O Acadêmicos do Salgueiro, em busca do 10º título no carnaval, levará para a Sapucaí o enredo “Salgueiro de Corpo Fechado”, sob a assinatura do carnavalesco Jorge Silveira e do enredista Igor Ricardo. A proposta é explorar a relação humana com a busca por proteção espiritual.
“‘De corpo fechado’: preparo o tacho de óleo de oliva, arruda, guiné, alecrim, carqueja, alho e cravo. Com o sinal da cruz na fronte, no peito, nas mãos e nos pés, levo para a Avenida a história e a cultura do fechamento do corpo. Na maior encruzilhada do mundo, a Marquês de Sapucaí, vamos exaltar simbologias sagradas e únicas”, diz a escola nas redes sociais.
O enredo resgata a memória afetiva e os símbolos mais fortes do Salgueiro, que tem uma trajetória marcada por enredos afro desde a década de 1960, quando Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues revolucionaram o carnaval carioca ao trazer narrativas da cultura africana e da história negra.
A história começa com a chegada à Bahia de africanos muçulmanos escravizados, especialmente do povo mandinga, originário do Império Mali, no Norte da África. O desfile abordará a influência desses povos e sua relação com a proteção espiritual, passando por diferentes contextos históricos.
“Temos na abertura um olhar para o próprio Salgueiro, o Morro do Salgueiro descendo para a avenida e fechando o seu próprio corpo. Da Bahia a gente continua no Nordeste para falar do cangaço que se protegia e trouxe amuletos e patuás. O quarto setor é indígena, então, a gente passa pelo Norte e Nordeste com grande influência indígena, e nos dois últimos setores a gente volta para o Rio para falar da umbanda e do candomblé cariocas, da Lapa, desse universo da malandragem carioca”, descreveu o pesquisador do escola, Leo Antan em entrevista à Agência Brasil.
Confira o Samba enredo
Macumbeiro, mandingueiro, batizado no gongá
Quem tem medo de quiumba não nasceu pra demandar
Meu terreiro é a casa da mandinga
Quem se mete com o Salgueiro, acerta as contas na curimba
Prepara o alguidar, acende a vela
Firma ponto ao sentinela
Pede a bênção pra vovô
Faz a cruz e risca a pemba
Que chegou Exu Pimenta e a falange de Xangô
Tem erva pra defumar, carrego o meu patuá
Adorei as almas que conduzem meu caminho
É mojubá, marabô, invoque a Lua
Que o povo da encruza não vai me deixar sozinho
Sou herança dos malês, bom mandingo e arisco
Uso a pedra de corisco pra blindar meu dia a dia
No tacho, arruda e alecrim, ô
Bala de chumbo contra toda covardia
Tenho a fé que habita o sertão
De Lampião, o cangaceiro
Feito Moreno, eu vou viver
Mais de cem anos no meu Salgueiro
Sou espinho qual fulô de macambira
Olho gordo não me alcança
Ante o mal, a pajelança pra curar
Sempre há uma reza pra salvar
O nó desata, liberdade pela mata
E os mistérios do axé, meu candomblé
Derruba o inimigo um por um
Eu levo fé no poder do meu contra-egum
Salve, seu Zé, que alumia nosso morro
Estende o chapéu a quem pede socorro
Vermelho e branco no linho trajado
Sou eu malandragem de corpo fechado