Concordância verbal: parte 3

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Concordância verbal

 

Prezados Leitores do Diário do Rio de Janeiro:

Finalizamos, hoje, nossa incursão na concordância verbal.

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Como vimos, trata-se das flexões que a que o verbo se submete em número (singular ou plural) e pessoa) 1ª, 2ª ou 3ª), a fim de adaptar-se ou concordar com o sujeito, com o predicativo do sujeito, com a ausência de sujeito (nos casos de verbos impessoais, como vimos), com adjuntos adnominais (em concordâncias atrativas) ou até mesmo com a simples ideia embutida no sujeito (concordância ideológica).

Seguindo — e finalizando — nossa sequência de casos gerais e casos específicos, em que todas as flexões há pouco mencionadas poderão ocorrer, vamos agora às derradeiras possibilidades de concordância verbal.

Lembramos que o Leitor, em caso de dúvidas, poderá escrever ao CEFIL – Centro Filológico Clóvis Monteiro, da UERJ, onde dispomos de uma equipe pronta a sanar dúvidas relativas a este e a outros assuntos de língua portuguesa, filologia, interpretação de textos, redação, linguagem e linguística em geral.

Abraços,
Marcelo Moraes Caetano

9) UM DOS OUE:
O verbo poderá ser flexionado no singular ou no plural.

EXEMPLOS:
Ele é um dos que falou aquilo.
Ele é um dos que falaram aquilo.

10) PRONOME RELATIVO QUE:
No caso de este pronome funcionar como sujeito de uma dada oração, é com o nome (substantivo) antecedente que se dará a concordância:

EXEMPLOS:
Pedro é o rapaz que saiu ainda agora.
Eu sou o homem que falou com você.
Fomos nós que saímos da sala.

OBSERVAÇÃO:
No caso de haver interposição do pronome demonstrativo “o” (“a”, “os”, “as”), há possibilidade de dupla concordância:

EXEMPLOS:
Fui eu o que viu a cena.
Fui eu o que vi a cena.

11) PRONOME QUEM:
Prefere a Gramática tradicional que haja concordância com a terceira pessoa do singular (o pronome indefinido “quem”):

EXEMPLOS:
Foram eles quem saiu daqui ainda agora.
Fomos nós quem fez o trabalho.
Repare que o período, se colocado na ordem direta, não mais causaria estranheza:
Quem saiu daqui ainda agora foram eles.
Quem fez o trabalho fomos nós.

OBSERVAÇÃO:
Modernamente, já se tem aceito a concordância com o substantivo que antecede o pronome “quem”, tratando este último como se fosse um pronome relativo, semelhante ao “que”:

EXEMPLOS:
Foram eles quem saíram daqui ainda cedo.
Fomos nós quem fizemos o trabalho.

12) DAR, BATER e SOAR em expressões que indicam horas:
O verbo concorda com a expressão numérica.

EXEMPLOS:
Bateram três horas da manhã.
Deram duas da tarde.
Soou meio-dia.

OBSERVAÇÃO:
Se o sujeito for um substantivo do tipo “o relógio”, “o sino”, “os carrilhões” etc., é com eles que se dará a concordância:

EXEMPLOS:
O relógio da praça deu duas horas.
Bateu dez horas o sino da igreja.

13) NEM (ligando sujeito composto):
Dispõe a Norma Culta que vá o verbo para o plural:

EXEMPLO:
Nem Pedro, nem Maria falavam sobre o assunto.

OBSERVAÇÃO 1:
Se o sujeito vier depois do verbo, deve haver concordância atrativa:

EXEMPLOS:
Não foram vocês, nem eu os responsáveis.
(Mas: Nem vocês, nem eu fomos os responsáveis.)
Não poderás falar nada nem tu, nem eu, nem eles.
(Mas: Nem tu, nem eu, nem eles poderemos falar nada.)

OBSERVAÇÃO 2:
Se a sequência terminar com palavra resumitiva, é com ela que concordará o verbo, mesmo que este venha após o sujeito:

EXEMPLO:
Nem eu, nem ele, nem Maria, nem ninguém falou sobre o assunto.

14) NOMES PRÓPRIOS NO PLURAL:
Devemos concordar o verbo com o artigo que antecede o nome próprio.

EXEMPLOS:
As Minas Gerais continuam um estado de raras belezas.
Os Lusíadas sempre me encantaram.

OBSERVAÇÃO:
Se a concordância é feita com o verbo “ser”, e havendo predicativo no singular, o verbo poderá estar também no singular, ainda que haja artigo plural no sujeito:

EXEMPLO:
“As Cartas Persas é um livro genial.” (Mário Barreto)

15) SER em expressões indicativas de HORAS, DISTÂNCIAS ou DATAS:

EXEMPLOS:
São três quilômetros até minha casa.
Hoje são dezessete de agosto.
Agora são dezoito horas.

OBSERVAÇÃO:
Se houver a palavra “dia”, é com ela que concordará o verbo:

EXEMPLO:
Hoje é dia dezessete de agosto.

