Encerrando a primeira noite de desfiles, a Estação Primeira de Mangueira, a verde e rosa do morro da Mangueira, busca novamente o título após seis anos. Com 20 vitórias no currículo, a escola apresenta o enredo “À Flor da Terra – No Rio da Negritude Entre Dores e Paixões“, que celebra a persistência da cultura bantu no Rio, presente entre diversos povos da África Subsaariana, como os do Congo, Angola e Moçambique.
A proposta do enredo é exaltar uma cultura muitas vezes negligenciada, apesar de representar a origem de grande parte dos escravizados que chegaram ao Brasil. Estima-se que 80% dos negros desembarcados no Rio eram bantus, o que fundamenta a escolha do tema.
A inspiração para o enredo surgiu da dissertação de mestrado do professor Júlio César Medeiros, da UFRJ, sobre A Flor da Terra no Cemitério dos Pretos Novos no Rio de Janeiro, que aborda a chegada dos escravizados e a falta de empatia do colonizador. O desfile é dividido em setores, começando com a travessia dos escravizados da África para o Rio, e segue com a representação do sincretismo religioso, onde santos católicos, como São Jorge, são associados aos orixás do candomblé e da umbanda, como Ogum.
Confira o samba-enredo
Oya, Oya, Oya ê
Oya Matamba de kakoroká zingue
Oya, Oya, Oya ê ô
Oya Matamba de Kakoroká zingue ô
É de arerê, força de Matamba
É dela o trono onde reina o samba
É de arerê, força de Matamba
É dela o trono onde reina o samba
Sou a voz do gueto, dona das multidões
Matriarca das paixões, Mangueira
O povo banto que floresce nas vielas
Orgulho de ser favela
Sou a voz do gueto, dona das multidões
Matriarca das paixões, Mangueira
O povo banto que floresce nas vielas
Orgulho de ser favela
Sou Luanda e Benguela
A dor que se rebela, morte e vida no oceano
Resistência quilombola
Dos pretos novos de Angola
De Cabinda, suburbano
Tronco forte em ribanceira
Flor da terra de Mangueira
Revel do Santo Cristo que condena
Mistério das calungas ancestrais
Que o tempo revelou no cais
E fez do Rio minha África pequena
Ê malungo, que bate tambor de Congo
Faz macumba, dança jongo, ginga na capoeira
Ê malungo, o samba estancou teu sangue
De verde e rosa, renasce a nação de Zambi
Bate folha pra benzer, Pembelê, Kaiango
Guia meu camutuê, Mãe Preta ensinou
Bate folha pra benzer, Pembelê, Kaiango
Sob a cruz do seu altar, inquice incorporou
Forjado no arrepio
Da lei que me fez vadio
Liberto na senzala social
Malandro, arengueiro, marginal
Na gira, jogo de ronda e lundu
Onde a escola de vida é zungu
Fui risco iminente
O alvo que a bala insiste em achar
Lamento informar
Um sobrevivente