Crítica teatral: Capiroto, Salve o Pobre Diabo

O texto é brilhante, pois vai, como uma cebola, descascando cada camada, e começa com o mito de fundação de nossa civilização ocidental até os dias atuais

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Foto: Julio Ricardo

Vivemos a era do cansaço. Da super exposição. Da obrigação de ter sucesso.

Agora, imagine o pobre Diabo, literalmente. Condenado a ser o mal, a jamais se dar bem, se o inimigo número um em uma sociedade que se alonga com valores há mais de 2 mil anos. Uma sociedade branca, masculina, patriarcal na qual se condena ao fogo do Inferno qualquer um que se contraponha ao que se é determinado como certo. É desse fato histórico, que Rodrigo França extrai a bela metáfora que se cristaliza em Capiroto, no Teatro Prudential.

Encarnado de forma envolvedora por Leandro Melo, em uma atuação que confirma que a alma do teatro é o ator, o monólogo historiciza o papel do Diabo que leva inúmeros nomes, entre os quais, Capiroto. O cenário , que apoia bem o texto, é composto por uma projeção em vitrais: e uma enorme mesa de vidro com o qual Leandro dialoga e ilustra aquilo que diz. A mesa serve de movimento e funciona como um segundo palco.

O texto é  brilhante, pois vai, como uma cebola, descascando cada camada, e começa com  o  mito de fundação de nossa civilização ocidental até os dias atuais. E em um texto divertido, cruel, dramático aponta com o dedo em riste de que maneira , encontrou-se na figura do Malévolo o contraponto para exercer a dominação dos valores masculinos que levam a tudo que é destrutivo: a escravidão, a perseguição às religiões, misoginia, transfobia, demofobia. E  o melhor do texto é evidenciar como tantas fobias, tantos cídios, advém da demonização que “os homens de bem” fazem com tudo o que lhes contraria e ameaça.

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Capiroto é uma peça, um texto, mas é também um manifesto. A esperança de ver a arte a serviço do que é sua missão. Mostrar com talento, grande no texto, enorme na atuação, o caminho para a tomada de consciência. E a alternância de humor, diálogo, ênfase, contação íntima de história transformam a hora e meia de pura fruição. Palmas ao mal, salve o Diabo que ele merece.

Serviço:
Teatro Prudential
R. do Russel, 804 – Glória, Rio de Janeiro – RJ, 22210-010Sexta e Sábado às 20h

Domingo às 19h
Plateia: R$ 80,00 (inteiro) e R$ 40,00 (meia entrada).
Plateia Lateral: R$ 50,00 (inteiro) e R$ 25,00 (meia entrada).
Lotação*: Originalmente de 359 (trezentos e cinquenta e nove) lugares. No No entanto, em respeito às regras sanitárias de prevenção contra o COVID-19, a CONTRATANTE permitirá acesso, apenas, a 116 (cento e dezesseis) lugares na área externa

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Nota
Direção
Texto
Cenário, figurino, iluminação
Atuação
Jornalista, publicitária, professora universitária de Comunicação, Doutora em Literatura, Bacharel em Direito, gestora cultural e de marcas. Mãe do João e do Chico, avó da Rosa e do Nuno. Com os olhos e os ouvidos sempre ligados no mundo e um nariz arrebitado que não abaixa por nada.
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