Após 52 anos de jejum, a Unidos de Padre Miguel, carinhosamente conhecida como o “Boi Vermelho da Vila Vintém”, retorna à elite do Carnaval carioca. Em um momento de grande emoção para a agremiação, a escola que desfilou pela Série Ouro agora abre os caminhos da Avenida com o prestigiado cargo de Rainha de Bateria nas mãos de Andressa Marinho, ou Dedê Marinho, como é carinhosamente chamada pela comunidade da Zona Oeste.
Criada da Vila Vintém, Dedê tem uma história de dedicação e paixão pelo Carnaval. Com apenas 22 anos, ela faz parte da UPM desde os sete anos de idade. Sua jornada começou nas escolas de samba mirins, e desde cedo conquistou a confiança e o amor de sua comunidade. Foi abraçada pela comunidade antes mesmo de ter a a própria coroa. Ela herdou o posto deixado por Thalita Zampirolli, assumindo com orgulho a responsabilidade de representar a Unidos de Padre Miguel no desfile mais importante do país.

A emoção da estreia no Grupo Especial é indescritível para Dedê. “Tem um gostinho ainda mais especial ser a rainha de bateria no ano de ascensão da minha escola”, confessa ela , que revelou à revista Marie Clarie a sensação única de desfilar pela primeira vez à frente da bateria. “A experiência de reinar à frente da bateria é diferente de toda minha jornada até aqui, e apesar disso, a sensação é como se estivesse desfilando pela primeira vez”, completa, emocionada.
O caminho até esse momento de sucesso não foi fácil, mas Dedê sempre se destacou pela sua determinação. Sua trajetória no Carnaval começou cedo, aos 5 anos de idade, quando ingressou na Estrelinha da Mocidade. Aos 8 anos, foi princesa e rainha do Carnaval da Associação das Escolas de Samba Mirins do Rio de Janeiro (AESM-RJ). Em 2009, ela entrou para a ala de passistas mirim da Unidos de Padre Miguel e, em 2023, representou a escola no concurso para eleger a corte do Carnaval, ficando entre as dez finalistas.
O ano de 2024 foi marcante para Dedê. Ela se tornou musa da comunidade e acompanhou a Unidos de Padre Miguel rumo à grande vitória da Série Ouro. Em junho do mesmo ano, foi anunciada como Rainha da bateria, e dois meses depois, foi coroada com toda a pompa e a emoção que sua comunidade reservou para ela.
Referências
Com a preparação para o desfile no Grupo Especial, Dedê tem se dedicado a estudar e se aprofundar no mundo do samba e das religiões de matriz africana. “Achei de grande importância encantar a cultura negra e a religiosidade afro. O enredo deste ano é forte e conta a história da chegada do Candomblé no Brasil. Sempre fui de muita fé, e este ano comecei a me aprofundar em Ifá para cuidar do meu espiritual”, revela Dedê. Ela também se prepara para a responsabilidade de ser a líder da bateria, estudando vídeos e entrevistas de outras rainhas de bateria para aprimorar sua postura e sua presença na Avenida. “Eu estou trocando experiências com outras rainhas como Maria Mariá, da Imperatriz, Lorena Rayssa, da Beija-Flor, e Mayara Lima, da Paraiso do Tuiuti. A gente vai acertando aos poucos, mas a ansiedade e a expectativa estão no auge”, confessou em entrevista.
Enredo em homenagem ao 1º terreiro de Candomblé do Brasil

A Unidos de Padre Miguel, com o enredo “Egbé Iyá Nassô”, presta uma homenagem ao primeiro terreiro de Candomblé do Brasil, Casa Branca do Engenho Velho, e celebra a resistência do povo negro e a força das mulheres africanas na luta pela fé e identidade. O enredo conta a história de Iyá Nassô, uma princesa negra escravizada que, junto com suas irmãs, decide enfrentar a guarda imperial para libertar seus filhos da revolta. O enredo também reforça a conexão com a comunidade da Vila Vintém, uma “pequena África”, conforme dito pelos carnavalescos.