Cracolândias se espalham pelo Rio e se tornam uma visão do cotidiano carioca

Da Zona Norte à Zona Sul, usuários de crack ocupam espaços e o poder público não toma atitudes

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Foto: Guito Moreto / Agência O Globo

Um problema que se tornou viral em, quase, todo Rio de Janeiro. Como um vírus que se dissemina rápido, o vício em drogas ilícitas, principalmente o Crack, atinge o Estado. A cena de uso da droga não é mais concentrada em um único ponto, se dispersou pela região, num processo de espalhamento no entorno de outras comunidades onde a substância é vendida pelos traficantes, como na Mangueira; no Cajueiro, em Madureira; ou na Bandeira Dois, entre Del Castilho e Maria da Graça, na Zona Norte.

Um transtorno que exige ações da saúde pública e segurança, já que as pessoas que estão nesta condição precisam da ajuda do estado, mesmo estando entregues à fissura do crack ainda são cidadãos. As sarjetas onde os usuários consomem a pedra continuam — e cada dia mais — à vista de todos, como constataram as equipes do GLOBO em 14 áreas da cidade na última semana. E se propagam também as consequências desse drama, com soluções ainda distantes.

Com copinhos plásticos e isqueiros nas mãos, nas proximidades do Morro da Providência, na Zona central da capital, havia usuários fumando crack em pontos como a Praça dos Estivadores, quase em frente ao Jardim Suspenso do Valongo, na boca do Túnel João Ricardo, perto da esquina com a Rua do Livramento, e próximo ao Terminal Rodoviário Américo Fontenelle. Na Mangueira, como acontece há anos, dezenas de usuários seguiam ocupando o acesso ao viaduto sobre a linha do trem na Rua Visconde de Niterói. No entanto, não se restringiam mais àquele trecho.

Grupos se drogavam ao lado do muro do metrô, perto do estádio do Maracanã, no acesso à Favela do Metrô e nas vizinhanças da Uerj. Do outro lado da linha do trem, jovens aqueciam incessantemente seus copinhos na Visconde de Niterói, próximo à estação Maracanã da SuperVia, enquanto outros consumiam o crack no terreno que serviu aos ensaios da abertura da Olimpíada do Rio, em 2016, hoje parte dele está tomado pela miséria em pequenos barracos de madeira e tecido.

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Já no limite entre Maria da Graça e Del Castilho, por anos usuários ocuparam uma quadra de esportes sob o Viaduto Emílio Baumgart, num acesso à Bandeira Dois. Nos últimos meses, a prefeitura do Rio os removeu do espaço, onde crianças jogavam futebol na noite da segunda-feira passada. Mas a cracolândia só se deslocou alguns passos. Ao lado da base do viaduto, transformada num vazadouro de lixo, usuários a todo momento se aproximavam de uma mulher sentada num sofá velho, se abasteciam com a droga e, segundos depois, começavam a delirar.

De acordo com uma moradora da Luísa Valê, que preferiu não se identificar, os trabalhos do poder publico em desocupar o local não tem efeitos, pois no dia seguinte os usuários estão de volta. E ainda segundo ela, o local está cada mais inseguro. “Os assaltos a pedestres têm crescido. E, onde moro, além de grades, investimos em mais cinco câmeras, além de termos reforçado a iluminação por causa da insegurança”, completou a moradora.

De dia, à noite, a qualquer hora, o fluxo do crack também não para no entorno das comunidades do Complexo da Maré. Empurrados à situação de rua, na Avenida Brasil, na altura do Parque União, alguns sobrevivem em camas e barracos sobre as pedras pontiagudas instaladas nos canteiros da via expressa, como uma arquitetura hostil justamente para afastá-los dali. Outros ocupam a pista do BRT próximo à Estação Maré.

