Construtoras MRV, Tenda e Direcional pagavam a bandidos para não serem importunadas

Até companhias com capital aberto na Bolsa faziam pagamentos a criminosos narcotraficantes, segundo a revista Veja; as empresas negam o “mensalão das milícia”

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Foto: Fernando Frazão (Agência Brasil)

Formada por 16 bairros distribuídos em um território de quase 500 quilômetros quadrados e com mais de 1 milhão de habitantes, a Zona Oeste do Rio de Janeiro há anos convive com um regime de terror, opressão e extorsão de comerciantes e empresários que ali decidiram investir. As leis impostas, e que “devem” ser seguidas por parte da população local, são ditadas pela maior milícia do Brasil: o Bonde do Zinho – agregado supostamente composto por 500 policiais e ex-policiais que espalham o terror sem qualquer resquício de benevolência.

Atuando na Zona Oeste desde dos anos 2000, sob o poder da milícia o exercício de quase todas as atividades comerciais e empresariais só são possíveis com a autorização dos líderes da quadrilha que exigem o pagamento de generosíssimas cifras pelos favores que concedem. Conhecer o funcionamento de tamanha e complexa engrenagem sempre foi o objetivo da parte da polícia que prima pelo cumprimento da lei e pela segurança dos cidadãos. Uma equipe de reportagem da revista Veja nacional teve acesso, com exclusividade, à maior apreensão já realizada na contabilidade da horda de criminosos que barbarizam, de simples cidadãos a grandes grupos empresariais que atuam na região.

Foi a Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), através de um exímio serviço de inteligência liderado pelo delegado Marcos Amin, que rastreou e estourou o quartel-general dos bandidos, que fugiram do local. Lá, os policiais da DRE encontraram livros-caixa, 16 pen drives e um HD de computador. Uma primeira análise apontou um faturamento mensal de 30 milhões provenientes dos caixas de pequenos estabelecimentos, mas também de algumas das maiores empresas do ramo da construção civil nacional: MRV, Tenda e Direcional, todas companhias de capital aberto na bolsa, que teriam desembolsado um total de R$178.000 mensais para não serem prejudicadas; informação que consta como “entrada” na planilha da organização. Sob a rubrica “empreiteiros” estão registrados outros R$58.000. A MRV é controlada pelo mesmo grupo que controla a emissora de Tv a Cabo CNN Brasil.

Sob a condição de anonimato, um engenheiro da MRV disse à revista como é trabalhar na Zona Oeste: “Se não pagarmos, os bandidos implantam o horror e fica inviável tocar as obras.” Para evitar contatos ou atritos com o banditismo local, parte do empresariado cria estratégias de pagamentos mais discretos, usando as firmas de segurança terceirizadas já contratadas. Segundo a apuração da Veja, de tão corriqueiras, as extorsões já foram incorporadas aos custos das companhias. “As construtoras viraram reféns desse sistema”, disse o mesmo engenheiro ao veículo. De posse do importante e volumoso material apreendido, o delgado Amin enfatizou que tais empresas são vítimas de um crime e não criminosas, já que sofrem extorsão. Procuradas pela revista, as três construtoras negaram qualquer pagamento à milícia. Como se sabe, companhias de capital aberto devem ter regras de governança para proteger os investidores que compram suas ações de pagamentos ”sem nota”, e outras possíveis fraudes e crimes pagos com o caixa da companhia.

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O objetivo agora, segundo o Marcos Amin, é desbaratar e sufocar financeiramente os marginais. “Queremos saber quem está lavando esses recursos e vamos seguir o dinheiro”, afirmou o delegado, que ficou intrigado como o bando iria usar um galpão de 45.000 m² que estava sendo negociado por nada menos que 14 milhões de reais, na mesma Zona Oeste.

A documentação apreendida pela DRE mostrou ainda o emaranhado de práticas criminosas cometidas pelos milicianos, que não pouparam nem os bicheiros (!) que chegam a pagar 40.000 reais por mês para explorar as máquinas de caça-níqueis na região. Segundo o titular da DRE, outros crimes também são cometidos pela quadrilha, como: grilagem de terras, venda de gás, cigarros ilegais e internet clandestina, além da cobrança de “pedágios” de mototaxistas e motoristas de vans. Para levar à cabo tamanha atividade criminosa, os marginais montaram um impressionante arsenal composto por 39 fuzis, 20 deles do modelo AR-15, segundo uma lista encontrada pelos agentes da DRE.

A mente por trás de tamanha teia criminosa é Luis Antonio da Silva Braga, o Zinho, que substituiu o irmão e antigo chefe; Ecko, morto durante uma operação policial, em 2021. O Bonde do Zinho expandiu o seu domínio na Zona Oeste através de cooptação dos traficantes de drogas, marginais que os milicianos juravam combater para justificar a sua atuação. Atualmente, Zinho, que está em combate com um grupo dissidente, tenta expandir os seus negócios para outras cidades do Estado. A guerra por ele travada faz inocentes de vítimas.

Antes de Ecko, os irmãos Jerônimo Guimarães Filho (ex-vereador) e Natalino José Guimarães (ex-deputado estadual), comandavam a região sob Liga da Justiça, milícia desmantelada após a prisão dos dois políticos criminosos. Como demonstra o perfil dos líderes da Liga, não é somente pela força que o poder miliciano é imposto. Outra tática dos criminosos é escolher os políticos que vão representa-los nas casas legislativas, sendo que os escolhidos têm autorização exclusiva para fazer campanha política no território do grupo criminoso. “Nenhum político transita na região de uma milícia se não tiver o aval dos chefes”, disse o sociólogo José Cláudio Alves à revista Veja, na mesma reportagem que revelou o ”mensalão da milícia”.

Segundo um estudo conjunto realizado pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e pelo Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP), 57% do território no Rio de Janeiro já está dominado por tais grupos mafiosos. Com a operação da DRE, que apreendeu uma documentação importantíssima para entender e desbaratar a dinâmica de crimes praticados por tais organizações, começa-se a dar um passo rumo o estrangulamento do projeto de expansão das milícias, que devem ter suas lideranças presas e seus grupos de desarticulados, para que a tranquilidade e a civilidade possam voltar a imperar em parte da Zona Oeste do Rio de Janeiro.

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3 COMENTÁRIOS

  1. NÃO É NOVIDADE O MAPEAMENTO DO RJ PELA BANDIDAGEM
    AJA VISTO O HISTÓRIC O DA GESTÃO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
    GOVERNOS/ASSEMBLEIAS LEGISLATIVA/TRIBUNAL DE CONTAS : OMISSÕES
    CONIVÊNCIAS/JUSTIÇA FRACA ETC TUDO QUE NÃO PODERIA SER ADMITIDA
    PELA REPÚBLICA. QUIÇA TEREMOS AINDA, MAIS REGIÕES DOMINADAS EM
    MUITO BREVE PELA “LIGA DA JUSTIÇA”. VIDE EX. DANIEL SILVEIRA

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