Conheça o circuito gastronômico do Largo do Guimarães, em Santa Teresa

Bares, restaurantes, cafés e uma padaria orgânica podem ser encontrados no largo, marco histórico do bairro que tornou-se ponto de encontro de frequentadores e visitantes

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Bar do Mineiro. Foto: Marcelo Fonseca

Por Flavia Perez. Fotos: Marcelo Fonseca.

Situado na chegada de uma das ladeiras que levam até Santa Teresa, o Largo do Guimarães é um dos marcos do bairro e a história desse lugar se mistura com a ocupação da região central da cidade do Rio de Janeiro. Ponto de encontro de quem frequenta ou visita o bairro, o Guimarães está no centro de um circuito gastronômico formado por restaurantes, bares, cafés, incluindo uma padaria orgânica, lugares que combinam sabores da culinária de diferentes regiões à essência da boêmia carioca.

E não é por acaso que esse entroncamento, construído em 1857 entre as ruas Pascoal Carlos Magno e Almirante Alexandrino e a Ladeira do Castro, é um dos locais mais frequentados do bairro. Segundo o historiador Milton Teixeira, o primeiro acesso a Santa Teresa surgiu por um elevador movido a vapor, que ligava a Ladeira do Castro ao Largo do Guimarães, de onde os trabalhadores partiam em bondes puxados por burros, por volta de 1877, para chácaras e casas localizadas nas partes altas do bairro.

“No lugar onde está situado o largo havia uma propriedade que pertencia ao fazendeiro Joaquim Fonseca Guimarães, que decidiu lotear terrenos na região. Seu sobrenome então deu nome ao lugar que tornou-se o coração do bairro”, explica o historiador, que promove passeios históricos e ecológicos na região e em diferentes pontos do Rio.

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A conexão com diferentes culturas está na raiz da formação do bairro e na culinária local. É o que podemos perceber ao conhecer o Portella Bar, que fica no centro do Largo do Guimarães em um casarão construído em 1887. A feijoada é um dos pratos mais pedidos e as apresentações de música ao vivo, que misturam samba e clássicos da MPB, atraem visitantes e turistas para o restaurante.

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Portela Bar. Foto: Marcelo Fonseca

Além de ter sido intensamente ocupado por imigrantes europeus, o bairro recebeu pessoas de diferentes regiões do Brasil e do mundo. O Café do Alto, também no largo, reflete essa integração cultural combinando, em cada prato, traços da culinária dos estados de Pernambuco, Bahia e Paraíba, região Nordeste do Brasil.

O carro-chefe da casa é o farto café da manhã, além dos dadinhos de queijo coalho com tapioca, servidos com geleia de tamarindo, aperitivo mais conhecido como “grudinho”. O visitante que quiser saborear o melhor da comida nordestina pode experimentar o “Rubacão”, baião de dois à Paraíba servido com cubos de carne de sol e queijo coalho grelhado; e a moqueca de banana da terra, prato vegano que acompanha farofinha de dendê e arroz branco. Para a sobremesa, o pudim de tapioca com paçoca da casa tem sabor inigualável.

Ambientado com som regional e temático, o espaço oferece uma experiência brasileira, da gastronomia à decoração, que inclui xilogravuras e máscaras feitas por artistas pernambucanos. Para Francisco Dantas, proprietário do Café do Alto, “a proposta é oferecer ao cliente uma experiência além da comida”, revela.

Na outra ponta do Guimarães, o Armazém São Joaquim ocupa um dos casarões históricos de Santa Teresa. No lugar, onde anteriormente vendia-se cereais e mantimentos, hoje é possível saborear pratos, petiscos e caipirinhas em um espaço revitalizado, mas que preserva traços históricos como o piso original da casa e os pilares do antigo sobrado, construído em 1854.