16) SER em orações em que o sujeito é demonstrativo invariável (“isto”, “aquilo”) e o predicativo se encontra no plural:
Neste caso, a concordância tanto pode se dar com o sujeito, como com o predicativo:

EXEMPLOS:
Aquilo são atitudes de um homem íntegro?
(Ou: Aquilo é atitudes de um homem íntegro?)

17) SER em orações em que sujeito e predicativo são representados por substantivos:
Se sujeito e predicativo forem substantivos comuns, a concordância se processará indiferentemente com um ou com outro, de acordo com a ênfase que o autor queira dar a este ou àquele:

EXEMPLOS:
Uma árvore é os prazeres de todo parque.
(Ou: Uma árvore são os prazeres de todo parque.

Mas poderá haver tipos diferentes de substantivos no sujeito e no predicativo. Pode haver, até mesmo, classes diferentes de palavras naquelas duas funções aludidas. Nesses casos, devemos obedecer a um princípio de PRECEDÊNCIA. Assim sendo, é preciso que se observem os seguintes casos:

Sempre existirá precedência:
17.1) de pronome pessoal sobre substantivo:

EXEMPLO:
Eu sempre serei os olhos de mim mesmo.

17.2) de substantivo sobre pronome que não seja pessoal:

EXEMPLO:
Quais são as regras?

17.3) de substantivo próprio sobre comum:

EXEMPLO:
Antônio é os braços fortes da família.

17.4) de pessoa sobre coisa:

EXEMPLO:
O ser humano era as intempéries do mundo.

17.5) de substantivo concreto sobre abstrato:

EXEMPLO:
Sua paixão são os livros.

17.6) de plural sobre singular:

EXEMPLO:
As grandes decisões são a rotina de um homem de sucesso.

OBSERVAÇÃO:
Haverá predominância de predicativo singular sobre substantivo sujeito de sentido vago:

EXEMPLOS:
Reclamações era coisa que não queria escutar.
Não seria lamentações sinal de que estava desesperado.

18) FAZER e HAVER em expressões que indicam tempo:
Trata-se de caso de oração sem sujeito, em que o verbos permanecem na 3ª pessoa do singular, já que são impessoais:

EXEMPLOS:
Faz horas que não nos vemos.
Fazia meses que não se viam.
Havia muitos anos que não se falavam.

19) HAVER significando EXISTIR, OCORRER ou ACONTECER:
Trata-se de oração sem sujeito, em que o verbo permanece na 3ª pessoa do singular.

EXEMPLOS:
Havia dez pessoas à sua procura.
Houve dois acontecimentos marcantes.

OBSERVAÇÃO:
O verbo “existir” não é impessoal, devendo concordar normalmente com o sujeito a que se liga.

EXEMPLO:
Existiam muitas razões para ela ficar.

OBSERVAÇÃO:
No caso de haver locução verbal, o verbo auxiliar deve flexionar-se ou não de acordo com o principal da locução a que pertence.

EXEMPLOS:
Deve haver razões para isso.
Devem existir razões para isso.

20) SUJEITO ORACIONAL:
Se o sujeito for desempenhado por uma oração, o verbo da oração principal deverá estar no singular:

EXEMPLOS:
É importante que você fale sobre aquilo.
Beber e dirigir significa grande risco.

OBSERVAÇÃO:
Se os verbos indicam idéias opositivas, é comum que se use o plural:

EXEMPLO:
Chegar e partir significam coisas distintas.

21) VOZ PASSIVA PRONOMINAL (SINTÉTICA):
Este tipo de voz passiva só ocorre com verbos transitivos diretos ou transitivos diretos e indiretos. Para que possamos detecta-la, é importante fazermos a conversão para a voz passiva analítica (ser + particípio). Se isso puder acontecer, comprova-se que estamos diante de voz passiva sintética, sendo o SE um pronome apassivador.

Quando isso ocorrer, o verbo deverá flexionar-se com o sujeito da oração:

EXEMPLOS:
Compram-se carros.
Vendem-se motos.
Alugam-se casas.
(Repare: Carros são comprados; motos são vendidas; casas são alugadas.)

22) SUJEITO INDETERMINADO (COM PARTÍCULA “SE”):
Podemos ter uma oração com sujeito indeterminado que venha indicado pela presença da partícula SE, índice de indeterminação do sujeito. Isso acontece diante de verbos transitivos indiretos, intransitivos ou de ligação. Quando ocorre, o verbo deve permanecer no singular:

EXEMPLOS:
Precisa-se de funcionários.
Vive-se muito bem aqui.
Era-se menos feliz naquele tempo.

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PhD em Língua Portuguesa pela UERJ. É professor adjunto de língua portuguesa e filologia românica da UERJ e author and content developer da California State University. Tradutor de inglês, francês, alemão, espanhol, italiano, latim e grego, pesquisador das filologias russa e mandarim. Escritor com mais de 40 livros publicados e premiados no Brasil e no mundo. Membro efetivo da Academia Brasileira de Filologia, do PEN Club Rio-Londres, da Académie des Arts, Sciences et Lettres de Paris e da Academía de Letras y Artes de Chile. Em 2011, recebeu a Comenda e a Médaille de Vermeil do Governo francês.
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