Crítica de teatro: Urutu – Vem vem ver ver o circo de verdade

Cláudia Chaves fala sobre a peça que está em cartaz no estacionamento do CCBB

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Renato Rocha vêm avançando em seus últimos trabalhos no que, aprendi com o escritor Rubem Fonseca, se conceitua, desde o Século XIX, no Romantismo Alemão, como Gesamtkunstwerk, a obra de arte completa. As instalações, performances, trilha sonora, os textos, a aproximação com o público, na mistura do popular, do pop, do erudito e do folclórico formam um painel de diferentes dramaturgias, no qual, o fio narrativo se refere à própria encenação, mas também com o mundo em que vivemos, como cenário social, mas a subjetividade que decorre do que acontece.

Em Urutu, o circo montado no estacionamento do CCBB, com os jovens artistas da Escola de Circo e em Respira com os performers do grupo Nai, que Renato dirige, os experimentos se desenrolam de forma simultânea, caleidoscópio e mosaico, que ao mesmo tempo causam a melhor reflexão; aquela que vem da beleza, do envolvimento, da naturalidade das misturas, aparentemente improváveis, que acabam por contar uma história, ainda que nem linear e nem tradicional.

Urutu, para os povos originários é a cobra grande, símbolo da deglutição e da gestação, é o símbolo para comemorar os 200 anos de Independência e 100 anos da Semana de Arte Moderna. Tudo é antropofágico no sentido clássico. Os artistas são de circo, mas saem saltimbancos, atores e atrizes que reencenam a brasilidade. Os figurinos coloridos, criativos, alguns luxuosos, de Isaac Neves, expressam a fantasia dos trapezistas, equilibristas, até contorcionistas e por isso devolvem emoção na perícia.

A trilha sonora que começa de forma expressiva, com Villa- Lobos Trenzinho Caipira e não com a escolha óbvia de Floresta Amazônica, já anuncia o que veremos: Brasil na veia. Sem recursos banais, com o poema ‘O Bicho’, de Manuel Bandeira, como fio condutor. Urutu é uma experiência de encenação, são 2 horas de emoção, prazer, fantasia e total conscientização do papel da arte

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Respira, de curtíssima temporada, é da mesma ordem. As instalações, os próprios atores como escultura, o lixo, coisas usadas, misturados a materiais inusitados, plásticas, fantasias de bloco sujo, tudo é borrado, tudo tem uma marca. O Grupo NAI- Núcleo de Artes Integradas quebra qualquer possibilidade de quarta parede. Não existe palco e sim a arena por onde se deslocam e se transformam. E radicalizam quando transformam o que seria um momento de recepção em um trajeto de ação. Vamos todos, artistas e público, dançar como se não houvesse outro dia. Vai voltar aos palcos e quem viver, verá.


Serviço:
Local: Estacionamento do CCBB
Data: Quarta a domingo, às 19 h

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Jornalista, publicitária, professora universitária de Comunicação, Doutora em Literatura, Bacharel em Direito, gestora cultural e de marcas. Mãe do João e do Chico, avó da Rosa e do Nuno. Com os olhos e os ouvidos sempre ligados no mundo e um nariz arrebitado que não abaixa por nada.
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