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Armazém São Joaquim. Foto: Marcelo Fonseca

A reforma recente foi feita pelo empresário argentino Patricio Avalos Goycoolea, atual proprietário, que buscou preservar a memória cultural do espaço. O cardápio inclui pratos preparados na brasa, que chegam à mesa diretamente da churrasqueira, e entradas como a La Picada, mix de petiscos e queijos artesanais, e o delicioso Ceviche de Banana da Terra.

Nas proximidades, há também o Mô Café, bistrô que mescla comidinhas feitas na casa com produtos de outros fornecedores, além de peças de decoração e de uma loja, anexa ao café, de roupas novas e usadas. Um dos mais pedidos pelos clientes é o “Capuccino Italiano”, que mistura café, leite, espuma e uma pitada de canela e chocolate, seguido pelo “Ice Coffee”. Já o bolo de chocolate, servido com cobertura e recheio de brigadeiro, pode contar com acréscimo de sorvete e calda.

A rua Pascoal Carlos Magno, uma das cruzam o Largo do Guimarães, reúne a maior parte dos bares e restaurantes. A poucos metros do largo, o Sobrenatural conserva momentos importantes da história do samba. Aberto há 30 anos, o restaurante recebeu ícones da música brasileira como Zeca Pagodinho, Almir Guineto, o grupo Fundo de Quintal, entre outros artistas. Dos petiscos, uma das opções de dar água na boca é a porção de pastel de camarão, siri e queijo (10 unidades), e para beber a boa pedida é a caipirinha, feita com limão ou frutas da época e uma cachaça mineira, produzida em Tiradentes.

Proprietária do espaço, Sérvula Amado nasceu em uma família de músicos, na zona norte do Rio, e foi casada com o cantor e compositor brasileiro Wilson Moreira. Na decoração, fotos e pinturas de sambistas e pescadores remontam traços da cultura carioca. A programação do espaço traz música ao vivo, com voz e violão aos sábados e domingos e a volta da seresta, nas sextas-feiras à noite, já está prevista.

Já a Adega do Pimenta oferece uma viagem pela culinária alemã que pode ser degustada com o “Mix de Linguiças”, porção com cinco tipos de linguiça, servida com molho típico das ruas de Berlim, uma mistura de tomate, páprica picante e curry. O local reúne ainda uma variedade de cervejas especiais.

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Adega do Pimenta. Foto: Marcelo Fonseca.

Proprietário atual da Adega, William Guedes vinha muito para Santa Teresa e acabou tornando-se amigo de Holf Pfeffer, alemão que fundou o restaurante há mais de 30 anos. Após seu falecimento, William se aposentou e acabou comprando o bar, transformando assim o “bar” preferido em sua “segunda casa”.

Inaugurado há um ano, o Casa Nossa Lounge mescla pratos da cozinha mediterrânea com a culinária local. No espaço, situado em um casarão fundado em 1885, cada prato é testado em conjunto com a equipe da cozinha. Além de assinar o projeto de reformulação, Eric Chabanel, proprietário do espaço, é o criador do cardápio no qual não pode faltar o azeite de dendê e produtos artesanais vindos de Minas e da Bahia, além de itens produzidos na própria casa, como a brusquetta e o cream cheese.

Entre os aperitivos, a dica é experimentar os quadradinhos de lasanha de pupunha, com mussarela e creme de tomate seco, e o ceviche de peixe branco com molho leite de tigre, manga, pimenta rosa, cebola roxa e chips de aipim. Dos pratos principais, o risoto de camarão cristalizado com limão siciliano é o carro-chefe da casa, seguido pela barriga de porco, marinada durante dois dias e preparada com molho de melaço de cana, sendo depois selada e servida com purê de banana e legumes salteados.

“A ideia do espaço é oferecer a vivência de uma casa, o que nos levou a preservar os aspectos típicos de cada ambiente, tanto na decoração quanto no piso”, destaca Eric. Natural do sul da França, ele chegou no Brasil há oito anos e, após morar por algum tempo no Cosme Velho, conheceu o bairro de Santa Teresa, de onde não saiu mais. O novo projeto do restaurante inclui um salão onde serão realizadas exposições de artes.

