Crítica: A melhor versão, O melhor pedaço de mim

A eficiência do texto de Júlia atualiza um tipo de dramaturgia do exagero, não escorrega para o caricato ao exibir como principal característica a necessária contenção

Advertisement
Receba notícias no WhatsApp

Sermos o nosso desejo, exercemos as nossas vontades poderia ser o ideal da vida. Mas, ao mesmo tempo, somos esmagados pelos valores sociais, culturais, familiares. A melhor versão”, texto inédito de Julia Spadaccini, trata dessa contradição, contando 50 anos da história de uma família mononuclear- pai, mãe e filho – com suas trajetórias contraditórias em busca de como conseguir equilibrar  desejo e segredo.

Utilizando o novo código que mistura o código do palco com o da narrativa audiovisual, A melhor versão  alcança  com a  direção mista de Luis Felipe Sá (visual) e Daniel Herz (teatro)  um resultado de altíssima qualidade. O filme, gravado na Cidade das Artes (Teatro de Câmara e Sala Eletroacústica), opta pela escolha de ângulos que ressaltam  aparência de construção inacabada- vidas  tristes, sem finalização.   A cinematografia em preto e branco  e a iluminação com um claro/escuro que apoiam os diálogos, contribuem para a mensagem de aridez e desolação .

O texto de Julia Spadaccini traz a memória de Nelson Rodrigues : o cotidiano da moldura da casa como o ambiente em que tudo começa, acaba e se encerra. Em 3 tempos, 1976, 1985 e 2020,  – Osmarindo/pai repressor (Armando Babaioff), Gilda/ a mãe abafada (Ana Paula) e Gilsinho/promessa a cumprir (Michel Blois),  conversam por monólogos com as palavras escolhidas para esconder e jamais revelar. O único diálogo são  as parcas e mal-sucedidas escapadas nos raros e eventuais contatos com o mundo exterior.

A eficiência do texto de Júlia atualiza um tipo de dramaturgia do exagero, não escorrega para o caricato ao exibir como principal característica a necessária contenção. E por isso as interpretações de Babaioff, Ana Paula e Michel são a clara expressão de uma qualidade do exercício de ator, sem  haver o destaque individual.  O equilíbrio entre direção, forma, conteúdo ,  texto e interpretação fazem com que fique claro que temos a nossa melhor versão quando conseguimos revelar, sobre nós mesmos, quando podemos e queremos, aquilo que não queremos mais esconder.

Advertisement
WhatsApp Image 2021 04 22 at 10.03.30 Crítica: A melhor versão, O melhor pedaço de mim

Serviço:
Disponível gratuitamente até 30 de maio na Plataforma Digital YouTube pelo link http://www.sympla.com.br/amelhorversao
Classificação Indicativa: 12 anos
Duração: 70 minutos (estimada)

Advertisement
Receba notícias no WhatsApp
entrar grupo whatsapp Crítica: A melhor versão, O melhor pedaço de mim
Nota
Direção
Texto
Cenário, figurino, iluminação
Atuação
Jornalista, publicitária, professora universitária de Comunicação, Doutora em Literatura, Bacharel em Direito, gestora cultural e de marcas. Mãe do João e do Chico, avó da Rosa e do Nuno. Com os olhos e os ouvidos sempre ligados no mundo e um nariz arrebitado que não abaixa por nada.
critica-a-melhor-versao-o-melhor-pedaco-de-mimA eficiência do texto de Júlia atualiza um tipo de dramaturgia do exagero, não escorrega para o caricato ao exibir como principal característica a necessária contenção
Advertisement

Comente

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui