Quatro escolas de samba abrem os desfiles do Grupo Especial no Carnaval Carioca, na Marquês de Sapucaí, neste domingo (02/3). Pela primeira vez na história do Sambódromo, as apresentações das 12 agremiações da elite serão divididas em três dias (domingo, segunda e terça-feira). Desde a inauguração do espaço, em 1984, os desfiles ocorriam em duas noites, entre domingo e segunda-feira.
Quem abre o Grupo Especial neste novo formato é a Unidos de Padre Miguel, escola do bairro da zona oeste do Rio que retorna à elite do samba depois de 53 anos. Confira os enredos das escolas que desfilam neste domingo:
Unidos de Padre Miguel
A Unidos de Padre Miguel, que retorna à elite do samba após 53 anos, apresenta o enredo “Egbé Iyá Nassô”, que homenageia o Terreiro Casa Branca do Engenho Velho, em Salvador, Bahia. Fundado pela ialorixá Francisca da Silva, o espaço é considerado o primeiro terreiro de candomblé do Brasil e o primeiro a ser tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1984.
A escolha do tema pela agremiação, que tem suas raízes na Vila Vintém, no bairro de Padre Miguel, na zona oeste do Rio, é uma forma de aproximar a história do surgimento do candomblé no Brasil à realidade da escola. Assim como o Terreiro Casa Branca do Engenho Velho, a escola é vista como um grande “egbé”, termo em iorubá que significa “comunidade”.
Imperatriz Leopoldinense
A escola de Ramos, que conquistou seu último título em 2023, traz o enredo “Ómi Tútu ao Olúfon – Água Fresca para o Senhor de Ifón“, que narra a mitológica viagem de Oxalá ao reino de Xangô, na qual enfrenta vinganças de Exu.
A escolha do tema atende ao desejo da comunidade, que esperava por uma abordagem mais ligada à religiosidade afro-brasileira há quase 50 anos. O desfile começará com a partida de Oxalá em direção ao Reino de Xangô, trazendo à Sapucaí a cerimônia das águas de Oxalá.
Viradouro
Em busca do bicampeonato, a Viradouro aposta em temas históricos e religiosos que exploram aspectos pouco conhecidos da cultura brasileira. A escola leva à Sapucaí o enredo “Malunguinho: O Mensageiro de Três Mundos“, que presta homenagem a uma entidade que representa o caboclo indígena, o mestre e Exu, além de prestar tributo ao líder quilombola João Batista, conhecido como Malunguinho, morto em 1835 pelas autoridades imperiais no Catucá, Pernambuco.
Na religião Jurema, Malunguinho é a única entidade que pode ser invocada como Mestre, Caboclo e Exu. O enredo também tem um toque místico, fruto da pesquisa do carnavalesco Paulo Zanon durante a pandemia, sobre o Catimbó, a Jurema e a planta Acácia, utilizada em rituais indígenas no Norte e Nordeste. Curiosamente, durante a comemoração pelo título de campeã de 2024, em um sítio em Jacarepaguá, cercado pela mata, uma densa fumaça começou a surgir inesperadamente, reforçando o vínculo simbólico com o enredo.
Mangueira
Encerrando a primeira noite de desfiles, a Estação Primeira de Mangueira, a verde e rosa do morro da Mangueira, busca novamente o título após seis anos. Com 20 vitórias no currículo, a escola apresenta o enredo “À Flor da Terra – No Rio da Negritude Entre Dores e Paixões“, que celebra a persistência da cultura bantu no Rio, presente entre diversos povos da África Subsaariana, como os do Congo, Angola e Moçambique.
A proposta do enredo é exaltar uma cultura muitas vezes negligenciada, apesar de representar a origem de grande parte dos escravizados que chegaram ao Brasil. Estima-se que 80% dos negros desembarcados no Rio eram bantus, o que fundamenta a escolha do tema.
A inspiração para o enredo surgiu da dissertação de mestrado do professor Júlio César Medeiros, da UFRJ, sobre A Flor da Terra no Cemitério dos Pretos Novos no Rio de Janeiro, que aborda a chegada dos escravizados e a falta de empatia do colonizador. O desfile é dividido em setores, começando com a travessia dos escravizados da África para o Rio, e segue com a representação do sincretismo religioso, onde santos católicos, como São Jorge, são associados aos orixás do candomblé e da umbanda, como Ogum.

