composto por Lobo de Mesquita e musicado por vários compositores. O manuscrito pertence ao Museu da Música de Mariana (MG).

Compositor de origem desconhecida e com atuação em São João del-Rei (MG) entre 1786 e 1815, Antônio dos Santos Cunha tem como último registro musical conhecido a partitura da Missa e Credo a cinco vozes, dedicada a D. Pedro I, em 1822. O manuscrito Sepulto Domino corresponde ao Responsório IX do Ofício de Sexta-feira Santa e integra o acervo da Orquestra Ribeiro Bastos, de São João del-Rei.

CONJUNTO SACRA VOX

Coordenado pela professora Dra. Valéria Matos, o SACRA VOX tem 27 anos de existência e é um projeto de extensão e Grupo Artístico de Representação Institucional da Escola de Música da UFRJ. A assistência de direção do Vox é de Bruno dos Anjos; e preparação vocal é de Marcus Gerhard.

Em seu currículo, o Sacra Vox conta com centenas de concertos, apresentações didáticas, programas de rádio, TV e gravação de cinco CDs registrando a evolução estética da música coral brasileira, desde o século XVIII ao XXI.

VALÉRIA MATOS

Pesquisadora da música coral sacra brasileira, Valéria é professora de Regência Coral na Escola de Música da UFRJ e coordenadora do Conjunto Sacra Vox, projeto de extensão e Grupo Artístico de Representação Institucional da universidade, do qual é diretora musical e regente. As pesquisas de Valéria Matos no gênero resultaram nas gravações de cinco CDs: “Música Coral Sacra Brasileira nos Séculos XVIII e XIX”; “Música Coral Sacra Brasileira na Primeira Metade do Século XX”; “Música Coral Sacra Brasileira na Segunda Metade do Século XX”; “Música Coral Sacra Contemporânea Brasileira” e “Música Coral Sacra Brasileira do Século XX e XXI”.

De Nossa Senhora da Misericórdia à do Bonsucesso

A Igreja de Nossa Senhora da Misericórdia foi erguida no século XVII aos pés do Morro do Castelo e é um marco histórico do Rio e da cultura católica. No início do século XVIII, o templo foi rebatizado como Nossa Senhora do Bonsucesso.

Com fachada de 1780, Igreja preserva elementos originais que foram complementados por peças mais recentes, como a imponente portada esculpida em lioz português e a torre sineira. A Igreja conta ainda com volutas e pináculos, que coroam o frontão triangular típico do século XVIII.

Recentemente, a Irmandade da Misericórdia contratou Manoel dos Sinos para recolocar e fazer funcionar os gigantes sinos de bronze da antiga Igreja. Hoje, já tocam de forma automática.

Em seu interior, o templo reúne tesouros artísticos da primeira metade do século XIX, em estilo rococó. Os três retábulos maneiristas e um púlpito, originais da antiga igreja do Colégio dos Jesuítas foram cuidadosamente preservados. Em seu púlpito, pregaram José de Anchieta e Manoel da Nóbrega.

A sacristia conta com um belo lavabo de mármore, com suas arcas, enquanto os estandartes do século XVIII, atribuídos a Manoel da Cunha, evocam a Paixão de Cristo durante as procissões dos “fogaréus”.

O acervo conta ainda imensas telas sacras representando o batismo de Cristo. A obra é de autor desconhecido.

A iluminação da Igreja de Nossa Senhora do Bonsucesso tem uma atmosfera especial criada pelos onze grandes lustres de cristal da Boêmia, que geram um brilho celestial sobre os devotos e os artefatos religiosos; testemunhas seculares de devoção e fé.

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