Álvaro Tàllarico: Eu matei Sherazade no Teatro Ziembinski

Uma verdadeira viagem entre força e vulnerabilidade, Brasil e Líbano, literatura e teatro

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critica eu matei Sherazade
Carolina Chalita (divulgação)

Carolina Chalita protagoniza uma experiência contundente e visualmente impactante. Baseada na obra da autora libanesa, jornalista e poeta, Joumana Haddad, a montagem combina força poética, denúncia social e uma narrativa que desafia os estereótipos sobre o papel da mulher, tanto no Oriente quanto no Ocidente. A peça Eu Matei Sherazade, Confissões de uma Árabe em Fúria tem direção de Miwa Yanagizawa, que busca explorar ao máximo o potencial do monólogo e de Carolina, criando momentos de grande intensidade dramática.

A cena em que Chalita improvisa uma saia e parece se agigantar diante do público é um espetáculo à parte. Essa metáfora visual dialoga diretamente com a luta pela libertação feminina, destacando a força que emerge da fragilidade. Outro momento marcante ocorre quando a atriz rola pelo chão, recitando trechos de um clássico literário, numa demonstração de entrega e intensidade. A atuação impressiona numa mescla de beleza e força. É visceral.

Entetanto, o espetáculo Eu Matei Sherazade está longe de se limitar a um discurso expositivo; ele traduz em movimentos, expressões e sons uma denúncia contra a hipocrisia patriarcal. A cenografia funciona e é de uma criatividade interessante. Por exemplo, quando o ventilador faz os cabelos de Chalita esvoaçarem junto com o tecido enquanto ela fala, é pura poesia.

A forma como o texto exalta a literatura é eficiente também. O poder dos livros, da imaginação, da liberdade. Tudo isso é abraçado pela boa dramaturgia de Carolina Chalita e Miwa Yanagizawa.

Eu Matei Sherazade, Confissões de uma Árabe em Fúria é uma narrativa necessária

O texto adaptado por Carolina Chalita propõe uma releitura corajosa da figura de Sherazade, questionando o mito da insubmissão feminina atribuído à personagem de As Mil e Uma Noites. Nas palavras de Joumana Haddad, Sherazade não desafia o patriarcado; ela o perpetua, ao usar histórias como subterfúgio para sobreviver ao abuso de um sultão assassino. Essa crítica se entrelaça com a realidade das mulheres árabes e ocidentais, mostrando como o machismo transcende fronteiras culturais. Ao fim da apresentação que vi foi possível perceber algumas pessoas emocionadas.

Eu Matei Sherazade ganha ainda mais relevância ao aproximar essas reflexões da realidade brasileira. Até que ponto as mulheres no Brasil estão livres das mesmas estruturas opressoras que Haddad denuncia?

Aliás, é impossível não louvar e exaltar a trilha sonora – sonoplastia – ao vivo de Beto Lemos, a qual complementa essa imersão com excelência, pontuando momentos de reflexão e indignação. Ele está sempre atento e ajuda a envolver o público naquele mundo tão rico.

Comemorando 20 anos de carreira, Carolina Chalita realmente brilha em cena. Ela entrega uma interpretação intensa, emocional e multifacetada, viajando entre força e vulnerabilidade, Brasil e Líbano, de maneira impressionante. A atriz estabelece uma conexão direta com a plateia, em um turbilhão de emoções e ideias que vão do erotismo ao desconforto até a inspiração.

Eu Matei Sherazade fica em cartaz até 15 de dezembro no renovado – e lindo – Teatro Ziembinski, na Tijuca.

Serviço – Eu Matei Sherazade

Dias e horários: Sexta, às 20h | Sábado e domingo, às 19h
Teatro Ziembinski: R. Urbano Duarte – Tijuca, Rio de Janeiro
Ingressos: Rio Cultura
Valor: R$50,00 inteira | R$25,00 meia
Classificação: 14 anos

Ficha Técnica:

Livre adaptação de um livro de: Joumana Haddad

Dramaturgia: Carol Chalita e Miwa Yanagizawa
Idealização e Atuação: Carol Chalita
Direção: Miwa Yanagizawa
Direção Musical e Trilha Sonora Original: Beto Lemos
Cenografia: Constanza de Córdova
Figurino: Tereza Fournier
Costureira: Georgina Moallak Loureiro
Iluminadora: Nina Balbi e Pedro Carneiro
Operador de Luz: João Gaspary
Interlocução de Movimento: Laura Samy
Preparação Vocal: Sonia Dummont
Fotos: Vinícius Mouchizuki
Programação Visual: André Senna
Assessoria de Imprensa: Berê Biachi – Equipe D Comunicação
Produção Executiva: João Eizô Y Saboya
Direção de Produção: Sérgio Saboya e Silvio Batistela
Realização: M S Documenta Produções Artísticas e Jornalísticas

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