Com mais de vinte anos de história, o Simplesmente é um bar informal ideal para quem quer conhecer o lado mais raiz do bairro. O lugar abrigou anteriormente uma antiga mercearia, fundada em 1996 por Maria Dulce, tia de João Pedro, atual proprietário. Do bar, nasceu com ela um legado: resgatar e conservar a cultura do Rio, motivando o sobrinho a trabalhar para manter as características que deram origem ao lugar, conhecido pela tradição no mundo do samba e pela culinária tradicionalmente brasileira.

Os petiscos do cardápio foram mantidos, desde a época da tia, combinando a tradição de porções fartas com preços acessíveis, como a carne seca com aipim frito, que chega à mesa com molho à campanha e manteiga de garrafa, ou a mais recente novidade do cardápio: um caldinho de abóbora, acompanhado de mussarela ralada.

Já o Favela Hype é um espaço multicultural que agrega gastronomia moda, arte e decoração. Criadora do espaço, a designer de moda e interiores Kananda Soares começou a trabalhar com produção de peças de vestuário aos 17 anos, sempre com sua marca própria, e assina a criação das coleções e a decoração do espaço.

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Favela Hype. Foto: Marcelo Fonseca.

Umas das sugestões é a Costela no Bafo, que vem acompanhada de aipim, manteiga de garrafa, farofa de quiabo e molho cremoso a base de milho; e a Bombinha (8 unidades),
fatias de mortadelacom pistache e castanhas, recheadas com queijo curado cremoso, molho de mostarda em grão e especiarias.

Moradora do bairro de Santa Teresa há 23 anos, Kananda criou o espaço em 2001, primeiramente em outro endereço, na rua Almirante Alexandre, e há quatro anos instalado na rua Pascoal Carlos Magno. “A marca representa o seu lifestyle, o que você gosta de fazer, de vestir”, aponta a designer.

O espaço, frequentado por músicos como João Donato e Marcelo D2, também é usado para locação por diversos artistas e para eventos e jantares temáticos, alguns realizados na Lage Hype, que fica no andar de cima, onde também acontecem ensaios de moda, filmagens, sessões fotográficas, lives e eventos.

Reconhecido pelas obras de arte expostas em todo o espaço e pela tradicional feijoada, o Bar do Mineiro combina arte e gastronomia. Um dos diferenciais é a criatividade dos aperitivos, entre eles, os bolinhos de linguiça com queijo, jiló com linguiça e a porção de pastéis mistos. “Busco tratar todos os clientes como se fosse únicos. Cada um é especial”, revela Diógenes Paixão, proprietário do bar.

Mineiro de Carangola, Diógenes atuou durante duas décadas como marchand e, ao longo dos anos, reuniu obras de arte de artistas como Alfredo Volpi, Farnese de Andrade, Miriam e Roberto Burle Max, e expõe parte desse acervo particular nas paredes da casa.

Na mesma rua há ainda a padaria orgânica Cultivar, que conquistou moradores e visitantes pelo sabor dos produtos artesanais e de fabricação própria vendidos na loja: pães feitos com ingredientes orgânicos, biscoitos, brownie, gordura de palma, açúcar orgânico e demerara, fécula de tapioca orgânica, pimentas, cafés, geleias, sucos engarrafados, entre outros produtos.

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Cultivar. Foto: Marcelo Fonseca

Basta ficar cinco minutos na frente da fachada para ver as pessoas chegando em busca do pão de queijo do Guimarães, apelido carinhoso dado pelos clientes. Grande parte das matérias-primas, usadas na fabricação dos pães e de outros itens produzidos na cozinha, vêm de produtores orgânicos e também de fornecedores locais.

Em uma das curvas da Pascoal Carlos Magno, após entrar na rua Felício dos Santos, o Térèze, restaurante do Hotel Santa Teresa, é uma referência do bairro e oferece diariamente café da manhã, almoço e jantar. O cardápio reúne influências da culinária brasileira, italiana, francesa e latino-americana, combinando ingredientes brasileiros com conhecimentos da cozinha internacional.

