#CriseClimáticaNoRJ: Chuvas constantes e frio fora de época

Uma reclamação tomou conta das redes sociais de cariocas e fluminenses nos últimos meses: muita chuva e baixas temperaturas em um período do ano que deveria ser de sol e calor. Este é o primeiro tema da nova série de matérias do DIÁRIO DO RIO

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Foto: meramente ilustrativa

Uma reclamação tomou conta das redes sociais de cariocas e fluminenses nos últimos meses: muita chuva e baixas temperaturas em um período do ano que deveria ser de sol e calor. Este é o primeiro tema da nova série de matérias do DIÁRIO DO RIO: #CriseClimáticaNoRJ. A ideia é mostrar como as mudanças no clima já estão afetando a vida de quem mora nas cidades do estado do Rio de Janeiro.

Em outubro de 2021, choveu no Rio de Janeiro 41% a mais do que no mesmo período de 2020 e 70,1% acima da média para o mês desde o início da medição, em 1997. De acordo com o Centro de Operações da Prefeitura (COR), o índice pluviométrico foi de 151,4 em outubro de 2021, contra 107,7 mm em outubro de 2020. A média para meses de outubro é 89 mm. Os dados são do Sistema Alerta Rio, que registrou 26 dias com chuva em outubro deste ano, contra 17 dias no mesmo mês de 2020. Já era primavera, período de temperaturas mais altas e menos água caindo do céu.

“Esses desvios são menos perceptíveis, mas você já vai observando. Tem meses muito atípicos, que ficam mais chuvosos ou menos. Mas, inevitavelmente, a média da temperatura tem aumentado, sim, em todas as regiões do Estado do Rio”, explicou Sergio Margulis, matemático, doutor em economia ambiental pelo Imperial College, Londres, com vasta experiência na área e autor do livro “Mudanças do Clima: tudo o que você queria e não queria saber”.

Outubro de 2021 foi de temperatura muito abaixo do observado na mesma época do ano em 2020. A média das temperaturas máximas de 1 a 24 de outubro de 2020 foi de 28,5°C, 4,6°C acima da média das máximas no mesmo período de outubro de 2021.

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No Rio de Janeiro, o dia 20 de outubro de 2021 foi um dos mais frios do ano, com temperatura máxima de apenas 19,6°C, na região da estação meteorológica da Vila Militar, na Zona Oeste carioca. É uma temperatura muito baixa para os padrões normais da cidade do Rio de Janeiro em outubro.

A média das máximas de 1 a 24 de outubro de 2021 foi de 27,6°C, sendo que a média climatológica de temperatura máxima para este mês é de 28,2°C. Em 24 dias, o termômetro na Vila Militar marcou mais do que 30°C em apenas 8 dias. Em novembro de 2021, a situação climática e as reclamações dos moradores do Rio de Janeiro não foram diferentes.

“Não me lembro de um fim de ano tão chuvoso e tão frio nos últimos anos. Nem parece Rio de Janeiro”, desabafou Carolina Magalhães, moradora da cidade do Rio.

O verão, que começou em 21 de dezembro de 2021, é um período do ano com maior incidência de chuvas. No entanto, na atual estação tem chovido mais que o normal. Segundo o portal Climatempo, este atual verão brasileiro será de muita chuva e calor mais ameno para a estação, principalmente na região Sudeste, com destaque para Minas Gerais, estado que já está sendo afetado por fortes chuvas. O motivo é o fenômeno La Niña — caracterizado pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico.

Resultado das mudanças climáticas pelas quais o mundo vem passando, La Niña, no Brasil, provoca altas temperaturas maior ocorrência de secas no Sul. Chuvas mais fortes na Amazônia, o que leva ao aumento na vazão dos rios e enchentes. No Nordeste, também passa a chover mais e de forma mais abundante. No Sudeste e Centro-Oeste, os efeitos são imprevisíveis.

Os efeitos do La Niña e do El Niño, que vão de secas a inundações, de fortes chuvas a furacões, sempre dependem da área de oscilação. O El Niño é um fenômeno climático caracterizado pelo aquecimento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico, principalmente nas zonas equatoriais. O La Niña é o oposto. Com ele, os ventos alísios se intensificam e as águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial acabam se resfriando.

Por consequência de tudo isso, em meio ao mundial cenário de crise climática, são esperadas fortes chuvas para o Rio de Janeiro este ano, sobretudo em períodos que eram para ser de mais calor e pancadas rápidas de chuva. “Essas chuvas de 2022, principalmente para este verão que será muito chuvoso devido ao La Ninã, são muito perigosas para o Rio de Janeiro por conta da proximidade com o mar. Temos uma frente de contato com o oceano muito grande e ficamos muito expostos a essas correntes de ar”, afirma Christovam Barcellos, coordenador do Observatório de Clima e Saúde e vice-diretor de Pesquisa e Ensino do Icict/Fiocruz.

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Foto Cleomir Tavares / Diario do Rio

“As mudanças climáticas se manifestam de duas formas. Uma forma é a das mudanças lentas e graduais. A temperatura já está aumentando, mas ela vai aumentando ao longo dos anos. Nem sempre a gente percebe esse tipo de mudança. Elas são lentas e graduais, assim como a elevação do nível do mar, que é muito lenta. De um ano para o outro, a gente não consegue sentir isso. A gente percebe mais facilmente os grandes eventos extremos, como secas prolongadas, temperaturas muito altas ou níveis de precipitação muito altos que causam inundações ou deslizamentos. Esses, sim, são mais fáceis de a gente perceber. O Rio de Janeiro, em 2011, sofreu a maior tragédia climática da história do Brasil. Em termos de mortes diretas, foram os deslizamentos causados pelas chuvas extraordinárias na Região Serrana, morreram cerca de mil pessoas. Foi inesquecível e uma trágica consequência das mudanças do clima. Numa região que, por acaso, é bem florestada, mas mesmo assim tem limite na capacidade de resistir a tanta chuva”, detalha Sergio Margulis.

Na próxima matéria da série #CriseClimáticaNoRJ, vamos falar sobre a seca e as fortes chuvas na região Norte e Noroeste do estado do Rio de Janeiro.

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