Na Zona Sul, a presença da polícia tampouco intimida usuários nas imediações do Pavão-Pavãozinho, em Copacabana. No fim da noite de segunda-feira, uma viatura permanecia baseada na esquina da Rua Sá Ferreira com a Avenida Nossa Senhora de Copacabana. Em frente aos prédios da Sá Ferreira, um casal fumava crack andando pela calçada. Na Nossa Senhora de Copacabana, a menos de cem metros da patrulha, um homem fazia o mesmo, sentado na porta de uma loja fechada.

“É uma cena cotidiana. Passam turistas, camelôs vendem frutas, gente sobe e desce do morro e usuários de crack se drogam para quem quiser ver, principalmente à noite e de madrugada”, afirma um morador da Sá Ferreira.

No Jacarezinho, nem a implantação do programa Cidade Integrada, do governo do Rio, em fevereiro deste ano, inibiu a continuidade do tráfico do crack.

Em diversos pontos do Rio é possível ver e presenciar a miséria que o crack faz a vida de um usuário e dos moradores da região. Todos saem perdendo, principalmente o Estado.

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10 COMENTÁRIOS

  1. Toda vez que fico sabendo de desgraças como essa, dá vontade de espancar quem romantiza o uso dessas porcarias! o problema não vem de autoridade alguma e sim dessa cultura estrutural, bem porca e marginalizada e pra piorar tem parlamentares que são á favor de legalizar essas porcarias e o qual seria a solução que teriam eles pra contornar essa situação? eu adoraria saber, mas evidentemente que iriam apontar a culpa para seus opositores, sendo eles mesmos grande parte desse problema.

  2. Verdade, muito bem descrito o triste estado no Rio. Pra piorar, a população pobre ainda convive com a violência vindo de todos os lados, tráfico, milícia e polícia. A cada confronto, ou operação policial, vem junto a expectativa de que vidas inocentes – de adultos ou crianças – serão ceifadas. Toda semana tem a notícia de um jovem inocente morto, e o desespero da mãe e da família. Luto cotidiano na cidade maravilhosa, assaltada e dominada por máfias, e pela ignorância. As classes média e rica recolhidas nas suas bolhas, na medida do possível, com o incêndio se alastrando em volta. Esperança de que os próximos governos façam realmente algo para combater a pobreza, porque não há outra saída, que não seja comida, educação e saúde para todos.

  3. FOTOGRAFIA DE UM ESTADO FALIDO! Desemprego, desalento, baixa renda da maioria, concentração de renda na minoria, aumento do uso de drogas, violência, pobreza, miséria, desordem urbana, favelização descontrolada. Este é o estado do Rio de Janeiro. A elite explora e oprime. Classe média e trabalhadora segue sobrevivendo como pode, do empreendedorismo clandestino ao trabalho intermitente precarizado. Quem não se ajusta a esta crise estrutural vai nas drogas, do álcool as sintéticas de alto custo. Rico usa metanfetaminas, classe média vai de maconha a cocaína, e aos miseráveis sobra o crack. A destruição humana pelas drogas é um fenômeno mundial, complexo, afeto à saúde pública, mas que nos cenários de pobreza economicossocial se eleva a tal ponto, que se assemelha a barbárie e o caos. O RJ vive há décadas numa crise política, administrativa e econômica que nos levou a esta conjuntura distópica, que amedronta investidores, estimula a fuga de empresas e motiva todos os tipos de crimes. Somos a síntese de tudo que não se deve fazer numa sociedade organizada que quer se desenvolver.

    • Porque que em zonas rurais isso não acontece?
      Porque a única moeda que rola é a moeda do trabalho seja ele qual for.
      Lembro de uma cena que vi em Copacabana pessoas da assistência social tentando convencer moradores de rua a ir para o abrigo. Não o obtiveram sucesso. Sabe porque?

      Porque na rua não é difícil comer algo, dinheiro não é tão difícil ainda e ainda não precisa trabalhar.
      No abrigo tem regras.

      Tenho moral pra falar isso!

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