Para dar um toque inusitado, o chef Pedro Franco gosta de usar duas proteínas nos pratos que cria, como no peixe do dia que acompanha purê de cenoura, acelga tostada e picles de minicenoura, finalizado com molho demi-glace de porco e azeite de funcho. À frente da cozinha do Térèze há dois anos, Franco trouxe para o restaurante os conhecimentos acumulados em mais de vinte anos de trajetória profissional. Recentemente, ele pôde compartilhar um pouco dessa vivência ao participar da última edição do Mestre do Sabor, reality gastronômico transmitido pela TV Globo.

“Buscamos não fugir da essência, mas viramos a chave para oferecer traços particulares da gastronomia brasileira para os brasileiros, o que nos levou a incluir em nosso menu degustação algumas comidas afetivas como canja, vaca atolada, costelinha de porco e abóbora”, detalha o chef.

Ao virar a próxima ladeira, na rua Constante Jardim, chega-se então à rua Monte Alegre e, logo a frente, está a Esquina de Santa. No espaço, que contempla adega de vinhos, cafeteria e delicatessen, a sugestão é saborear a “Florença”, pizza de mussarela com presunto de parma, rúcula e lascas de parmesão (tamanho único – 30 cm).

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Esquina de Santa. Foto: Marcelo Fonseca

A próxima parada do circuito gastronômico, que começa no Largo do Guimarães, chega então ao Armazém São Thiago, conhecido popularmente como Bar do Gomes, situado no encontro da Monte Alegre com a rua Áurea. Entre os petiscos servidos na casa, a dica é o imperdível bolinho de abóbora com três queijos (unidade), o bolinho de feijão preto com carne seca (unidade) e, ainda, uma porção de cenourinhas de porco, acompanhada de geleia de pimenta.

Neto do fundador do espaço, que existe desde 1919, Ricardo Garcia assina a decoração, que conserva móveis do quarto de seu avô, como a balança usada no tempo de antigo armazém e os compartimentos onde ficam armazenados os cereais, proporcionando uma viagem pela história e pela cultura carioca a todos que conhecem e frequentam o lugar.

Em todos os espaços visitados, as medidas de distanciamento, implantadas após a pandemia da Covid-19, estão sendo respeitadas e o uso de álcool gel está disponível para higienização das mãos.

Bondinho de Santa Teresa: preservação da história e da cultura carioca

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O Sistema de Bondes de Santa Teresa, símbolo do bairro e cartão-postal do Rio de Janeiro, foi tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônjo Cultural (Inepac) em 1988, de acordo com o processo nº E-03/31.269/83 e, posteriormente, pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan), em 2012, por sua importância histórica e paisagística.

Segundo o historiador Milton Teixeira, 40 bondinhos chegaram a circular no bairro até o final da década. Hoje, sete bondes fazem o transporte de moradores e turistas somente em alguns trechos; um deles passa pelo Largo do Guimarães. O bairro surgiu em torno do Convento de Santa Teresa, erguido na colina, durante o século XVIII. A ocupação começou a se intensificar por volta de 1850 devido à epidemia de febre amarela. Por estar localizada em uma área mais elevada, a região era menos atingida pela doença em comparação com outros bairros da cidade.

Os bondes eletrificados começaram a circular no bairro em 1896, quando foi realizado pela primeira vez o trajeto que liga o centro da cidade ao bairro, passando pelo Arqueduto da Carioca, conhecido popularmente como Arcos da Lapa. O trajeto tornou-se marca registrada da cultura e da história do Rio de Janeiro e a única linha de bondes que permanece circulando na cidade.

Na década de 1980, Santa Teresa foi declarada como Área de Proteção Ambiental pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH). O objetivo da LEI Nº 495 de 09/01/1984 é preservar tanto a paisagem natural do bairro, que inclui trechos remanescentes de Mata Atlântica, quanto seus traços culturais, marcados na arquitetura rica e pitoresca da região. 

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