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Crítica literária: Política, traição e tequila

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Crítica literária: Política, traição e tequila

Em dezembro de 1936, o intelectual e ativista político Leon Trótski e sua mulher, Natalia Sedova, fugindo da perseguição de Stálin, embarcaram em Oslo no navio-petroleiro Ruth, com o objetivo de chegar ao México algumas semanas depois – a Cidade do México concedia asilo político às vítimas dos governos totalitários. É neste momento que tem início a narrativa de Frida e Trótski – a história de uma paixão secreta, romance escrito pelo tradutor, ensaísta e poeta francês Gérard de Cortanze. Aqui no Brasil, o livro foi lançado em 2018 pela editora Planeta, com tradução de André Telles.

Chegando ao México, Trótski e Natalia foram recebidos no porto de Tampico pelapintora Frida Kahlo. Ela e o marido, o também pintor Diego Rivera, hospedariam os fugitivos em sua famosa Casa Azul, enquanto os dois ficariam em outra propriedade.Com o passar do tempo, Frida e Trótski ficaram muito amigos e passaram a se encontrar com frequência no escritório da Casa Azul, cômodo onde ele trabalhava. Trótski se sentia atraído pela audácia e sede de viver de Frida, que faziam dela uma mulher de presença marcante, diferente de todas as outras:

“Naquele país onde a situação das mulheres, apesar da revolução, deixava nitidamente a desejar, mesmo nos meios mais favorecidos, onde só participavam para servir seu homem, e quase sempre permaneciam de pé durante os jantares, Frida despontava como uma formidável exceção.”

A pintora e o intelectual se envolveram e iniciaram um caso que durou seis meses. Trótski escrevia bilhetes e os entregava a Frida dentro de livros que ele recomendava que elalesse. Muitas vezes fazia isso na frente de Diego e Natalia.Para se encontrarem, os dois amantes fugiam para cidades vizinhas, deixando todos tensos com o sumiço de Trótski, em função de sua situação política. Frida sofria muito com as inúmeras traições de Diego e viu nesta relação uma forma de se vingar. Numa das passagens do romance, Frida e Trótski se encontram na casa de Cristina, irmã da pintora, com quem Diego tivera um caso – o caso que Frida achava mais difícil de superar:

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“(…) dessa vez gozava duplamente sua vingança: ia para a cama com o mentor intelectual do seu marido no apartamento da irmã que a traíra. Punia Diego e fazia um ato de resistência.”

Diego Rivera é retratado no livro como um homem mulherengo, desrespeitoso, inconveniente e vulgar. Suas atitudes causam muito sofrimento a Frida. A relação da pintora com ele alterna momentos de amor profundo e ódio extremo. Frida, apesar de sua personalidadeaudaz e beligerante, que a levava a também ter muitos amantes, mostra um comportamento autodestrutivo em sua relação com o marido:

“A vida sem Diego, ela tinha de reconhecer, era menos imprevisível, menos estimulante que os dias passados ao seu lado – a despeito de o preço que pagava por isso ser muito alto.”

Neste livro, de capítulos curtos, o autor optou por utilizar um narrador onisciente, que em alguns momentos insere pensamentos e sentimentos dos personagens em sua narração, como no trecho em que Frida vê uma pintura na qual Diego retrata uma de suas amantes:

“Frida sentiu subir nela uma raiva contida que estava prestes a explodir. Naquele afresco que deveria representar a cidadania comum a todos os habitantes das Américas, viam-se Diego e aquela puta da Paulette Goddard dando-se uma das mãos e com a outra abraçando a árvore do amor e da vida.”

O caso ente Frida e Trótski durou pouco, mas a história do livro continua até a morte de Frida, em 1954 – Trótski havia sido morto em agosto de 1940.Por ser uma história sobre o casal de amantes, os capítulos que se seguem à morte do intelectual são bem resumidos, quase corridos. Talvez não fossem necessários.

Gérard de Cortanze se inspirou em personagens e acontecimentos reais para escrever esta biografia romanceada. Sua pesquisa se baseou em biografias, cartas escritas por Frida e Trótski, além de notícias publicadas nos jornais da época.A história é repleta de elementos da cultura mexicana: os lugares, as cores, a culinária, a indumentária, as festas típicas.Uma narrativaque combina política, arte, amor, sedução, traiçãoe muitas festas – com pitadas de romance policial e relatos de viagens.

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Nota: 3,5(de 5)

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Livro: Frida e Trótski – a história de uma paixão secreta
Autor: Gérard de Cortanze
Editora: Planeta
Tradução: André Telles
Páginas: 288

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