A Viradouro volta à Sapucaí em 2025 em busca do bicampeonato, apostando em um tema histórico e religioso que explora aspectos pouco conhecidos da cultura brasileira. A escola levará à avenida o enredo “Malunguinho: O Mensageiro de Três Mundos”. A apresentação começou às 1h, sendo a terceira escola a se apresentar hoje.
O enredo presta uma homenagem a uma importante entidade da cultura brasileira: Malunguinho, um grande líder do Norte de Pernambuco, que foi um guerreiro forte que lutava para libertar seu povo da escravidão. Junto com seus companheiros, ele fugiu para a floresta e criou um lugar seguro para aqueles que desejavam viver livres — o Quilombo do Catucá. Ele conhecia os segredos das plantas, sabia como se esconder e sempre ajudava quem precisava.
Malunguinho é uma figura central na religião Jurema, sendo a única entidade que pode ser invocada como Mestre, Caboclo e Exu. O enredo também presta tributo ao líder quilombola João Batista, conhecido como Malunguinho, que foi morto em 1835 pelas autoridades imperiais no Catucá, Pernambuco.
O carnaval de 2025 trará um toque místico, fruto da pesquisa do carnavalesco Paulo Zanon durante a pandemia, sobre o Catimbó, a Jurema e a planta Acácia, utilizada em rituais indígenas no Norte e Nordeste. Durante a comemoração pelo título de campeã de 2024, em um sítio em Jacarepaguá, cercado pela mata, uma densa fumaça começou a surgir inesperadamente, reforçando o vínculo simbólico com o enredo.
Agora, mesmo depois que sua vida na Terra terminou, Malunguinho se tornou um espírito poderoso. Ele é um zelador da floresta (caboclo da mata), um senhor da sabedoria (mestre juremeiro) e um protetor dos caminhos (guardião das encruzilhadas). Ele está presente nos rituais sagrados, onde as pessoas pedem sua força e proteção.
Veja o samba completo
A chave do cativeiro, virado no Exu Trunqueiro
Viradouro é catimbó, Viradouro é catimbó
Eu tenho corpo fechado, fechado tenho meu corpo
Porque nunca ando só, porque nunca ando só
Acenda tudo que for de acender
Deixa a fumaça entrar
Sobô nirê mafá, sobô nirê
Evoco, desperto nação coroada
Não temo o inimigo, galopo na estrada
A noite é abrigo
Transbordo a revolta dos mais oprimidos
Eu sou caboclo da Mata do Catucá
Eu sou pavor contra a tirania
Das matas, o Encantado
Cachimbo já foi facão amolado
Salve a raiz do Juremá
Ê juremeiro, curandeiro ó
Vinho da erva sagrada
Eu viro num gole só
Catiço sustenta o zeloso guardião
Trago a força da jurema
Não mexe comigo, não
Entre a vida e a morte, encantarias
Nas veredas da encruza, proteção
O estandarte da sorte é quem me guia
Alumia minha procissão
Do parlamento das tramas
Para os quilombos modernos
A quem do mal se proclama
Levo do céu pro inferno
Toca o alujá ligeiro, tem coco de gira pra ser invocado
Kaô, consagrado
Reis Malunguinho, encarnado
Pernambucano mensageiro bravio
O rei da mata que mata quem mata o Brasil
O rei da mata que mata quem mata o Brasil